Os quatro principais candidatos ao Governo do Estado foram convidados pelo Anexo a participar de uma sabatina sobre o setor cultural de SC. Representantes da classe artística enviaram perguntas relacionadas a temas como burocracia na destinação de recursos, editais públicos como o Elisabete Anderle (prêmio de fomento à cultura), projetos para teatro, dança, música, literatura, cinema e artes visuais. A equipe do Anexo também elaborou questões sobre a criação de uma secretaria própria (hoje a Cultura em SC está na mesma pasta que o Esporte e o Turismo), as propostas para uma política pública cultural e primeiras ações na área, caso sejam eleitos.
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Raimundo Colombo não compareceu
Afrânio Boppré (PSOL), Claudio Vignatti (PT) e Paulo Bauer (PSDB) aceitaram o convite. Raimundo Colombo (PSD) não quis participar, alegando incompatibilidade de agenda. O tempo estipulado para cada resposta foi de no máximo dois minutos.
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VÍDEO – Infográfico especial com perguntas e respostas dos candidatos
As propostas para cultura de Claudio Vignatti (PT)
As propostas para cultura de Afrânio Boppré (PSOL)
Aos demais candidatos foi pedido que gravassem um vídeo de até três minutos apresentando propostas para a Cultura. Participaram Gilmar Salgado (PSTU), Janaína Deitos (PPL) e Marlene Soccas (PCB). Elpídio Neves (PRP) não compareceu.
Confira as perguntas e respostas completas de Paulo Bauer:
1. SECRETARIA PRÓPRIA
Santa Catarina é um dos poucos Estados do Brasil que ainda não tem uma Secretaria de Cultura – divide a pasta com Turismo e Esporte. Qual será o posicionamento do seu governo sobre uma secretaria própria? Pergunta do Anexo
Nós temos uma secretaria de cultura aliada à secretaria de esporte e turismo. Mas nenhuma das três áreas é considerada e atendida com prioridade pelo governo. Não importa qual a estrutura que temos, o que importa é qual a prioridade e importância que damos para cada setor. A cultura vai merecer atenção e prioridade no nosso governo porque ela é sem duvida nenhuma uma das atividades que a sociedade pode desenvolver e pode contribuir muito com a formação cultural das pessoas, com a educação, com o turismo, com o desenvolvimento econômico, com todas as áreas. Nós vamos valorizar a produção cultural, vamos valorizar e viabilizar projetos que efetivamente contemple essa atividade importante no âmbito da sociedade. Cultura não é uma atividade que deve ser conduzida com olhos políticos, com olhos partidários. Tem que ser conduzida pelo talento das pessoas, pela sua disposição em contribuir com a formação histórica, com a formação da sociedade como um todo, tanto política, como social e econômica. Vamos fortalecer os projetos, as ações, desenvolver a cultura em todas as áreas do governo onde ela puder interagir. Vamos valorizar efetivamente o produtor cultural catarinense e as instituições, como Instituto Geográfico e Histórico, Academia Catarinense de Letras, Conselho Estadual de Cultura e a Fundação Catarinense de Cultura.
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2. POLÍTICAS PÚBLICAS CULTURAIS
Em países do chamado primeiro mundo, a cultura e a educação são os principais caminhos para o desenvolvimento, com políticas públicas consistentes e de longo prazo. Para o senhor, qual a importância da cultura em todas as suas manifestações para a sociedade e que peso ela terá em seu governo? Pergunta do Anexo
Ela terá sem duvida um peso relativo à expressão catarinense no contexto nacional e internacional. Temos aqui grandes exemplos de ações culturais que se destacaram ao longo da história. Temos Victor Meirelles, Cruz e Sousa, Balé Bolshoi, e manifestações culturais mais variadas nas artes, na musica, no teatro, na literatura. SC é um estado muito rico. O governo do estado tem q eu atuar para que a sociedade participe efetivamente de todas as ações. . Queremos que toda atividade cultural se desenvolva e seja promovida exatamente pela própria sociedade. O governo tem que ser apenas um organizador, incentivador, estimulador. A ação que o governo vai desenvolver terá que ser definida completamente pelo CEC, que é o órgão que reúne e agrega a representação de todos aqueles que atuam na área cultural. Muito importante que o governo destine recursos através de mecanismos legais e com critérios e com justiça de igualdade. Não podemos valorizar uma atividade cultural em detrimento da outra. É preciso uma política estadual de cultura que contemple todas as áreas em todas as regiões do Estado aí sim teremos resultados efetivos na educação, promoção da paz, promoção individual das pessoas.
