
Comunidade em festa
Em 50 anos, é possível que neste mesmo período do mês os fiéis de São Francisco do Sul estejam organizando as procissões e missas para homenagear a fundação da paróquia. Por isso, no jubileu de 350 anos será criada uma cápsula do tempo com a orientação de ser aberta apenas no próximo jubileu.
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Dentro dela, 350 mensagens e pedidos, além de jornais da época e outros documentos que farão o registro do mundo em 2015. A cápsula é um dos presentes que o Santuário Nossa Senhora da Graça preparou para as comemorações, que incluem ainda um lançamento de CD com canções de artistas, grupos e corais locais e uma revista comemorativa com a história completa da paróquia.
Um grande presente para o futuro será entregue em breve: o artista Eros Damião prepara uma imagem de quatro metros para ser instalada ao lado da igreja, na praça Getúlio Vargas. A obra, que foi idealizada para ter a inauguração durante os festejos de setembro, foi atrasada depois de alguns entraves burocráticos, mas deve tornar-se um novo ponto de turismo e devoção até o fim de 2015.
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Ela será uma reinterpretação da imagem de Nossa Senhora da Graça, ainda com ares de arte barroca, como a original, mas com alguns traços contemporâneos.
– Não posso fugir do que há na imagem original, então todos os elementos serão utilizados. No entanto, é inevitável os traços da identidade do artista na obra – conta Eros.
Guardião do patrimônio
Os nobres e os religiosos de São Francisco do Sul entre os séculos 17 e 18 teriam muito a agradecer um francisquense nascido apenas em 1957. Carlos José Pereira Lima era ainda um garotinho de oito ou nove anos, mas já tinha a experiência de ser coroinha desde os seis quando viu a Igreja Nossa Senhora da Graça passar por uma “revolução”.
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Motivado pelas decisões do Concílio Vaticano II, que em 1965 promulgou novas regras que modernizavam a Igreja Católica, o então Vigário Mário Danese decidiu colocá-las em prática na matriz de São Francisco do Sul. Assim, mandou retirar os altares laterais, a mesa de comunhão e o púlpito, além de imagens de santos, anjos e crucifixos.
Confira a página especial Minha História, Meu Patrimônio
Observando toda aquela movimentação, o garotinho que atendia pelo apelido de Kiko ficou intrigado. Como podiam se desfazer de tantas peças bonitas? Na dúvida, resolveu guardar: sozinho, pegou peça por peça daqueles móveis de madeira e levou para um depósito. As imagens e os crucifixos foram para dois baús que, escondidos, permaneceram fazendo parte do patrimônio da igreja, mesmo que ninguém mais lembrasse deles.
– Naquela época, não existia este sentimento de preservação. Achavam que tinha que modernizar a igreja. O vigário dizia “olha como ficou clara, como ficou bonita”, mas me doía muito ver aquilo – lembra Kiko.
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O segredo ficou guardado durante cerca de meio século, até que as questões sobre a importância do patrimônio histórico e cultural ganharam destaque e a ideia de criar um museu de arte sacra em São Francisco ganhou corpo.
Foi em uma reunião com o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), a prefeitura e os representantes da Igreja sobre a criação do acervo do museu que a revelação de Kiko aconteceu, devolvendo ao templo mais antigo de Santa Catarina o púlpito e a mesa de eucaristia que faziam parte dela há pelo menos 250 anos, além dos itens que foram adquiridos pelos párocos ou doados pelas famílias abastadas da região. O que não está na igreja, faz parte do acervo do Museu de Arte Sacra de Santa Catarina, criado em 2012.
Vida dedicada ao templo
Por falar em doação, a de Kiko foi de muito mais do que garantir a preservação de itens: ele, que foi batizado e fez a primeira comunhão na Nossa Senhora da Graça, dedicou a vida a este templo. Bancário aposentado, agora ele é o coordenador de patrimônio da igreja.
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– Eu me lembro de ser criança, acompanhar a missa e ficar admirando as imagens, a cerimônia. Conheço cada pedra destas paredes – afirma.
É ele também o responsável pela missão mais arriscada do ano: na única vez em que a imagem de Nossa Senhora da Graça é retirada de sua cúpula no altar, instalada a pelo menos sete metros de altura e onde fica protegida por uma caixa de vidro à prova de balas e por alarmes, a tarefa é realizada por Kiko. É preciso tirar a imagem devagar e com cuidado, com a consciência de estar lidando com uma relíquia.
Esta responsabilidade foi passada há muitos anos pelo antigo “guardião” da santa, Sebastião de Oliveira, que o chamou pouco antes de morrer para pedir que ele cuidasse bem da Nossa Senhora.
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– Ele me disse “Nunca mais teremos outra igual”. Por isso, enquanto tiver forças eu irei cuidar dela – garante ele.
Confira a celebração deste fim de semana:
Domingo, 30 de agosto
Tema: Maria, Mãe dos Catequistas
Procissão pelas ruas da cidade com a imagem de Nossa Senhora