Ideias não faltaram para utilizar o antigo prédio da Escola Estadual Germano Timm, em Joinville. Desativado há uma década, desde que uma nova construção foi inaugurada no terreno ao lado para a instituição de ensino, o imóvel foi protagonista de diferentes planejamentos e quase virou uma escola de artes e a sede de um curso de graduação, mas, na última semana, voltou a ser apenas o que pode ser visto por quem passa pela calçada na rua Orestes Guimarães: uma edificação que está se deteriorando com o tempo.
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Há seis anos, a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) havia assumido a tarefa de dar nova vida ao local e, para isso, o Governo do Estado chegou a abrir mão do imóvel e seu entorno para doá-lo à universidade. Os entraves para restaurar o prédio, no entanto, fizeram com que as obras nunca tivessem início e, agora, é a Udesc que abre mão do local e o devolve para o poder público.
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Com projeto de restauro concluído, a obra tem valor estimado em R$ 1.771.478,56 para restaurar e reformar os 821 metros quadrados do imóvel e ampliar em 74 metros quadrados. Em 2013, quando a criação de um curso de graduação em dança foi anunciado pela Udesc para também ocorrer no local, o Governo do Estado anunciou que o Pacto pela Educação garantia R$ 2,5 milhões para o restauro.
Fundada em 1935, a Escola Germano Timm é o segundo colégio estadual mais antigo de Santa Catarina. Sua edificação tem o formato dos grupos escolares tradicionais do período, construída em formato de “U”, e ela é tombada como patrimônio histórico de Joinville. Por isso, o imóvel precisa de restauro específico, o que encarece as obras e, principalmente, trava na contratação da empresa: por duas vezes foram abertas licitações com editais de mais de R$ 1 milhão.
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Na primeira, nenhum inscrito foi considerado qualificado para assumir o trabalho. A segunda, no início de 2015, contemplou uma empresa, mas a secretária de desenvolvimento regional Simone Schramm afirma que as obras não começaram porque não havia sinal de que o curso de dança sairia do papel.
– Eduardo Deschamps (Secretário do Estado da Educação) enviou recurso descentralizado para a reforma do prédio, mas ela estava atrelada ao início das aulas do curso de graduação em dança, que não tinha data para começar – afirma Simone.
A secretária afirma que foi o vice-reitor Leandro Zvirtes que, antes de deixar o cargo de diretor-geral da unidade em Joinville, neste mês, anunciou informalmente que não poderia mais deixar o prédio reservado para a universidade, já que os orçamentos de 2016 e 2017 não seriam suficientes para abrir o curso.
Segundo a reitoria da Udesc, que se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa, foi a Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Joinville que solicitou a devolução do prédio para que outro órgão público o ocupe. A Defensoria Pública teria demonstrado interesse e, segundo a ADR, há também a possibilidade de instalação da Gerência Regional de Educação (Gered) no local. No entanto, a agência alega que neste momento não há recursos para dar início às obras.
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Chance perdida para as artes
A primeira opção sugerida para o prédio foi tornar-se sede temporária da UFSC. Depois, abrigar a Escola Livre de Artes. Um novo uso para o prédio foi anunciado em agosto de 2013, com a divulgação do projeto para criação do curso de graduação em dança na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
Ele estava previsto para começar após o vestibular de inverno de 2014 e o Governo do Estado afirmou que disponibilizaria mais R$ 4,4 milhões – um aumento de 0,04% no repasse que é dado anualmente para a Udesc – para que a criação do curso fosse possível.
Com a devolução do prédio, a ausência da execução deste projeto três anos depois do anúncio torna-se óbvia. Ele ainda não tem data para sair do papel, assim como a verba prometida pelo Estado, que nunca chegou à instituição de ensino.
Segundo a secretária Simone Schramm, a proposta do Governo do Estado era para que o curso ocorresse em Joinville, mas o Conselho da Udesc exigiu que ele também fosse oferecido em Florianópolis, o que foge do orçamento previsto. Sem acordo, o repasse também não ocorre.