3. PRIMEIRAS AÇÕES
Há alguns anos o setor cultural de Santa Catarina arrasta-se com projetos atrasados e a classe artística mostra-se insatisfeita com o pouco diálogo com os governos, com a burocracia para se conseguir recursos via Funcultural e a falta de clareza na destinação de recursos do mesmo fundo. Entre os projetos não concluídos, podemos citar o Centro Integrado de Cultura, que já recebeu R$ 17 milhões para a reforma e ainda precisa de obras na ala norte – onde está o Museu da Imagem e do Som, que está se deteriorando em razão de goteiras, e o Memorial Cruz e Sousa, que foi inaugurado e nunca utilizado. Se eleito, quais serão suas primeiras ações para o setor cultural? Pergunta do Anexo
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Primeiro vamos identificar uma pessoa competente, qualificada e que tenha liderança no meio para assumir a responsabilidade gestão da cultura em Santa Catarina. Não podemos conviver com o que termos hoje, uma constante troca de titulares na área de cultura, uma constante falta de diretriz política administrativa na área. Pretendo encontrar a melhor pessoa dentre os que promovem a cultura em SC para fazer a boa gestão. O CIC tem obra interminável por falta de gestão, por falta de prioridade. Sabemos que existem problemas que precisam ser resolvidos. Não é possível conviver com goteiras, com instalações precárias, numa área tão sensível que deve proteger acervos, valorizar obras que pertencem não ao governo, não a uma instituição que as guarda, mas pertencem à sociedade. Vamos valorizar a gestão da cultura, fazendo com que ela tenha a capacidade de resolução para os problemas apontados.
4. TEATRO
A lei do Funcultural vem se burocratizando cada vez mais ao longo dos anos e afastando os artistas de SC por conta da dificuldade na inscrição e na prestação de contas. Além disso, em 2013, a SOL foi autorizada a utilizar recursos do fundo para o custeio e a manutenção da FCC. Há intenção em revisar e desburocratizar a lei e ao mesmo tempo torná-la mais clara em relação à distribuição dos recursos? Cassio Correia, presidente da Federação Catarinense de Teatro (Fecate)
Desburocratizar é obrigatório. Precisamos fazê-lo, não só na cultura, mas em várias áreas do governo. O cidadão hoje está impedido de acessar a determinados programas do governo exatamente pela burocracia e não é diferente na cultura. Vamos fazer isso acontecer logo no início do governo. Segundo, o dinheiro que existe para a promoção da cultura não pode ser utilizado para o custeio das atividades administrativas e burocráticos da FCC. É precisamos que tenhamos os recursos identificados com clareza na direção dos projetos, dos prêmios, do financiamento e do incentivo que se dará para a produção cultural e a outra destinação para a manutenção deve vir de outra fonte e outra origem dentro do próprio governo. Tenho certeza que nos faremos que um grande trabalho na promoção e valorização dos projetos culturais, aliás, muitos deles há muito tempo sem serem editados, ou se praticados a cada ano, feitos em condições muito inferiores à sua expressão e à expressão cultural de Santa Catarina.
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5. LITERATURA
A situação do livro e da leitura não é nada animadora. A famosa Lei Grando (Lei 8.759, de 1992), que determina que o Estado compre livros de autores catarinenses como forma de incentivo e de fomento, praticamente nunca foi cumprida. O Prêmio Cruz e Sousa, que já foi um dos mais importantes do Brasil, também deixou de existir. As bibliotecas públicas estão praticamente sucateadas. Então, senhor candidato, qual a sua proposta para a questão do livro e da leitura em SC? E aproveitando, o que o senhor anda lendo?
