Confiar na política é como nadar contra a corrente. Por mais forte que seja a braçada, a correnteza de escândalos, corrupção, retrocesso e falcatruas nos mantêm no mesmo lugar – ou até empurra para trás.
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O eleitor está cansado, cético com os discursos e desesperadamente em busca de algo para se segurar em meio à correnteza. Agarra-se à quem fala mais alto ou tampa os ouvidos e finge que não é com ele. Em agosto, dias antes do início da campanha eleitoral, o Santa foi às ruas e ouviu eleitores falarem, de boca cheia, que não iriam acompanhar propagandas e nem votar. Foram levados pela corrente.
Pede-se, então, que o eleitor exerça sua democracia e vá votar. No entanto, depois de domingo, muitos irão esquecer do tal substantivo feminino de origem grega que, em sua primeira definição no dicionário, diz: governo do povo; soberania popular. Se somos capazes de encher a capa do jornal com destaques negativos que queremos dar adeus nas urnas, é porque esquecemos que a democracia é uma constante.
Não se resume ao ato de teclar alguns números e apertar o botão verde. Se a política continuar afastando a sociedade dela como a pessoa ao nadar contra a corrente, o país não vai deixar de conviver com a corrupção, parar de votar em candidatos de histórico questionável que tentam por vias obscuras em Brasília votar um projeto de lei que perdoa o caixa 2, não vai deixar de vender votos e nem negociar apoio em troca de cargos políticos.
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Exercer a cidadania não é só votar, é participar e fiscalizar. O controle social do poder público é o caminho para uma política e um governo melhora. A jovem e frágil democracia brasileira ganhará força com a participação cidadã, e isso se torna real quando o político eleito preza pela transparência e dá meios para que qualquer um acompanhe suas ações; quando a democracia é exercida dentro dos próprios partidos com atos claros; quando sessões de Câmaras de Vereadores não acontecem em horário de expediente comercial e impedem que o cidadão vá e pressione pessoalmente seu candidato; quando as leis e mecanismos de fiscalização que o Brasil já possui são, efetivamente, cumpridas. Existem instituições pagas para fiscalizar o governo, mas o acompanhamento do eleitor é uma condição imprescindível para o sistema funcionar.
A história explica. Existe um contexto há ser enfrentado no país em que, nos últimos 90 anos, permitiu a apenas quatro presidentes eleitos por voto popular a chance de terminar seu mandato. Voltando ao século 18, quando a França se rebelava contra seus políticos, o Brasil ainda era uma colônia de Portugal.
No milênio seguinte, elegem-se candidatos para representar o povo, que não se sente representado por ninguém. Como explicar uma Blumenau que nunca elegeu um negro? Que possui a maioria da população do sexo feminino e até hoje elegeu somente cinco vereadoras?
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É com a participação da população depois da eleição, seja qual for o resultado, que há esperança de dizer um “xô, corrupção” ou “xô, falta de gestão“. Uma mudança cultural de consciência política não ocorre do dia para a noite, mas precisa começar em algum lugar. Para o cidadão, fica a tarefa de exercer seu papel na democracia depois de domingo e pelos próximos quatro anos cobrando e fiscalizando o poder público, mesmo que seu candidato não tenha sido eleito.
Aos que irão assumir as cadeiras, além de todos os desafios e metas que a cidade tem, que abram espaço à soberania popular. Assim, quem sabe, o cidadão volte a acreditar e fazer parte da política.