Em uma roda de adolescentes, o saquinho segue de mãos em mãos, como numa brincadeira de batata-quente. A professora avisa: parou! O aluno sorteado pega um dos bilhetes e após analisar a situação descrita, conta o que faria.

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A atividade desenvolvida entre as turmas da Escola Municipal Professora Rosa Maria Berezoski Demarchi, do bairro Jardim Paraíso, coloca os estudantes em uma situação que os poderia levar a tomar uma decisão antiética ou até corrupta. Perguntas como: se você recebeu troco a mais, o que faria?

Se visse um colega pichando o muro da escola, contaria para alguém? Se uma pessoa furou a fila para a merenda, qual seria a sua reação? A boa notícia é que eles sempre optam pela resposta mais positiva – tanto para eles, como para a comunidade.

– É claro que eu devolveria o troco – disseram, quase que em conjunto.

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A brincadeira educativa é apenas uma das iniciativas desenvolvidas na escola dentro do programa Caráter Conta e Jovens de Atitude, que a partir de agora, podem ser aliados do projeto “O que você tem a ver com a corrupção?”. A ideia é levar o tema para ser tratado em todas as disciplinas. Cada uma, do seu jeitinho.

A professora de história, Silvane Alves do Amaral, por exemplo, deixou que as equipes de alunos do 9º ano escolhessem temas que gostariam de falar, como segurança e as recentes manifestações. Com isso, eles fizeram debates, cartazes e textos.

Os alunos foram, em seguida, instigados a fazer o bem para o próximo. Surgiram assim visitas a asilos, doações de roupas, cestas básicas, e até de cobertores a mendigos que dormiam em frente a igreja do bairro. Parte dos alunos até aparecem no contra turno escolar para ajudar na limpeza da escola.

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A partir desta ideia, surgiram outras dezenas de projetos na Rosa Maria, como um vídeo sobre gentileza. Eles se inspiraram em um filme de uma empresa americana e recriaram sua versão, contou a orientadora Aurora Alcenir de Souza Zimmermann.

O resultado ficou lindo. Um jardineiro ajuda uma criança que cai de skate, o menino ajuda um idoso a atravessar a rua, o senhor paga uma ligação a uma aluna da escola, e esta alegra a vida de uma mulher que está triste… e por aí vai, até o ciclo de boas ações chegarem, novamente, ao jardineiro. Confira o vídeo:

– Estou há quatro anos na direção da escola, e depois que começamos a trabalhar os programas com mais força, sinto uma diferença. O respeito está maior, até no comportamento dos alunos – contou a diretora Ana Karina de Oliveira Zacchi.

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Segundo ela, até pouco tempo atrás, a fila na coordenação de alunos que se comportaram mal ou que faltaram com respeito era enorme. A queda foi significativa.

Depois do exemplo positivo da escola Rosa Maria Berezoski, volte ao início desta matéria e reflita.

O que você faria, agora, depois dessa lição de moral destes alunos, se o seu troco fosse entregue em um valor mais alto? Se o seu colega de trabalho teve um lucro indevido? Se algum familiar aceitou alguma propina? Ou se ele fraudou alguma nota fiscal? Tenho certeza que sua resposta será positiva – para você e para a comunidade.

O projeto A Educação Precisa de Respostas do Grupo RBS e da Fundação Maurício Sirotski Sobrinho é outra iniciativa que auxilia os educadores e cobra melhorias constantes para a área.

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Iniciativa inédita

O elo de parceria entre MP e Secretaria de Educação foi realizado na segunda pela manhã, com a assinatura de um protocolo de intenções. O programa “O que você tem a ver com a corrupção” vai entrar de forma transdisciplinar no currículo da rede, ou seja, o tema poderá ser abordado em todas as disciplinas. Joinville foi a primeira cidade do país que passou a integrar o tema. São José, da Grande Florianópolis, deve incluir dentro da disciplina de Filosofia.

A iniciativa fará parte de um projeto maior que engloba todos os demais programas sociais e educativos, chamado “Aprender a Ser e a Conviver”, que foi lançado nesta terça-feira na Escola Municipal Sadalla Amin Ghanem, no bairro Parque Guarani.

Dentro deste programa, iniciativas como o Caráter Conta, Jovens de Atitude (parceria com o Instituto Cau Hanse e Tigre), Proed (Polícia Militar), Crack, é possível vencer (Governo Federal), Teoria das Restrições (Neogrid), Meu Futuro (CDL), serão integradas em prol ao combate à violência, prevenção do uso de drogas, e pela busca do respeito.

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– Queremos que os alunos sejam multiplicadores destas ideias, que levem isso para a comunidade – enfatizou a gerente de unidade de Assistência ao Educando, Silvane Kunder.

No caso do “O que você tem a ver com a corrupção”, o próprio promotor e idealizador do projeto, Affonso Ghizzo Neto, irá capacitar professores, coordenadores, supervisores e diretores de escolas e Centros de Educação Infantil.

Segundo ainda Silvane, com o programa, as escolas devem criar caixas de reclamações, que vão servir para os alunos denunciarem atos corruptos, como uma ouvidoria. Os professores poderão usar estas denúncias para trabalhar em sala de aula.

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– A corrupção é um problema nosso. Não é só do governo ou só do judiciário. E o maior estímulo, nesse momento, é acreditar que a gente pode fazer algo – destacou ainda o promotor, no dia da assinatura do protocolo.

Como falar de corrupção nas escolas

*Levando reportagens sobre o tema e criando rodas de conversas.

*Realizar trabalhos como histórias em quadrinhos, desenhos, textos e até teatros sobre o tema.

*Debates de situações antiéticas encontradas em filmes. Uma análise de filmes como Bee Movie, Rio e Procurando Nemo, são boas sugestões.

*A revista Nova Escola ainda sugere a leitura e análise dos contos “Teoria do medalhão”, de Machado de Assis, “Dois dedos”, de Graciliano Ramos, e “Seminário dos ratos”, de Lygia Fagundes Telles, que falam sobre corrupção.

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*Realização de gincanas e brincadeiras que estimulem a preservação do meio ambiente e da sustentabilidade.

*E ainda a criação de um código de conduta cidadã dentro da escola: os 10 mandamentos éticos do dia a dia, que serão elaborados pelos próprios alunos.

FONTE: MP de Joinville e Secretaria de Educação