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Já a Udesc afirma que, mesmo sem prédio, o curso continua nos planos, mas sem data para ter início. Enquanto isso, a Escola Livre de Artes funciona em um prédio na rua Otto Boehm, de forma quase sazonal.
– Ninguém desistiu do curso de dança – afirma a diretora geral da Udesc Joinville, Fabíola Viel, que atua como interina até a eleição e posse do novo diretor-geral, em junho – O projeto pedagógico já está pronto, mas o curso fica em stand by até que possa ser incluído no orçamento.
Expectativas de uma década
2006
Um novo prédio para a Escola Estadual Germano Timm é inaugurado e a antiga sede, construída em 1935, é desativada. Nos planos do projeto de revitalização, a antiga escola seria restaurada e abrigaria as salas de apoio pedagógico, de direção, laboratórios de informática e uma sala para alunos com necessidades especiais.
2007
A Vigilância Sanitária interdita o imóvel.
Abril de 2009
Prédio é considerado como sede temporária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Prefeitura de Joinville, Governo do Estado e UFSC encomendam projeto de restauro e construção de banheiros externos.
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Maio de 2009
Após o projeto de restauro ficar pronto, Governo do Estado anuncia que não poderá utilizar a verba prevista para estas obras, já que o orçamento era para a educação básica e não para o ensino superior.
Agosto de 2009
Prédio da EE Germano Timm é cogitado para abrigar uma das filiais da Escola de Artes de Florença, projeto iniciado pelo então governador Luiz Henrique da Silveira com uma instituição italiana. Seis meses depois, o local é descartado, para voltar à pauta das negociações em agosto de 2010.
Novembro de 2010
Governo do Estado desiste do projeto de abrir filiais da Escola de Artes de Florença, depois de dois anos de negociações e R$ 300 mil investidos em passagens aéreas, hospedagens e consultorias. No lugar, seria criada a Secretaria de Arte e Cultura (Saci-J). Dias depois, a reitoria da Udesc afirma que convênio ainda era considerado, mas no formato de uma Escola Livre de Artes.
Maio de 2011
Udesc anuncia início do processo de implantação da Escola Livre de Artes. O projeto de restauro da Escola Germano Timm foi apresentado à Fundação Cultural: a ideia era fazer primeiro uma reforma estrutural e, depois, adaptar as instalações para os ateliês da escola de artes. Investimento previsto era de R$ 640 mil, em parceria do Governo do Estado e da Udesc.
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Maio de 2012
Foco inicial da Escola Livre de Artes – aulas no contraturno para crianças de até 14 anos – é modificado para instituição ser local de formação de professores de artes.
Setembro de 2012
Pronto há pelo menos três meses, o edital de R$ 1 milhão para restauro do imóvel é publicado, mas prazo se encerra sem que as cinco empresas inscritas atendam aos requisitos da comissão de licitações da Udesc. Avaliação era que nenhuma tinha qualificação técnica e experiência prévia para o restauro.
Julho de 2013
Secretaria de Desenvolvimento Regional e Udesc firmam acordo para restauro do imóvel. Investimento passa a ser de R$ 3,5 milhões.
Agosto de 2013
Governo do Estado anuncia que aumentará o repasse para a Udesc em 0,04%, o que significava R$ 4,4 milhões ao ano, permitindo a criação do curso de graduação em dança em Joinville. Com acordo, Estado doa definitivamente a área do imóvel para a Udesc. Pacto pela Educação garante R$ 2,5 milhões para restauro.
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Janeiro de 2015
No mês em que a Escola Estadual Germano Timm completava 80 anos, nova licitação para restauro do prédio é aberta. Uma empresa é escolhida, mas obras nunca começaram.
Abril de 2016
Udesc desiste do restauro do imóvel e devolve o prédio para o Governo do Estado. Formalização da devolução deve ocorrer em junho, quando novo diretor-geral da unidade joinvilense da universidade assumir o cargo.