– A história da Ilha do Campeche é o conjunto da história de vários povos que passaram por aqui. Hoje estamos nós, e cabe a nós perceber como essa história pode continuar – reflete o monitor e guia ambiental Aracídio de Freitas Barbosa Melo, ao final de uma trilha pela Ilha do Campeche.

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Diante dele está um casal de portugueses, que chegou nesta semana a Florianópolis e ao ver a ilha quando estavam na praia do Campeche, logo quiseram saber como visitá-la. Quase três séculos depois da chegada dos açorianos a região, Narciso Pataias e Ana Marques caminhavam pelas trilhas como turistas e ouviam histórias de como a Ilha do Campeche foi território de índios, açorianos, pescadores de baleia, caçadores, e agora ponto turístico.

No caminho até a Ilha do Campeche, o barco geralmente desafia as ondas do vento nordeste. Sobe e desce, joga respingos recebidos com suspiros pelos passageiros sob o sol forte de janeiro. Gaivotas e mergulhões brincam entre o céu e água. Abaixo apenas dos aviões, que passam tão próximo em direção ao aeroporto que pode-se distinguir as janelinhas redondas.

Ao longo de uma caminhada de 40 minutos por uma das trilhas na Ilha do Campeche, Aracídio reconstrói a história da Ilha do Campeche em pinceladas. Território de povos pré-históricos, que deixaram sua marcas em inscrições rupestres e oficinas líticas. Ponto de pesca, abrigo e morada de tribos Itararés e Guaranis. Refúgio de pescadores de baleia e área de cultivo e extrativismo de madeira no século XVIII. Quase abandonada no fim do século XIX, quando a mata pode se recuperar.

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Novamente frondosa, a ilha despertou o interesse de caçadores esportivos. Desde 1940, está sob concessão de uso da Associação Couto de Magalhães, que nasceu como clube de caça e pesca e hoje é de Preservação da Ilha do Campeche. Mas antes da mudança de propósito, foram inseridos diversos quatis na ilha – animais exógenos que desequilibram o ecossistema após terem crescido consideravelmente em número.

Foto: Erich Casagrande / Agência RBS

Trilhas e proteção

As trilhas levam para a história e mostram a mata altas da costa Oeste e a vegetação típica dos costões na Leste. O pé de araçá, por exemplo, de um lado busca ser alto e se desenvolve para não ficar sob as demais árvores. No outro, se contorce para permanecer baixo e protegido do vento forte. A imensidão do Oceano, que explode e reverbera sobre as pedras também é digna de contemplação. Enquanto isso, os aviões continuam passando lá no alto, como uma ironia da invenção e expressão humana diante das inscrições rupestres.

O legado histórico que Ilha do Campeche representa justificou o tombamento da área pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2000. A ilha passou a contar com equipes de monitoramento que ajudam a fiscalizar o fluxo de pessoas. Na alta temporada, são 22 monitores e coordenadores que recebem e contam quem chega à ilha.

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– Nosso estudo indica que a capacidade diária de visitantes é de 800 pessoas. Conseguimos controlar porque há cotas de pessoas para cada um dos três pontos que trazem turistas para cá. Porém, não podemos impedir quem chega em barcos privados e esse número é superado – explica a coordenadora Elisa Brod Bacci.

Horizontes longos e horizontes curtos

Na parte Oeste, a Ilha do Campeche ainda tem como horizonte a praia do Campeche e Joaquina, que ficam na Ilha de Santa Catarina. É possível ver os guarda-sois lá do outro lado do mar e imaginar as pessoas se perguntando, assim como o casal português, como seria a perspectiva de quem observa de lá.

De fora da água o horizonte é distante, mas basta mergulhar para perceber outra perspectiva de mundo. Além das trilhas, a equipe do Iphan também trabalha com atividades de mergulho com snorkel, máscara e nadadeiras. A água cristalina permite uma visibilidade de até 8 metros nos melhores dias, mas mesmo com cerca de 3 metros já se pode observar diversos peixes.

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Sob a água, o cenário muda a cada batida das nadadeiras. Um metro para frente e pedras que antes não apareciam surgem cheias de algas e peixes ao redor. Espécies como baiacu, sargentinho, ouriços, maria da toca. Um mundo curioso e intenso pelo imediatismo que exige na contemplação. Para quem está de passagem, o mundo subaquático é efêmero e se transforma a todo instante. De volta ao barco, todos comentam o que encontraram.

– Que peixe era aquele grande e redondo. Você viu?

Depois de cerca de quatro horas na Ilha do Campeche, o sol já começa a se aproximar dos morros sobre a Ilha de Santa Catarina. A prainha da Ilha do Campeche, que estava cheia durante o dia, está quase deserta. O último barco leva os últimos turistas de volta para a Praia da Armação.

Na Ilha do Campeche, mergulha-se no mar e na história. Sente-se o peso de experiências vividas por tantos que ali passaram naquele pequeno espaço de terra, que agora também está incorporado a sua própria história.

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– Espero que vocês possam levar daqui alguma coisa diferente que seja capaz de ao menos refletir quando vocês estiverem em outro lugar, até mesmo em Portugal – se despede Aracídio.

E barco navega de volta, surfando nas ondas que empurram o barco sentindo Sul. Com brasileiros, portugueses, italianos, argentinos, uruguaios.

Revista de Verão avalia

Acesso

Pega-se um barco na Praia da Armação, ou um bote na Praia do Campeche, ou uma escuna da Barra da Lagoa. A partir da Armação, leva-se 30 minutos até a Ilha. O preço que é um pouco salgado.

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Valores ida e volta a partir de cada ponto por pessoa

Armação: R$ 60

Campeche: R$ 50

Barra da Lagoa: R$ 70

Banheiros

A prainha da Ilha do Campeche tem banheiros públicos atrás de um dos restaurantes.

Alimentação

Há dois restaurantes. Se tratando de uma ilha bastante pequena é é mais que o suficiente. (Não aceitam cartão de crédito)

Preservação

Mar e areia muito limpos. Trilhas também são bem cuidados pelos monitores do Iphan. O que ressalta a importância de cuidar do seu próprio lixo para manter o local limpo.

Trilhas

São cinco opções de trilhas que variam em tempo e valor. A mais curta dura cerca de 40 minutos e a maior 2 horas. Valores são de R$ 10 a R$ 25 por pessoa.

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Mergulho

Ocorre ao lado da prainha, mas o acesso só é possível com barco. Dura cerca de 40 minutos e custa R$ 40 por pessoa. Equipamento está incluso. A atividade de mergulho é bastante prazerosa, porém não se compara com a vida marinha e visibilidade encontrada na Ilha do Arvoredo ou na Praia da Sepultura, em Bombinhas.

Custo por pessoa: Cerca de R$150

A ida e volta ocorrem com o mesmo barco e se permanece cerca de 4 horas na Ilha do Campeche. Entre transporte de barco, almoço, uma trilha e um mergulho. Gasta-se cerca de R$ 150,00. Claro que todas as atividades são opcionais.

Encontre a Ilha do Campeche entre as estrelas do Mapa de Verão do DC