Paulo Cezar Nienow acordou cedo, como de costume, tomou café com a mulher, Iria, com quem comemorou dias atrás Bodas de Jaspe, pelos 47 anos de casamento, e foi até o Centro de Formação de Condutores Silva Flores, onde há 17 anos é instrutor de auto-escola. Pouco antes do meio-dia, passou a receber uma enxurrada de telefonemas, do código carioca 021, passando pelo mineiro 031 e chegando ao paulistano 011.

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– É o Tatu? É o Paulo Cezar Tatu?

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De repente, Paulo Cezar Tatu ficou conhecido Brasil afora, dando entrevistas para diversos jornais e TVs, como o armador do Caxias nos anos 1970.

Tudo porque um tal de Luiz Felipe Scolari, técnico da Seleção Brasileira e caroneiro do Fusca modelo 1969 de Tatu, nos tempos de Caxias, havia utilizado o pacato cidadão de São Sebastião do Caí como exemplo de baixinhos que fazem até gols de cabeça, devido ao bom posicionamento. A comparação foi feita quando Felipão respondeu sobre se exploraria jogadas de bola aérea – em virtude da baixa estatura do Chile, com média de 1m76cm.

– Joguei no Caxias por muitos anos e um dos melhores jogadores que eu conheci na bola aérea era o Paulo Cezar Tatu, que tinha 1m70cm de altura, que hoje mora ali na região do Caí. Ele sabia se posicionar. Olhava, se posicionava quietinho e fazia o gol. É preciso saber se posicionar. Não é preciso altura, mas ser inteligente, ter tempo de bola. Os jogadores do Chile têm um tempo de bola muito bom – disse Felipão, consagrando o amigo.

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Paulo Cezar Tatu (agachado, o segundo da esq. para a dir.) e Felipão (de pé, o segundo da dir. para a esq.) no time do Caxias, na década de 1970

Foto: Paulo Cezar Nienow/Arquivo Pessoal

De repente, o instrutor de autoescola ganhou seus minutos de fama.

– O Felipão virou a minha cabeça, estou muito nervoso. Até o SporTV virá aqui ao Caí me entrevistar. Os jornais do Rio já me ligaram – conta, ainda um tanto atordoado com os holofotes, Tatu.

Paulo Cezar jogou de setembro de 1973 a julho de 1980 no Caxias. O tempo todo teve Felipão na zaga de seus diversos times. Na defesa e no banco do passageiro. Tatu, assim apelidado pelo comentarista Lauro Quadros, descia de Caxias do Sul para São Sebastião do Caí com Felipão ao lado. Tatu ficava em casa e deixava o atual técnico da Seleção Brasileira na estação rodoviária. Felipão embaracava rumo a Porto Alegre, onde cursava a faculdade de Educação Física no Ipa.

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– Esta era a nossa rotina naquele tempo. Por dois anos, enquanto o Felipe estudou no Ipa, saíamos dos treinos e íamos falando sobre futebol até Caí. Tinha certeza de que ambos nos tornaríamos treinadores – recordou Tatu.

Por estas coisas da vida, Paulo Cezar desistiu de seguir a carreira no futebol. Parou de jogar em 1980 e, em suas palavras, “fui trabalhar”. Ganhava pouco como jogador, imaginou que o salário de técnico não seria muito melhor, e passou a ser instrutor de auto-escola. Hoje, dá aulas no CFC de seu filho, Jackson.

– Sou um instrutor muito chato. Sou o Felipão das autoescolas – brinca o Tatu de 67 anos.

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Mas por que Paulo Cezar virou Tatu?

– Foi o Lauro Quadros quem me apelidou assim. Porque eu me posicionava muito bem, me enfurnava pelos cantinhos, mesmo com 1m66cm de altura, passava à frente dos zagueiros, cabeceava e fazia gols – justifica o Fuleco de São Sebastião do Caí.

– Passei a chamá-lo de Tatu nas jornadas justamente porque ele era baixinho e procurava os buracos na defesa. Parecia um tatuzinho mesmo – conta o comentarista da Rádio Gaúcha Lauro Quadros.

Os tempos de dureza no Gauchão, quando o time inteiro do Caxias – incluindo Tatu e Felipão – precisou desembarcar do ônibus atolado no barro em Ijuí para chegar a tempo de enfrentar o São Luiz ou quando Felipão se negou a rachar um táxi com outros quatro jogadores do Caxias, em São Paulo, porque era mais barato ir a pé até o hotel, ficaram lá atrás. Felipão é uma figura do mundo, e Tatu, agora, foi redescoberto.

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– Felipe é uma figura… A última vez que falei com ele foi em dezembro, quando estivemos juntos no lançamento da camisa retrô do Caxias. Agradeço a referência que ele fez. Cada um tem o seu destino e torço muito por ele – diz Paulo Cezar.

Para Tatu, o caminho da vitória do Brasil sobre o Chile será a atenção total aos velozes e pequenos Vargas (1m75cm), Aránguiz (1m71cm) e Sanchez (1m69cm).

– O Felipão já falava no Chile desde o ano passado. Ele respeita muito essa equipe. Será uma pedreira. Vi os jogos do Chile, são rápidos e, apesar de baixos, se posicionam muito bem. Mesmo assim, aposto em 1 a 0 para o Brasil. Gol do Neymar, é claro, que parece ser o único que resolve na Seleção – finaliza o agora famoso Paulo Cezar Tatu.

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