A cidade vai atravessar a rua. Depois de nascer e se estabelecer do lado oposto ao litoral, Paulo Lopes agora volta os olhos para a outra margem da BR-101. Antes protegida, a região teve cerca de 800 hectares desanexados do parque – cerca de 40% da área litorânea do município – e virou a peça-chave do crescimento. Em sete anos, por exemplo, o número de habitantes deve passar dos atuais 6,8 mil para 30 mil. Em 2030, deve alcançar os 83 mil habitantes, estima a prefeitura. Por isso é a que mais preocupa os ministérios públicos.
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Um megaempreendimento de iniciativa do empresário Carlos Gerdau Johannpeter – do Grupo Gerdau, um dos maiores conglomerados siderúrgicos do mundo – está na fila para alavancar o município e torná-lo quatro vezes maior. O foco é o entorno da Lagoa do Ribeirão, hoje desocupado e formado por banhados. Ali está previsto o nascimento de uma nova cidade, com aeroporto, centro administrativo e até universidade. O Plano Diretor, aprovado em 2010, permite a construção de prédios de até 15 pavimentos. Para suportar esse crescimento, a captação do esgoto doméstico e industrial ficaria por conta de um emissário submarino que levaria todos os dejetos ao oceano – da mesma forma que ocorre em Balneário Camboriú. O problema é que aquela região é protegida pela APA da Baleia Franca.
– Essa área é totalmente alagável por receber influência da maré. É supersensível e integra um complexo lagunar que vai até a Lagoa dos Patos. É um dos motivos que explicam o fato de Paulo Lopes ficar do outro lado da BR-101 – afirma a pesquisadora Morgana Eltz Henrich.
O prefeito Evandro João dos Santos (PMDB) diz não saber detalhes do projeto, mas é favorável a tudo que ajude a cidade a aumentar a baixa arrecadação. Santos não admite mais que ela continue como um dormitório da Grande Florianópolis.
– Apostamos no planejamento e em projetos sustentáveis para a região, no desenvolvimento e não no adensamento urbano descontrolado.
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O projeto urbanístico é guardado a sete chave pelos investidores que o criaram. O MPSC abrirá inquérito civil público para apurar o andamento do caso e descobrir o quê exatamente deve ser construído no local. O DC pediu acesso ao projeto, mas os responsáveis preferem manter o sigilo sobre a proposta até que o estudo de impacto ambiental – já em tramitação na Fatma – seja aprovado.