Carlos Henrique Schroeder, escritor e organizador de feiras do livro no Estado
Estou lendo 1822, de Laurentino Gomes, neste momento não ando lendo muito porque falta tempo. Antes estava lendo 1808. Quando fui secretario de educação do governo do estado fui protagonista de uma decisão , compramos livros de literatura para que alunos levassem para casa, fizessem a leitura e repassassem aos familiares. Nós obedecemos a lei estadual, compramos livros muito importantes, Cruz e Sousa, Cristovam Tezza, Luiz Delfino. Portando no meu período se fez a maior compra de livros de autores catarinenses da história pelo poder público, ação que o atual governo não repetiu. Precisamos valorizar a leitura, porque ajuda acriança, ajuda o estudante a evoluir na sua escolaridade. E adquirir hábitos saudáveis. Com a leitura ele sonha, ele viaja, se coloca no mundo mais amplo, completo, um mundo de critica, de avaliações, de verdade e sonhos. Vamos fazer sim, um a grande ação valorizando o escritor catarinense e o livro de autores catarinenses. E sem duvida nenhuma as bibliotecas públicas e escolares merecerão nossa atenção e serão priorizadas.
6. MÚSICA
Os artistas têm dificuldades para produzir seus materiais (gravações de CDs, DVDs e videoclipes) e também de fazer com que eles cheguem à grande massa. Para possibilitar isso, poderiam ser criados mais espaços públicos de execução musical, editais que prestigiem a circulação e também fazer valer a Lei 8.748, de 2011, que obriga as rádios a tocarem 20% de música catarinense na sua programação. No seu governo, o que o candidato pretende fazer pela música de SC?
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Márcio Pimenta, produtor musical e idealizador/realizador do Prêmio da Música Catarinense
Penso que os grandes festivais que já aconteceram no passado poderiam ser reeditados. Temos condições de fazer com que em SC se realizem eventos para promover a música, a criatividade dos catarinenses. Faríamos em parceria com os artistas, com os municípios e com a iniciativa privada, por que não? É importante que o governo organize esse tipo de evento e a sociedade participe. Tenho certeza que o valor da música em nossa sociedade precisa ser ainda mais elevado e promovido. O governo do estado vai patrocinar e financiar a criação, a execução, a apresentação e os eventos nos quais a música catarinense esteja presente. Em decorrência disso teremos como reivindicar com que as emissoras de rádio façam a apresentação ainda maior em termos de tempo de musica catarinense. O fato de apenas constar na lei que deve executar 20% de toda a sua programação de músicas catarinenses cria dificuldade, porque precisamos produzir e mais e novas músicas, para que as emissoras de rádio não perdessem a audiência e a não perdessem a condição de oferecer bom serviço musical aos seus ouvintes.
7. DANÇA
SC é conhecida pelo investimento em festivais competitivos, na Escola do Balé Bolshoi e em escolas de danças folclóricas. Porém, há uma carência de ações que contemplem a diversidade e que entendam o setor como área de produção de conhecimento. Em nome do Cena 11, gostaria de saber: qual é a proposta dos candidatos em relação ao incentivo, à pesquisa e à investigação em dança (isso inclui a tramitação da graduação da Udesc, que já dura sete anos, a criação e a manutenção de companhias estáveis e o cumprimento da lei referente à realização anual do Edital Elisabete Anderle, que é o único edital de cultura do Estado)? Karin Serafin: assistente de direção, bailarina e figurinista do Grupo Cena 11 Cia de Dança
O edital Elisabete Anderle precisa ser recolocado na sua dimensão e grandeza. Eu fui amigo pessoal da Elisabete, eu sei da sua dedicação à cultura como ex-presidente da FCC. É um mecanismo que pode promover muito a cultura catarinense. Vamos estimulá-lo, reeditá-lo e ampliá-lo com certeza.
