Um documento confidencial da candidatura francesa aos Jogos Olímpicos de 2012, divulgado hoje pelo jornal Le Monde, mostra que a corrupção no COI e as manobras do presidente de honra do órgão, Juan Antonio Samaranch, contribuíram para que Paris não fosse eleita para organizar o evento. O texto de quatro páginas, elaborado pelo responsável da promoção internacional da candidatura francesa, Armand de Rendinger, acusa Samaranch de ter sido “o coveiro de Paris”, e de ter pedido aos eleitores dos países da Europa Oriental e Central para escolherem Londres.
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A capital francesa já tinha responsabilizado o ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) por seu fracasso na tentativa de organizar os Jogos de 2008, concedidos para Pequim. O relatório afirma que a capital francesa perdeu seis votos com os quais inicialmente contava, por culpa de “procedimentos com os quais Paris não pode ou quer se equiparar, em outros termos: corrupção”, de acordo com o que foi publicado o jornal.
A delegação francesa estimava que obteria entre 57 e 62 votos frente aos entre 42 e 47 de Londres, mas finalmente a capital britânica conseguiu 54, quatro a mais que Paris.
– Faltaram entre 12 e 15 votos para Paris. Quatro foram perdidos por decisões a priori consideradas; quatro por pura e simples traição; e seis por procedimentos com os quais Paris não pode ou quer se equiparar – relata o documento, entregue em julho do ano passado aos principais responsáveis da candidatura de Paris e ao Palácio do Eliseu.
O jornal ainda publica declarações anônimas de um membro alemão do COI que reforça a acusação dos seis votos obtidos através de corrupção. O Le Monde também mostra que no entorno olímpico circulam mais de seis nomes de eleitores corruptos, e que quase todos são de membros de antigos países comunistas junto com dois ou três asiáticos.
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O relatório também afirma que o trabalho de influência de Paris entre os membros do COI foi menos eficaz que o de Londres, o que fez a candidatura francesa perder 19 dos 25 votos de eleitores indecisos que consideravam estratégicos. Um membro europeu – não francês – do COI citado pelo jornal considera a atuação do presidente francês, Jacques Chirac, totalmente diferente da do primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, antes da votação em Cingapura.
– Enquanto Chirac passou oito horas no país asiático apertando mãos e tomando coquetéis em público com os eleitores, Blair passou dois dias inteiros em seu quarto, onde se reuniu com quarenta membros (do COI) e ninguém nunca saberá o que foi dito ali – disse o membro do COI.