Diario.com.br adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até esta sexta-feira serão selecionadas para publicação na edição impressa. Ao deixar seu comentário, informe nome e cidade.

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O BRASIL É MAIOR DO QUE A CRISE

O país do Carnaval chega à antevéspera de sua maior festa num clima de baixo-astral: economia estagnada, inflação em níveis acima do razoável, crise energética, ameaça de falta de água em sua principal metrópole e o escândalo da Petrobras em todas as manchetes. Ainda que os governantes pareçam embretados pelas dificuldades, as instituições continuam sólidas e a população desfruta plena liberdade para questionar, criticar e exigir de seus representantes mais honestidade e eficiência. É um cenário que o país já enfrentou outras vezes, em circunstâncias semelhantes, quando a combinação de desmandos administrativos, descrença no poder público e aparente falta de perspectivas foi revertida pela livre circulação de informações, pela reação dos organismos da democracia e pela capacidade de compreensão da sociedade.

Foi assim, apenas para relembrar episódios traumáticos mais recentes, quando da cassação do mandato do primeiro presidente eleito após a ditadura; quando das suspeitas em torno das privatizações do final dos 1990; e quando do julgamento do mensalão e seus desdobramentos. Não há como aceitar essa sequência de acontecimentos como algo natural para um país, mas é preciso reconhecer que todas as nações, com raras exceções, convivem em algum momento com situações que as constrangem. É de se lamentar, no caso brasileiro, que tais acontecimentos se repitam com excessiva frequência e transmitam a sensação de que ficam cada vez mais graves.

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É desconfortável o sentimento generalizado de que assim o país aperfeiçoa sua capacidade de reincidir e que, para agravar os efeitos da corrupção, o contexto seja de economia quase paralisada, preços que não param de subir e queda nos níveis de otimismo de quem produz e de quem consome. O positivo é que a estrutura institucional, posta à prova pelos desmandos e suas consequências políticas, funciona sem sobressaltos, que o novo comando da economia inspira credibilidade e que, no longo prazo, vislumbram-se perspectivas de recuperação. No plano específico da lisura administrativa, tão degradada pelos crimes cometidos contra a Petrobras, também é confortador o vigor demonstrado pela polícia, pelo Ministério Público e pelo Judiciário.

Há, portanto, pelo menos uma razão forte para se ter esperança no futuro da nação: o destino do país está nas mãos dos brasileiros. Crise é, como dizem os chineses, oportunidade _ e todos estão sendo convocados pelas dificuldades a mostrar que somos capazes de virar o jogo, desde que as instituições reafirmem o pleno cumprimento de suas atribuições.