Em tons de verde a perder de vista, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro abrange oito municípios, cinco ilhas e dois arquipélagos, sendo considerado uma das grandes joias naturais de Santa Catarina. Uma região que só pode ser visitada, parcialmente, com a ajuda de guias.
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De acordo com relatório da Fundação de Meio Ambiente (Fatma) de SC, cinco das seis grandes vegetações típicas da Mata Atlântica estão representadas nos quase 85 mil hectares, equivalente a 1% do território catarinense.
A maior área de floresta atlântica remanescente no Estado é um divisor de espécies de plantas, concentrando uma vegetação tropical inexistente mais ao sul. É dos mananciais do Tabuleiro que sai a água para abastecer populações de cidades da Grande Florianópolis.
O parque resistiu ao concreto porque, desde 1975, é uma unidade de conservação de proteção integral, o que permite apenas pesquisa, educação ambiental, turismo ecológico e recreação em contato com a natureza naquela área, mediante autorização da Fatma. Ainda não há um levantamento completo, mas dados da Fatma indicam que o parque pode abrigar até 2,5 mil espécies de plantas.
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Pesquisadores já catalogaram 1,3 mil. Em relação aos animais, há espécies únicas no mundo, como é o caso do preá de Moleques do Sul. O futuro deste território preocupa Osvaldino João Ferreira, pescador, 59 anos, vizinho ao parque.
– É bom preservar para meus filhos, para meus netos, para eles conseguirem ver isto – afirma o morador de Palhoça.
Para a infelicidade de ambientalistas, pesquisadores e do Seu Osvaldino, nem todos têm essa consciência. No mês passado, um incêndio supostamente criminoso atingiu cerca de 920 hectares, na região da Baixada do Massiambu O foco foi tão forte que foi debelado com a ajuda de um helicóptero.
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O biólogo da Universidade Federal Maurício Graipel ressalta que desastres como este alteram a composição da fauna no local e no seu entorno, além de prejudicar as pesquisas em andamento. O chefe da unidade do Parque tem um argumento a mais para as pessoas zelarem pela preservação da área.
– Há a possibilidade de encontrar espécies raras que podem vir a ter interesse comercial no futuro – diz Graipel.
Para apresentar um pouco da região, onde vivem espécies da flora e da fauna, algumas ameaçadas de extinção, a equipe do DC, acompanhada por representantes da Fatma, percorreu regiões representativas do parque. A missão exigiu esforço e persistência para percorrer quilômetros em trilhas, de carro e de caminhonete.
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Incêndio é a ameaça
A transformação do território da Serra do Tabuleiro em unidade proteção integral restringiu a caça e o desmatamento que eram comuns na região. Se o barulho de tratores e dos tiros diminuíram, uma ameaça silenciosa persiste: o fogo.
Os incêndios na porção da restinga são frequentes, seja para ampliar a área de pastagem ou como forma de retaliação, pela questão fundiária. O tenente Sandro Fonseca do Corpo de Bombeiros, que pilotou o helicóptero Arcanjo no combate ao incêndio de abril, diz que no caso de abril, os ventos e o horário em que começaram as chamas, somada ao acesso à região, dificultaram o combate ao fogo.
As investigações ainda não chegaram aos culpados pelo incêndio, que durou 48 horas e consumiu 920 hectares, 820 dentro do parque.
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Em incêndios maiores, os Bombeiros contam com o apoio de brigadistas (voluntários treinados pelos Bombeiros), da Polícia Militar Ambiental, da Polícia Militar, do Exército e da Defesa Civil. Neste ano, as próprias equipes da Fatma já devem ajudar no combate aos incêndios, o órgão vai capacitar 30 pessoas.
Questão fundiária não foi resolvida
Por lei, as áreas com a titulação do parque devem ser de posse do domínio público. Neste caso, todas as famílias que tinham propriedades na região deveriam ser indenizadas pelo Estado, o que não aconteceu.
Algumas pessoas ainda se mudaram para a região depois da criação do parque, o que agravou a situação. Segundo o chefe da unidade de gestão, Alair de Souza, apenas 17% da área está regularizada.
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O entrave dificulta a aplicação das regras de preservação, que proíbe a exploração da área, e amplia a tensão com os moradores da região. De acordo com a Promotoria Temática da Serra do Tabuleiro, de Palhoça, criada em 2000, os processos envolvendo infrações dentro e no entorno do parque beira os milhares.
– Quem falha violentamente é o Estado que não fez o processo de regularização fundiária – afirma o promotor de Justiça e curador do parque, José Eduardo Cardoso.
Para ele, se o Estado tivesse propiciado a retirada das pessoas para outro local, estipulado os limites exatos do parque, acabariam tanto os incêndios como as edificações irregulares. Por pressão dos moradores, em 2009, foram desmembrados três regiões, que se transformaram em áreas de preservação ambiental.
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O presidente da Fatma, Murilo Flores, explica que é difícil o Estado arcar com o volume de recursos para as indenizações, diante de tantas demandas. Ele afirma que o órgão ambiental estuda uma alternativa para angariar a verba.
Assista ao vídeo da expedição da equipe do DC ao Parque da Serra do Tabuleiro