O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, criticou hoje (11) a centralização do sistema de gestão da internet mundial nos Estados Unidos, ao falar no Senado Federal sobre as denúncias de espionagem do governo norte-americano sobre as comunicações digitais. Ele disse que aquele país resiste a propostas de mudança feitas por outros países, inclusive o Brasil.
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– Nós sempre defendemos que a internet seja regida por um organismo multilateral internacional e sempre criticamos o fato de a governança da internet ser absolutamente centralizada nos Estados Unidos, organizada por uma empresa privada norte-americana. Esse não é um mecanismo adequado para o grande ambiente de comunicação internacional que é a internet – disse Paulo Bernardo, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores.
– Em dezembro, tivemos reunião com uma delegação dos Estados Unidos. Eles argumentavam que isso [gestão partilhada da internet] poderia esconder uma tentativa de governos para controlar a internet. Isso nos foi dito por integrantes dos departamentos de Defesa e de Comércio dos Estados Unidos. Menos de seis meses depois, ficamos sabendo que o que eles diziam que poderia acontecer já estava ocorrendo, segundo as denúncias, há pelo menos sete anos – acrescentou o ministro.
Paulo Bernardo lembra que algo parecido já era feito durante a Guerra Fria, por meio de interceptações telefônicas. – Não vejo nada de anormal que um Estado queira manter um serviço de segurança na rede, mas fazer isso sacrificando o direito à privacidade e à inviolabilidade das correspondências não pode ser considerado algo normal e aceitável. Sabemos que existe, mas não achamos que devamos aceitar – acrescentou o ministro.
Segundo reportagens publicadas no jornal O Globo, as comunicações do Brasil estavam entre os focos prioritários de monitoramento do Prism, programa secreto de vigilância eletrônica mantido pela Agência Nacional de Segurança daquele país (NSA, na sigla em inglês).
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De acordo com as denúncias – feitas pelo norte-americano Edward Snowden, que trabalhava para uma empresa que prestava serviços à NSA – cidadãos brasileiros foram monitorados.
As reportagens dizem, ainda, que havia um escritório da NSA em parceria com a CIA, agência de inteligência norte-americana (CIA) em Brasília. O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, negou a veracidade das informações, mas se comprometeu a investigar as denúncias.
Senado terá CPI para investigar espionagem
O Senado terá uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a denúncia de espionagem norte-americana para monitorar e-mails e ligações telefônicas no Brasil. Com 41 assinaturas – 14 a mais que o mínimo necessário – o requerimento de criação da CPI, de autoria da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) foi lido na madrugada desta quinta-feira (11) no plenário da Casa.
A CPI terá 11 membros titulares e sete suplentes que terão 180 dias para investigar a denúncia, com o limite de despesa de R$ 280 mil.
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-A senadora Vanessa] Grazziotin conseguiu as assinaturas, que foram conferidas, e já há recursos previsto para as despesas da CPI. Isso é bom porque poderemos ter a investigação e as respostas que todos cobram – disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Para que a comissão seja instalada, o próximo passo é a indicação, pelos líderes dos partidos, dos nomes que vão compor a CPI. Segundo Vanessa Grazziotin, o processo deve ser rápido, mas com o início do recesso parlamentar na semana que vem, a instalação da comissão só será feita na volta dos trabalhos, no dia 1º de agosto.