Quem acompanha um treino do Próspera na pré-temporada para a Série C do Campeonato Catarinense pode não acreditar que o clube acabou de voltar ao profissionalismo. Preparação física, avaliações individuais e coletivas dos jogadores cuidadosamente anotadas, prospecção de atletas no exterior, assessoria de imprensa e, desde o início desta semana, a cereja do bolo: o técnico Paulo César Baier, que tem a missão de recolocar o Time da Raça no mapa do futebol estadual.

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— É um profissional competente, reconhecido e vencedor, principalmente aqui na região de Criciúma – anunciou, empolgado, o presidente do Próspera, Dorval Arriola, no dia da chegada.

A chance do recomeço foi o que uniu os destinos de Paulo Baier e do Próspera. O ex-jogador que fez história no Tigre, participando dos títulos do Catarinense de 1998 e do Brasileiro da Série B de 2002, agora dá os primeiros passos da carreira de técnico no outro time profissional de Criciúma. O clube de um dos principais bairros da cidade volta ao profissionalismo 11 anos depois de ter disputado a elite do Campeonato Catarinense pela última vez.

A chegada de Baier foi na segunda-feira e, desde então, ele fez questão de aproveitar cada período disponível para treinar e avaliar a equipe.

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– Eu estou aqui conversando com vocês agora, mas já não vejo a hora de ir para o vestiário e começar o trabalho – admitiu o comandante.

Na terça-feira, o gramado do estádio Mário Balsini deu mostras de que precisava de um tempo de “repouso” para se recuperar. Para que o trabalho comandado por Baier não fosse prejudicado, a direção logo buscou alternativas. Desde quarta, o Próspera treinou no estádio Valmor Mário Guollo, em Cocal do Sul, cedido pela prefeitura do município vizinho.

Sob chuva, o professor comandou um treino coletivo usando todo o campo, que acabou em vitória dos “titulares” por 2 a 0, gols de Eduardo Semler e Carlos Gabriel.

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– Na hora do lateral, não pode dar espaço para o adversário respirar. Tem que apertar a marcação, tem que ir dois para roubar a bola – orientava Baier.

Ao mesmo tempo em que insistia que os jogadores não errassem passes fáceis, domínios de bola e tomassem as melhores decisões no campo ofensivo – assim como ele mesmo fazia dentro das quatro linhas –, Baier soube dosar a cobrança. Quando o goleiro soltou a bola nos pés de um atacante perto da pequena área e o jogador finalizou por cima do gol, o técnico minimizou o erro.

– O importante é que estava no lugar certo para aproveitar o rebote – contemporizou.

Depois do coletivo, nada de descanso. Um trabalho físico foi realizado no campo, ainda sob garoa.

Foco só no futebol

Até o ano passado, as atividades do Time da Raça ficaram limitadas à escolinha de futebol e eventuais competições de base. Por causa de pendências burocráticas, o Próspera não reunia as condições para disputar um campeonato profissional.

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– Isso ficou no passado. O Próspera está sem dívidas, com um estádio que atende a todos os requisitos de segurança e com patrocinadores que apoiam o clube. O único trabalho que temos agora é concentrar no futebol – comenta o gerente de futebol, Célio Rocha.

O elenco foi montado a partir da promoção de atletas do sub-20 do Próspera, com reforços pontuais de jogadores vindos de diversos clubes e até do exterior. O Campeonato Catarinense da Série C permite, no máximo, cinco jogadores com mais de 23 anos. A competição começa no dia 2 de setembro.

Divididos em dois grupos de quatro, os times jogam entre si em turno e returno. Os dois melhores de cada chave se classificam para a semifinal, também disputada em ida e volta, assim como a final. Apenas o campeão conquistará o acesso.

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Das minas de carvão para o gramado

O Esporte Clube Próspera foi fundado em 1946 para ser o braço esportivo da Carbonífera Próspera. Na época, o futebol era a distração da massa operária das minas de carvão de Criciúma. Os principais rivais do Próspera eram o Metropol e o Atlético Operário, criados pelos mineiros das carboníferas Metropolitana e CBCA, respectivamente.

