Os parlamentares filipinos votaram para reduzir a migalhas o orçamento da Comissão dos Direitos Humanos e deram um primeiro passo para destituir a presidente da Suprema Corte, medidas consideradas ditatoriais pelos críticos do presidente Rodrigo Duterte.
Continua depois da publicidade
Essas duas votações da Câmara de Representantes mostram, segundo setores críticos, que o presidente está buscando silenciar qualquer oposição a sua polêmica guerra contra as drogas, a qual já deixou milhares de mortos. Sobre essa política, os defensores dos direitos humanos falam, inclusive, em possível crime contra a humanidade.
O Congresso decidiu reduzir para 1.000 pesos (US$ 19) os recursos destinados à Comissão filipina dos Direitos Humanos, no projeto de orçamento 2018 votado em segunda votação na terça-feira (12) à noite. Antes, essa comissão recebia anualmente 678 milhões de pesos (US$ 13 milhões).
Duterte também vinculou sua decisão à investigação realizada por essa comissão sobre os mortos da guerra contra as drogas e às críticas sobre o tema de seu presidente, Jose Gascon.
Continua depois da publicidade
“Tem apenas o que merece”, disse ele à imprensa, acrescentando que “lhe deram apenas 1.000 pesos porque o Congresso está irritado”.
Esta comissão é um dos órgãos independentes previstos pela Constituição para supervisionar o Executivo, o qual tem Polícia e Forças Armadas sob seu controle.
A Suprema Corte é outra salvaguarda constitucional.
– ‘No caminho da ditadura’ –
Os aliados do presidente na Comissão de Justiça da Câmara também votaram a favor da destituição da presidente da Suprema Corte, Maria Lourdes Sereno, alegando que as acusações de corrupção contra ela têm fundamento.
Continua depois da publicidade
Maria Lourdes se mostrou crítica com a campanha antidrogas de Duterte. No ano passado, chegou a escrever para o presidente para manifestar sua preocupação, depois de acusação contra sete juízes de vínculo com o tráfico de drogas.
Duterte reagiu, ameaçando decretar lei marcial.
Se a Câmara de Representantes votar a moção da Comissão de Justiça em sessão plenária, o Senado terá de se reunir para examinar a destituição de Maria Lourdes Sereno.
O Senado também tem de votar a decisão sobre o orçamento da Comissão dos Direitos Humanos. Esta Casa também é dominada pelos aliados do presidente, mas tem-se mostrado mais independente do que a Câmara.
Continua depois da publicidade
Depois dessas medidas, a oposição lançou uma advertência contra o autoritarismo de Duterte, que se autointitula como socialista e costuma elogiar o falecido ditador Ferdinand Marcos e o presidente russo, Vladimir Putin.
“Isso nos coloca no caminho direto para a ditadura”, denunciou o senador Francis Pangilinan, presidente do Partido Liberal, principal sigla da oposição.
– ‘Perseguição e intimidação’ –
Teodoro Casino, um antigo representante do partido de esquerda Bayan Muna, também criticou a votação.
Continua depois da publicidade
“Consideramos isso uma tentativa de perseguição e de intimidação à Suprema Corte”, disse ele à AFP.
“As instituições criadas para serem órgãos de supervisão do governo, especialmente em matéria de direitos humanos, estão sendo atacadas e enfraquecidas”, denunciou.
Uma das principais opositoras ao presidente, a senadora Leila de Lima, foi detida em fevereiro por questões consideradas “políticas”, de acordo com uma resolução do Parlamento Europeu.
Continua depois da publicidade
Considerada pela ONG Anistia Internacional como presa política, a ex-ministra também foi presidente da Comissão de Direitos Humanos.
No último fim de semana, Duterte também prometeu “destruir” outro de seus opositores, o senador Antonio Trillanes, um proeminente crítico da guerra antidrogas.
Rodrigo Duterte foi eleito em 2016, prometendo erradicar o tráfico de drogas pela “eliminação” de milhares de criminosos.
Continua depois da publicidade
A Polícia anunciou já ter abatido 3.800 supostos dependentes, ou traficantes, de drogas. Outras milhares de pessoas morreram em circunstâncias não esclarecidas.
As pesquisas mostram, porém, que a maioria dos filipinos continua apoiando essa política.
* AFP