“Estive preso e vieste me visitar”. Compreendendo o verdadeiro espírito de Natal, um grupo de voluntários se despiu de preconceito, arregaçou as mangas e seguiu à risca os versículos de Mateus na Bíblia, usados como lema da Pastoral Carcerária. Durante dois dias eles entregaram kits de Natal com guloseimas e mensagens de esperança e incentivo para quatro mil encarcerados da Grande Florianópolis.
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A iniciativa da Pastoral Carcerária vai além do assistencialismo. O objetivo é levar um pouco de dignidade aos presos e promover a consciência coletiva. A cada janela que se abria na porta das celas, olhares desconfiados apareciam, e em pouco tempo se transformavam em sorrisos e palavras de agradecimentos.
– Vou guardar para quando minha filha pequena vier me visitar – disse um dos presos. Uma banda de músicos acompanhou a ação, entoando canções natalinas.
Os irmãos gêmeos Pedro e Samuel Pivatto, 19 anos, atenderam o chamado da vó, Leila Pivatto, e levaram seu talento com os instrumentos para dar ritmo às canções natalinas:
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– Foi a primeira vez que estivemos aqui e com certeza é uma experiência que valeu muito a pena. Não custa nada dar um pouco do nosso tempo para fazer uma visita – falou Samuel.
Durante a entrega no Complexo Penitenciário da Agronômica na manhã de quarta-feira, foram muitos momentos de emoção entre os presos e participantes da ação. Na passagem pela estrutura de contêineres da Central de Observação e Triagem (COT), os voluntários precisavam se abaixar para entregar os kits e os presos agradeceram rezando um Pai Nosso. A banda também tocou Parabéns para um dos detentos que estava de aniversário.
Além de doces, os kits vieram com uma mensagem. Um pequeno papel que representa muito para quem está privado da liberdade, vivendo em condições questionáveis. Márcia Maria de Oliveira Veiga, presidente da Associação Beneficente São Dimas (Asbedim) – mantenedora das obras sociais da Pastoral Carcerária – destaca a importância do trabalho realizado:
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– É uma questão de humanidade. Quando escuto pessoas intolerantes eu tento argumentar, pois em seis anos de trabalho na Pastoral, já vi muitos detentos se ressocializarem porque tiveram uma oportunidade – conta.
Voluntários tiveram experiência dieferente
Acostumada com obras sociais com os doentes do Hospital Universitário, a aposentada Ana Maria Dutra aceitou o convite para participar da ação no Complexo Penitenciário. Antes da entrega, estava um pouco ansiosa por não conhecer a situação, mas no final saiu realizada:
– É uma obra de misericórdia. Vim trazer minha presença sem julgamento. Foi muito significativo e pretendo voltar outras vezes – declarou.
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O seminarista Edimar Blaskowsky, 26 anos, conta que trabalhar com os presos deu um novo sentido à sua vida, mudando seu olhar para o mundo e fazendo com que valorize ainda mais a liberdade:
– Eu cresci ouvindo que quem está na cadeia não presta, merece sofrer. Mas quando comecei a trabalhar na pastoral carcerária mudei minha visão ao entender que cada pessoa tem uma história, um contexto de vida. Ninguém faz uma escolha de ficar preso.
Duas vezes por semana a voluntária Beatriz de Lima Goulart visita o Presídio Feminino e a Central de Triagem. Com a experiência dos seus 74 anos, ela enfatiza que não cabe a nós julgarmos:
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– Todos nós erramos e Deus tem misericórdia da gente. Tem muito bandido de colarinho branco solto por aí e ninguém fica com ódio. Claro que quem erra precisa pagar, mas são seres humanos.
Mais de quatro mil kits
Em dois dias, foram entregues mais de quatro mil kits para os detentos da Penitenciária e Presídios masculino e feminino de Florianópolis, Hospital de Custódia, Casa do Albergado, Colônia Penal Agrícola de Palhoça e Penitenciária de São Pedro de Alcântara.
Os recursos para a aquisição vieram dos bazares realizados pela Pastoral Carcerária durante todo o ano. Além da ação no Natal, a Pastoral realiza doações de kits de higiene, roupas de verão e inverno, cobertores, passagens, remédios, óculos e também disponibilizam uma dentista que atende gratuitamente no consultório construído pela Pastoral no Presídio Masculino, uma assistente social, advogada, psicóloga e um professor de música.
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Mais informações sobre o trabalho da Pastoral podem ser obtidas pelos telefones (48) 3879-2168 ou (48) 2107-2323, ou na sede da Pastoral Carcerária, sediada na Capela São Dimas, dentro do Complexo da Agronômica.