À meia-noite de segunda-feira que a doceira Rose Mari Wachholz José, 49 anos, conseguiu renovar as plantas e enfeitar o quintal de casa com coelhinhos e cenouras de decoração. Ela está envolvida na produção de doces desde o fim do ano passado, em uma maratona que já passou por Natal e Festa Pomerana, mas não quis ficar fora do clima que tomará conta da cidade em que mora nas próximas semanas. É essa atmosfera que também lhe rende um dinheiro extra graças às bolachas artesanais e outros doces vendidos na Osterfest, a festa de Páscoa de Pomerode, que neste ano chega à 10ª edição.

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Situação similar à da empresária Carla Farias, 42, que há três anos se programa para, nos períodos do Natal e na Páscoa, deixar as atividades da empresa do ramo plástico para trabalhar nas atrações destinadas ao público.

As festas de Páscoa de Blumenau e Pomerode, que começaram nos últimos dias e seguem até 1º de abril, são responsáveis por oferecer atividades para crianças e adultos no período que antecede o feriado religioso, mas também estimulam a economia das cidades com geração de empregos temporários, vendas no comércio e em restaurantes, além de divulgar as opções de turismo para visitantes de outras regiões.

A Osterfest é o maior evento turístico de Pomerode e no ano passado recebeu aproximadamente 200 mil visitantes. Em 2018, a expectativa da organização é repetir esse desempenho. A principal atração é a Osterbaum. A árvore de Páscoa da cidade no ano passado entrou para o Guiness Book, o livro dos recordes, com 82.404 casquinhas coloridas, superando o recorde anterior, da cidade alemã de Rostock. Este ano, o recorde foi novamente superado com mais de 100 mil casquinhas. Todas doadas e pintadas pela comunidade e pelos 5 mil estudantes das 27 instituições de ensino da cidade. Oficinas de montagem de árvore, pintura facial e de casquinhas, apresentações musicais e atividades culturais compõem a programação nos fins de semana de março e abril.

O evento nasceu para unir tradições antigas das famílias alemãs da época da Páscoa em uma ação que pudesse ser valorizada turisticamente. A festa cresce em público e atrações desde a primeira edição, ocorrida em 2009, e e forma mais acentuada desde 2013, quando a Associação Visite Pomerode, que reúne empresários do setor de turismo, passou a ser a principal organizadora.

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Uma estimativa da organização apontou que no ano passado a festa injetou R$ 20 milhões na economia local. O número equivale a aproximadamente 1% do PIB da cidade. Para o diretor da Avip e presidente do Conselho de Turismo de Pomerode (Comtur), Ivan Blumenschein, o impacto é distribuído entre diferentes setores, e retroalimenta a economia da cidade.

— O recurso entra de maneira especial na pequena e microempresa, no artesão. Os R$ 100 que o turista gastou no restaurante é usado pelo proprietário para comprar no produtor local — resume.

A assessora da Avip, Rejane Koch, confirma o reflexo do crescimento da festa no turismo e na economia local e ressalta que todas as atrações são genuínas.

— A gente não inventa nada, simplesmente mostra para o turista coisas que são do nosso cotidiano, da nossa Páscoa. Fazemos tudo pensando nos visitantes e também nas pessoas de Pomerode, para que elas sintam orgulho de serem daqui — frisa Rejane.

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Artesanato desfruta do crescimento da festa

Os reflexos econômicos ocorrem em diferentes segmentos. A confeitaria de Marlene Volkmann, por exemplo, que também tem um espaço na praça da Osterfest, precisou contratar 20 pessoas a mais para atender o número extra de visitantes durante a festa. As famosas lojas de fábrica de indústrias locais também registram aumento de vendas e há até quem ceda a casa para alugar a turistas. Um dos principais beneficiados é a área de artesanatos, onde estão as colegas de espaço da atarefada doceira Rose Mari Wachholz José.

Rose é natural de Pomerode, mas voltou à cidade em 2014 após 25 anos em São Paulo. Vendeu doces de Páscoa nas últimas duas edições do evento. As bolachas decoradas e os biscoitos em miniatura, que parecem de madeira entalhada, são os maiores sucessos da doceira. No ano passado ela homenageou uma cozinheira conhecida da cidade com um desenho em um doce e neste ano venceu um concurso de panifício na Festa Pomerana.

Em setembro ela começa a discutir o que será feito para a Páscoa do ano seguinte. O desafio é apresentar uma novidade a cada edição. As férias, daquelas em que se pode colocar os pés para cima e curtir de fato o descanso, só vêm depois da série que envolve Natal, Festa Pomerana e Osterfest.

Os doces de Rose mantêm viva uma tradição que ela não abandonou nem nos anos longe de casa: mesmo a distância montava árvore de Páscoa e preparava delícias que encantavam quem não estava tão habituado com a celebração. A diferença é que agora isso garante um retorno financeiro maior, para ela e as colegas artesãs. A expectativa dela é lucrar R$ 2 mil por fim de semana de festa.

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— Vende em minutos porque todos acham lindo. É a hora que a gente planeja as conquistas, consegue colocá-las em prática ou guardar algum dinheiro — conta.

