O escritor Paulo Coelho elogiou hoje as possibilidades que a internet abre à literatura e pediu que as editoras não vejam os novos meios como uma ameaça, se mostrando convencido de que o livro impresso durará pelo menos mais mil anos. Em discurso durante a entrevista coletiva de abertura da Feira do Livro de Frankfurt, Paulo Coelho contou suas experiências na web e também comparou as repercussões da revolução digital com a da época na qual Gutenberg, que inventou os tipos móveis, que deram um grande impulso à imprensa.
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– Nós devemos à nova técnica de impressão o fato de tornar possível a troca de idéias e refazer o mundo de acordo com estas idéias – declarou.
Paulo Coelho vê a evolução dos últimos dez anos – com o surgimento da internet e de novas plataformas para a difusão de idéias – como uma radicalização do processo de “democratização das idéias” iniciado por Gutenberg.
– Pouco a pouco as pessoas tomam consciência de que podem divulgar o que quiserem na rede, onde todos podem ver, e que são seus próprios diretores de programa – disse.
Na internet “as pessoas trocam sem custos tudo aquilo que é importante para elas e esperam que isto também seja possível com os produtos de comunicação de massa”, o que é crucial para as indústrias relacionadas ao mundo da cultura.
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O escritor brasileiro se mostrou convencido de que a indústria da música teve uma reação inicial equivocada e, ao invés de ver as possibilidades da evolução que estava vivendo, tentou impedi-la por meio dos tribunais:
– Em 2001, conseguiram fazer com que o Napster e outros sites fossem fechados. Tinham vencido uma batalha, mas não a guerra. Não podiam impedir que surgissem outros Peer-to-Peer que mantiveram hasteada a bandeira da troca gratuita.
O escritor considera que, em vez de recorrer a advogados, a indústria da música deveria ter procurado outra solução como, por exemplo, pedir o pagamento de 5 centavos por música baixada da internet. O setor editorial parece, segundo Coelho, mais “protegido” da internet do que a indústria da música ou a indústria cinematográfica, e isto se deve em boa parte à evolução tecnológica, que traz mais vantagens do que outros meios.
Para o escritor, a internet é, antes de tudo, uma possibilidade de difusão e um caminho para aumentar o número das pessoas que não lêem os textos apenas pela internet, mas que acabam, cedo ou tarde, recorrendo ao livro impresso.
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Paulo Coelho fala do tema a partir de sua própria experiência. Em 1999 seus livros enfrentavam sérios problemas de distribuição na Rússia, mas quando apareceu uma cópia pirata digital de O alquimista – que ele mesmo acabou reproduzindo em seu site – as vendas dispararam.