Eram três horas da madrugada de domingo, 17 de fevereiro, e na rua Manoel de Freitas, em Guaramirim, só se ouvia o barulho das chuvas: 279 milímetros atingiram a cidade em apenas dois dias. Até que os moradores começaram a ouvir barulhos semelhantes a estouros de paredes, a ronco de trovoadas — e, em poucos minutos, todos estavam na rua.
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— As pessoas saíram de roupa de dormir, de pijama, até de “zorba”. As crianças choravam e as mães não tinham forças para pegá-las, as pernas falhavam. Um idoso passou mau e a esposa dele cortou o pé na rua, e o filho deles só conseguia socorrer um dos dois, e ninguém mais ajudava porque só queria fugir. Parecia filme de terror — recorda a aposentada Nadir Pereira Ribeiro Kolachnek, 53 anos.
Nadir mora na rua Manoel de Freitas há 30 anos, quando a localidade, às margens da SC-108, ainda era pouco desenvolvida. Atualmente, a Vila Freitas, como é conhecido o local onde, no domingo, dez casas foram destruídas por um deslizamento e outras estão em situação de risco, é um conjunto formado por quatro ruas e suas laterais, todas elas sem saída. Há asfaltamento novo e casas recém-construídas destacando entre o vale onde estão situadas. Na madrugada de domingo, era por estas ruas que dezenas de pessoas fugiam do deslizamento até o local mais alto que puderam encontrar.
— Entramos em uma garagem para não ficar na chuva. A dona da casa ficou assustada com aquele monte de gente e não quis abrir a porta, então ficamos ali até os bombeiros chegarem. — conta Nadir.
Ela lembra que, há cerca de 15 anos, houve um deslizamento em época de chuvas mas, depois disso, não houve mais nenhuma situação semelhante. No entanto, ela chama a atenção para o fato de muitas construções terem aparecido na encosta dos morros nos últimos anos, e questiona se há fiscalização e regularização destes imóveis.
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A casa de Nadir não foi atingida, mas ela não pode entrar porque está em situação de risco. O fornecimento de água e de energia elétrica foi interrompido, e ela e o marido estão vivendo na casa de um irmão. Dois outros irmãos dela moravam na mesma rua: um deles vive a mesma situação que ela, enquanto outro, o estampador aposentado José Ivo Pereira, 55 anos, teve parte da casa destruída. Até agora, nem mesmo os documentos dele foram encontrados, e os medicamentos de uso controlado foram perdidos, assim como as receitas para retirar novas caixas dos remédios.
Na tarde desta terça-feira, 19, ocorre uma reunião na Prefeitura de Guaramirim entre o prefeito Luís Chiodini, a secretaria de Planejamento e profissionais da Defesa Civil municipal e estadual. Eles devem definir um plano de ações para a região. Enquanto isso, os moradores da Vila Freitas estão na casa de parentes e cerca de 20 pessoas estão em um abrigo.
Como ajudar as vítimas das inundações de Guaramirim:
Produtos de higiene pessoal podem ser levados para a ONG Novos Caminhos, anexo a Igreja Batista Vida Nova, ao lado da Celesc.
Alimentos e roupas na Paróquia Senhor Bom Jesus, no Centro.