Um ano depois da fundação do Próspera, surgiu na área central da cidade o Comerciário Esporte Clube, primeira força futebolística de Criciúma que não teve as origens no subsolo, mas do comércio local. Em 1978, o Comerciário mudava de identidade para carregar o nome da cidade, unir as torcidas rivais e se tornar o principal clube do Sul de Santa Catarina.

Os clubes disputavam todos os anos o campeonato regional da Liga Atlética da Região Mineira (Larm), criada em 1948, também envolvendo times dos municípios vizinhos. O Próspera foi campeão duas vezes, em 1962 e 1964.

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A Larm ainda é um dos principais expoentes do futebol amador de Santa Catarina. Das últimas dez edições do Campeonato Catarinense Não-Profissional, times vinculados à liga foram campeões em cinco ocasiões e vice em duas.

ENTREVISTA: “É importante para Criciúma ter dois clubes”

Como estão esses primeiros dias de volta a Criciúma?

Está legal, estou muito satisfeito com essa oportunidade. Já trabalhei no Toledo e agora estou aqui. É um time jovem e estamos reestruturando o Próspera. Vejo que estou conseguindo agregar muito. Sou grato à cidade de Criciúma e aos torcedores, com quem tenho um carinho muito grande. Espero que eles também nos incentivem. Tenho certeza que o Próspera vai fazer um grande campeonato.

Sua primeira experiência no Toledo foi boa?

Foi ótima. Conseguimos chegar ao mata-mata duas vezes. Não conseguimos classificar entre os quatro, mas tivemos duas oportunidades para chegar. Dentro das limitações, foi uma campanha muito boa, até porque antes o Toledo tinha caído (no Campeonato Paranaense), ganhou na Justiça e, enfim, o torcedor estava desanimado. A gente conseguiu dar uma levantada. Foi um bom trabalho.

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Como foi a adaptação à função de técnico?

Mudou um pouco, foi meio estranho isso. Agora, já estou acostumado. No meu primeiro trabalho, tinha um certo receio de chegar e conversar com os jogadores, cobrar. Agora estou mais tranquilo, já estabeleci uma base do que eu quero. Costumo orientar, sou muito exigente no que faço, cobro muito profissionalismo. Já era assim quando eu jogava e vou seguir nessa linha.

Quais os planos para o futuro?

Meu objetivo agora é todo aqui, quero fazer um bom trabalho. Vamos fazer de tudo para colocar o Próspera uma divisão acima e espero que o clube consiga progredir. É importante para uma cidade como Criciúma ter dois clubes podendo crescer. Claro que cada um dentro da sua proporção. Estamos trabalhando e ajudando a direção, que está muito interessada em montar um time bom para subir.

Quem são suas referências no futebol?

Eu sempre falo que o Tite, no Palmeiras, foi um cara que me ajudou bastante. O Geninho, que está no Avaí agora, é um cara sensacional. Eu aprendi muito com ele. O Vagner Mancini me ajudou muito no Atlético Paranaense. Também posso citar outros, como o Antônio Lopes, Celso Roth. A gente tira um pouquinho de cada um. Vou por essa linha, pouco a pouco impondo o jeito como eu quero que os jogadores se comportem dentro de campo.

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Como você avalia o futebol brasileiro hoje em relação ao resto do mundo?

Acho que o futebol brasileiro é o melhor do mundo. Ainda apresenta vários valores e está evoluindo cada vez mais. Os outros centros estão querendo chegar, mas o futebol brasileiro ainda está em primeiro lugar.

Nas horas de folga, você prefere assistir futebol ou se distrair com outra coisa?

Assisto futebol. Praticamente vivo o futebol. A gente aprende assim, analisando táticas, vendo o que funciona. O futebol não tem muito mistério. É os jogadores comprarem a ideia do técnico, colocar a bola na rede, vencer. Vou trabalhar muito para isso acontecer aqui no Próspera.

E o que já se pode avaliar do início de trabalho no Próspera?

É um time jovem, estamos trabalhando com o sub-23 e virão alguns atletas que indiquei. Logicamente, a gente precisa de jogadores mais experientes nessa competição, que é muito dura. Só sobe um, temos que nos preparar muito. A condição que o Próspera nos dá é boa, estamos trabalhando muito, em dois períodos, e esperamos chegar bem para o campeonato.

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