Os dividendos da Páscoa ajudaram a designer de pintura e crochê Denise Fulber até na montagem de um espaço para dar aulas em parceria com a filha:

— A Osterfest é a época mais forte que o Natal. É surpreendente, e os turistas ficam encantados.

União criou associação de artesãs

Os artesanatos são vendidos na Ostermarkt, ambiente para artistas de Pomerode e cidades vizinhas, e também na Handgemacht, espaço aberto o ano todo e que durante a festa reúne mais de 9 mil peças de 47 artesãs da cidade. Esqueça o formato de feira em que cada um cuida de sua barraquinha. Na Handgemacht, cada artista pode levar até 200 artigos e todos atuam coletivamente, apresentando e vendendo os produtos de todos. A experiência nasceu com o Núcleo de Economia Criativa da Associação Comercial e Industrial de Pomerode (Acip) e deu tão certo que deu origem a uma associação específica para os artesãos.

A coletividade traz benefícios, como descontos na compra de insumos e a saída da informalidade. Os critérios para os participantes são rígidos: ao menos 80% da peça têm que ser feitos manualmente – artesanato raiz, garante o coordenador do núcleo das artesãs, Maurício Nienow.

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— O artesanato local é muito diferente. Pelo capricho, pelo resgate da tradição alemã, tudo isso já fez com que o nome Pomerode virasse uma grife — avalia.

Uma das novidades deste ano é a produção de réplicas das Osterbaums das outras nove edições da festa. A artesã Roseli Mateus Hetterich participa desde 2013 e, junto a outras 20 artesãs, confeccionou as miniaturas que relembram a história da festa. As miniárvores estão expostas com fotos e informações ao lado da imponente árvore deste ano, que ostenta as 100 mil casquinhas.

Vila de atrações em Blumenau

Em Blumenau, a Osterdorf chega este ano à sexta edição com espaços decorados no Ginásio Sebastião Cruz, o Galegão, no Parque Ramiro Ruediger e no Parque Vila Germânica. Oficinas com atividades como pintura facial e de casquinhas, teatro – uma das novidades deste ano –, brinquedoteca, leitura de histórias e montagem de árvore de Páscoa também são oferecidas no Galegão. A organização não faz contagem de público, mas, com base na participação de oficinas, estima que 80 mil pessoas passaram pela Osterdorf.

Diferente do evento de Pomerode, a Osterdorf, que abriu as portas esta semana, consegue se valer do número maior de pessoas na cidade em função do Festival Brasileiro da Cerveja. Mas, em geral, o público doméstico predomina no espaço. Na Osterdorf do ano passado, 16% dos visitantes não eram moradores de Blumenau. Desses, um terço dos que passaram pela Vila de Páscoa eram de cidades vizinhas como Gaspar e Brusque. O número de visitantes de outras cidades tem crescido, o que alimenta na organização a expectativa sobre o potencial turístico para os próximos anos.

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Leide Lemes corresponde ao perfil dos visitantes da Osterdorf. Logo no primeiro dia do evento, na última quarta-feira, ela aproveitou que a folga da escola da filha Vitória, seis anos, e atendeu aos constantes pedidos da pequena, que estava ansiosa para pintar casquinhas para a Páscoa enquanto esperava o ovo com unicórnio que pediu ao coelhinho. Uma tradição que a própria mãe mantinha quando pequena.

— É uma ótima opção de passeio, com atividades para ela — conta a mãe.

As atrações no Parque Ramiro Ruediger também empolgam a pequena Edlayne de Freitas Soares, seis anos, enquanto brinca no gramado companhada do pai, Edvaldo Soares da Silva.

Atrações garantem empregos temporários

Todas as atrações que levam os moradores da região à Osterdorf garantem impacto sobre a economia por meio dos empregos temporários criados pelo evento. Este ano, são 63 pessoas contratadas para monitorar as oficinas, os brinquedos, interpretar os personagens e garantir a segurança do local. Pessoas como a empresária Carla Farias, 42 anos. Há três ela deixa as atividades da empresa do ramo plástico no Natal e na Páscoa. O objetivo é trabalhar nas atrações da Vila Germânica. O retorno financeiro, garante, é “bem interessante”. Mais do que isso, veste as orelhinhas de coelho com as quais ajuda as crianças nas oficinas de pintura.

— A maior satisfação é a alegria dos pequenos, principalmente as crianças especiais, ver como elas ficam empolgadas ao pintar casquinhas — conta.

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Após dois anos fora da festa, os artesãos também estão de volta na Osterdorf deste ano. Sol Amaral, 55 anos, sempre vendia os coelhos de decoração entre amigas, mas agora está otimista com a possibilidade de levá-lo a um público maior nas barracas da área externa do Galegão. Ela tem a companhia de outros 19 artesãos escolhidos pela Fundação Cultural de Blumenau.

— A Osterdorf já auxilia a economia da cidade. Começou como evento comunitário, para os blumenauenses, mas o plano é transformá-la em produto turístico. Que ela possa complementar as atrações de Páscoa para atrair turistas de outros lugares — avalia o diretor de Eventos do Vila Germânica, Luiz Koerich.