Partilhar o pão, promover empregos, aumentar a renda e alimentar sonhos de uma comunidade. Com esses princípios, a Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro Paranaguamirim, em Joinville, promove cursos de salgadeiro e confeiteiro, atendendo diversos moradores e colocando dizeres bíblicos na prática. 

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A ideia dos cursos surgiu durante e por causa da pandemia da Covid-19, quando centenas de pessoas perderam o emprego. A paróquia pediu ajuda ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que enviasse um profissional da gastronomia com objetivos claros: ensinar, produzir e vender materiais de padaria. 

Para o padre Dulcio de Araújo, responsável pela paróquia, a ideia é promover o bem, já que o local doa cestas básicas para a comunidade, mas também superar a dependência do assistencialismo. 

— Na urgência, a fome não espera. Mas queremos tornar as pessoas sujeitas de sua vida, história e dignidade. Por isso, queremos capacitá-las, para que consigam o pão de cada dia com o suor do trabalho — explica. 

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Nos cursos de padaria, cada turma tem 25 estudantes, formada, na maioria, por mulheres. O ensino é totalmente gratuito e contam com cerca de 30 voluntários, que trabalham na igreja de segunda a sexta-feira. Além da profissionalização de pessoas, a paróquia une o trabalho com solidariedade. Em média, o local doa 100 pães feitos pelos próprios alunos para moradores da região. 

Para o padre Dulcio, o projeto é fundamental para aproximar a igreja dos moradores. 

— As pessoas começam a olhar para a igreja não só como um lugar que se fala, que pede o dízimo, mas uma igreja que está atenta às necessidades e clamores. Uma igreja que procura ser fiel à prática de Jesus, que fez a multiplicação dos pães — analisa.

Para ele, o projeto ensina que é possível vencer a fome. Para isso, basta a população ser solidária. 

— Jesus disse ‘dai-lhes vós mesmos de comer’. Nos sentimos felizes por praticar o evangelho — destaca. 

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Autoestima e comida no prato: uma receita necessária

Um dos símbolos do projeto, Shirlei Schwalb, de 48 anos, tem participação em todas as vertentes da ideia: participa do curso, produz alimentos e recebe doações. Casada, não pode mais trabalhar como cozinheira após ter um filho com síndrome de down. O caminho do desespero se tornou o de autoestima e esperança ao aceitar o convite de entrar nos cursos feito pelo padre Dulcio durante uma missa. 

— Decidi fazer o curso porque tenho paixão e o meu sonho sempre foi trabalhar com confeitaria. É uma porta que está se abrindo. Faço o curso para ter uma renda e ajudar em casa — explica. 

Ela conta que já faz orelha de gato, sonhos e pães, receitas que aprendeu no curso. 

— Tudo que aprendemos já estou colocando em prática, o que me ajuda com a renda. Faço vendas na comunidade, para vizinhos e amigos — celebra. 

Receitas feitas durante o curso promovido pela igreja e Senac (Foto: Diocese Joinville/Divulgação)

Além dos aprendizados na gastronomia, as doações da cesta básica e de pães são fundamentais para Shirlei e sua família. Sem isso, ela afirma que teria dificuldade para ter o que comer. 

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— É um arroz, um feijão, um açúcar. Já ajuda muito. Aprendo a fazer pães e levo alguns para casa. Tudo está muito caro. Com R$ 100 não se compra mais nada. Carne só tem osso. E, se você come, você fica feliz. Sem isso, fica triste — reflete. 

Realização de um sonho

Com dois filhos e sem poder trabalhar fora, Cristiane Pereira de Souza, de 32 anos, entrou no curso com o objetivo de realizar o sonho de abrir uma confeitaria. Apesar de ter dificuldades com massas e pães, ela destaca que já aprendeu diversas coisas, como recheios e cremes. 

Professora Juliana Bartsch ao lado de Shirlei Schwalb e Cristiane Pereira de Souza, ambas à direita (Foto: Lucas Koehler/A Notícia)

O projeto vai além dos sabores das comidas, mas também ensina como gerenciar o próprio negócio, técnicas de vendas, embalagens, congelamentos dos produtos, etc. Ela conta que o curso tem sido ideal para projetar um empreendimento no setor, mas ainda é necessário aprofundar os conhecimentos.

— É preciso pensar no cardápio e no público. A princípio, quero começar apenas com encomendas, mas, depois, abrir uma confeitaria de porta aberta — compartilha. 

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Já para Shirlei, a sensação de fazer o próprio alimento é gratificante. As partes mais marcantes do curso, para ela, são as de fazer bolos e tortas.

— Quando se faz com amor e carinho, é uma gratificação. Sinto orgulho do que aprendemos e colocamos em prática. Fazemos com dedicação. Envolve amor. O curso está realizando o meu sonho de ser confeiteira — pontua. 

Curso aborda empreendedorismo e gerenciamento

Com três aulas por semana até setembro, a professora do Senac e que ministra o curso de padaria na paróquia São Miguel Arcanjo, Juliana Bartsch, diz que o conteúdo é denso e aborda todos os tipos de confeitaria, das massas clássicas até os termos da culinária francesa. Em um dos dias, por exemplo, os estudantes aprenderam sobre as diferenças entre os merengues francês, suíço e italiano. 

Segundo Juliana, a teoria sempre está alinhada à prática. Um dos casos é o estudo e uso do cacau, em vez de achocolatado. 

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— O principal da confeitaria é entender o conceito. Métodos saudáveis para os estudantes poderem levar para o dia a dia da casa. A gente precisa ensinar isso — explica.

Professora Juliana Bartsch durante aula do curso de padaria (Foto: Diocese Joinville/Divulgação)

Algumas receitas clássicas são adaptadas para a realidade econômica da comunidade, como a troca de farinha de amêndoas pela de amendoim. Casa receita é consumida no fim da aula, gerando momentos marcantes nos paladares e conhecimento dos estudantes. 

— Conheceram o pistache. É uma glória, porque não teriam acesso a esses insumos em outro lugar. Conhecer os alimentos facilita a entrada no mercado de trabalho, porque podem trabalhar em uma padaria grande, no Centro, que usa esses insumos — comenta. 

Para a professora, o destaque do curso é a visão de empreendedorismo ensina aos participantes, já que a grade ensina como fazer e cálculos, a quantidade de produtos a se comprar, preço justo de venda, como construir uma cozinha, qual piso e cor de parede usar, etc. 

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— São coisas que nunca cogitaram aprender antes do curso. Todos têm aula de conhecimento em marketing e no setor administrativo — ressalta. 

“Nosso desejo é que não vá muito longe o projeto de doações”, diz padre

Com o sucesso dos cursos de padaria, a paróquia do bairro Paranaguamirim tem a projeção de criar cursos de cuidador de idosos e trabalhadoras domésticas, para aumentar a qualificação dos moradores da comunidade no mercado de trabalho. 

Padre Dulcio de Araújo em frente à paróquia São Miguel Arcanjo, em Joinville (Foto: Lucas Koehler/A Notícia)

Já sobre as doações de cestas básicas e pães, padre Dulcio diz que seu desejo é que a população não precise mais no futuro, priorizando a empregabilidade. 

— Que o país se desenvolva, com investimento social e geração de emprego. Para que ninguém mais dependa de doação. Nosso desejo é que não vá muito longe o projeto — finaliza.

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