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Quanto à ação do governo do estado na área da dança, o curso da Udesc precisa avançar, sem dúvida nenhuma, não podemos aguardar mais tempo. É preciso que o estado foque e direcione a sua cobertura, o seu apoio e patrocínio para as diversas formas e eventos que envolvem a dança em Santa Catarina. A investigação, o estudo e a produção de espetáculos de dança é muito importante porque pode ser feito em qualquer lugar, em qualquer região por qualquer etnia e por qualquer grupo social. E se o estado, junto com as prefeituras, puder incentivar isso, sem duvida nenhuma vamos avançar muito e vamos ter a participação da sociedade de forma efetiva porque dança é bonito, dança é agradável, dança agrega todos, faz com que muitas pessoas tenham emprego e com que muitos equipamentos existentes, teatros, salões, ginásios tenham efetiva utilidade durante os finais de semana e todas as noites da semana. Tem áreas importantes do estado que ficam fechadas por falta de espetáculos, por falta de atividade cultural. A dança poderia muito bem preencher esse espaço com incentivo e estímulo do estado.
8. ARTES PLÁSTICAS
Considerando a importância das artes plásticas para a produção cultural de Santa Catarina, por que não existem políticas públicas de apoio a entidades representativas como o MASC, por exemplo, que além de realizar o Salão Victor Meirelles, poderia produzir mostras itinerantes e liderar o movimento no Estado?
Janga Neves, artista plástico e membro das associações Brasileira e Internacional de Críticos de Arte
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Primeiro é preciso organizar os artistas plásticos e convidá-los a participar de um grande programa, um grande projeto. Temos grandes talentos, grandes artistas, mas eles estão em atividade isolada. Cada um cuidando da sua produção, do seu negócio e da sua atividade. Precisamos unir a todos. O Masc é um instrumento importante para que se possa fazer isso. Nós deveríamos sim realizar e promover eventos e poderíamos utilizar a estrutura pública existente, a partir da escola, por exemplo. A escola é um grande elemento de contribuição com as artes, e poderia ser um caminho pelo qual iríamos fazer com que alunos e professores e todos os envolvidos com a escola tivessem mais contado, mais proximidade com a produção cultural principalmente nas artes plásticas. Tenho certeza que vamos ter a capacidade de reunir a todos, criar mecanismos de incentivo e de apoio e mais que isso, fazer com Santa Catarina inteira conheça melhor seus artistas, as suas obras e participe. Eu mesmo, por exemplo, na minha casa, no meu escritório, não tenho nenhuma obra de artista plástico que não seja catarinense. Eu tenho apenas obras de artistas catarinenses. É uma forma de valorizar a produção dos nossos artistas. Tenho certeza que isso pode ser difundido, isso pode ser uma prática de muita gente, valorizando e adquirindo a produção catarinense e com isso dando aos nossos artistas melhores condições de continuar e avançar na sua atividade.
9. CINEMA
A indústria audiovisual atingiu recentemente 0,46% do PIB brasileiro, ultrapassando as indústrias farmacêutica e têxtil. SC tem potência criativa e de profissionais, e o setor é bastante organizado com as entidades representativas de classe. Mesmo assim, os editais de cinema e audiovisual do nosso Estado deixam de ser cumpridos em diversos momentos. Que tipos de ações e de políticas a sua candidatura pretende implantar nesse novo cenário de crescimento?
Gabi Bresola, diretora da Cinemateca Catarinense ABD/SC, também em nome das entidades Sintracine, Santacine e da Setorial Audiovisual
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Vamos incrementar e executar os editais, que são muito importantes nesse setor para dar oportunidade aos produtores culturais. Também firmamos o compromisso, no Plano de Gestão, de oferecer apoio institucional a esses produtores nas áreas de literatura, música, artes plásticas, cinema e teatro. No meu governo, o Estado vai investir mais em Cultura, vamos disponibilizar mais recursos para o setor com o objetivo de fortalecer as instituições de gestão cultural, entre elas a Fundação Catarinense de Cultura e as ONGs, para avançarmos na valorização da cultura popular. A Cinemateca Catarinense é uma ONG importante no que diz respeito à produção audiovisual no Estado, mas existem muitas outras que também queremos ajudar. É importante destacar que a gestão da Cultura em meu mandato passará pela firmação de parcerias: com as universidades, o setor privado, as ONGs, os municípios e toda a sociedade que tiver interesse em alavancar a expressão cultural em Santa Catarina.