As casas do Congresso derrubam todas as reformas políticas comprometidas com a justa representação – e os seus dois “patrões”, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, transformam o Poder Legislativo em refém de seus “prontuários”. Dizem-se “perseguidos” pela Operação Lava-Jato e estão prontos pra se vingar do… Brasil.

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Coitado do cidadão brasileiro: vive em crise perpétua, espécie de câmara de tortura econômica, “pau de arara” financeiro em que o dinheiro é sempre escasso e o juro é sempre alto. E ainda tem que aturar esse bizarro “patronato” político.

As crises chegam em ondas – tubos de cristal líquidos, enormes, densas colunas de água descendo sobre a moleira dos surfistas.

Ele mesmo, o cidadão brasileiro, já anda tão acostumado a viver em crise que nem se espanta mais com aquelas “castas” de marajás encasteladas em “enclaves suíços”, como certos servidores do Legislativo e do Judiciário. Nesses nichos, a vida é bem melhor do que a do “brasileiro médio”, que vive ao relento.

A seu favor, o brasileiro tem a criatividade. Aquela mesma que tem levado algumas padarias a fabricarem pão sem trigo e sem fermento. Mas com bromato.

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O resultado é o triunfo dos falsos produtos, como se já tivéssemos nos transformado num gigantesco Paraguai. Gasolina misturada com solvente. Omelete sem ovo. Vinho sem uva. Tutu à mineira sem feijão. Chope sem colarinho. Estrume sem cocô. E Letras do Tesouro sem valor.

Empobrecido, o brasileiro começa empenhando suas coisas. A aliança. O relógio. Um colar. O anel de noivado. E passa a oferecer qualquer “coisa” nos cadernos de “Desclassificados do Millôr”, como a seguinte oferta macabra:

– Vende-se brinco de ouro 18 quilates. Com a orelha da sogra junto.

Apertados pela crise, alguns empresários de São Paulo conseguiram na Justiça uma liminar para pagar salários em “espécie”. Não em Reais, mas em produtos de suas fábricas. Os ainda empregados levariam pra casa, à guisa de salário, macarrão de uma fábrica de massas. Com duas nítidas vantagens: ninguém passaria fome e o produto não encalharia…

Se a moda pega, teríamos fábricas de “lingerie” pagando salário com calcinhas e sutiãs. Protéticos pagando com dentaduras, médicos com receitas, advogados com pareceres, padres com missas e batizados e os cachorros com três latidos.

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E os cronistas… – perdoem-me – pagariam com crônicas como esta.

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