As situações e experiências que um filho viveu com sua família afetam diretamente o seu comportamento quando ele se torna pai. Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, o psicólogo Rubens Maciel estudou quais as experiências típicas vividas pelo homem que espera seu primeiro filho. Segundo ele, a paternidade é um assunto muito pouco abordado em teses, especialmente do ponto de vista da psicanálise.
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– Esses estudos são escassos, não há especialistas no assunto – relata.
A tese de doutorado Experiências psíquicas do homem à espera da paternidade foi apresentada na FSP depois de uma ano e meio de pesquisas. Para fazer uma análise completa do comportamento de quatro pais com idade entre 25 e 40 anos, todos com relacionamento estável e residentes na cidade de São Paulo, Maciel se utilizou de três categorias. A primeira delas é o patrimônio afetivo, que, segundo o psicólogo, são os valores que a criança aprende com seus familiares.
– Tolerância, sensibilidade, interesse verdadeiro, amor e consideração são alguns deles. Caso uma criança tenha vindo de uma gravidez indesejada e tenha interrompido projetos do casal, ela poderá receber dos pais um patrimônio afetivo negativo – aponta.
O pesquisador alega que esse patrimônio dará à criança a percepção de como será recebida na sociedade. A segunda categoria é a responsabilidade, que em relação aos filhos, exige maturidade e estrutura emocional. E a terceira, é o que Maciel chama de desejo inconsciente.
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Esse será o diferencial entre os pais mais maduros e os mais imaturos, já que é nessa categoria que o psicólogo mostra o quão importante é a infância do homem que, em breve, será pai.
-Entrevistei homens que são tão carentes e que tiveram pais tão distantes que aquilo se tornou uma marca para eles. Eles eram homens que se tornariam pais, mas que ainda eram infantis, carentes e desejosos de amor.
Erros e incertezas
A pesquisa também apontou que cada história de vida gera uma individualidade. Nos casos, em que a vida familiar foi turbulenta e em que havia conflitos entre os pais, o homem se mostrava menos preparado para lidar com as exigências da paternidade.
– Os que possuíam essa identidade apresentavam muito mais ansiedades e incertezas. Houve um caso de um homem que não conheceu seu pai. Na entrevista, ele disse que só sabia o que era ser pai sob o ponto de vista sócio-cultural, mas que não sabia como exercer essa função – conta o psicólogo. Já os que tiveram uma vida familiar menos conturbada apresentaram uma personalidade mais sólida e se mostravam mais preparados para desempenhar o papel de pai.
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Houve, no estudo, a constatação de que alguns pais também possuíam um sentimento messiânico em relação aos filhos.
– Esses pais creem que, no futuro a paternidade lhes trará um estado de grande satisfação, que os salvará de seus problemas e frustrações atuais. Eles acreditam que o filho será a salvação do casamento, o motivo de orgulho e felicidade da união. Essas expectativas não correspondem à realidade.
Em seu estudo, Maciel ainda avalia que a gravidez também é um momento sensível para o homem não só pela paternidade, mas pela disputa de atenção que o filho pode proporcionar. Segundo o pesquisador, os homens, em maior ou menor grau, sempre se sentem frustrados e ameaçados pela presença de um bebê.
– Isso acontece em maior grau nos pais mais imaturos, que têm dúvidas em relação à paternidade – conta.
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