“Enquanto está no papel, a peça é apenas a lagarta, quando muito a crisálida. Só vai criar asas e cores e tomar força de voo e enfrentar a luz depois que o palco a transforma em borboleta”. Era assim que Rachel de Queiroz (1910-2003) via o processo de seu recém- escrito A Beata Maria do Egito (1958) em artigo publicado na revista Cruzeiro.

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De fato, não demorou muito para que o texto – entre os cinco escritos por ela para o teatro – ganhasse as tais asas necessárias para completar o ciclo da dramaturgia. As honras foram feitas por um grupo carioca em 1959 e repetidas nas décadas posteriores por companhias de todo o País e até levadas à televisão na década de 70. É justamente essa duradoura resposta ao tempo que motivou dois grupos de Joinville, Navegantes da Utopia e Canto do Povo, a recuperar a trama, que será apresentada nesta sexta-feira no Galpão de Teatro da Ajote.

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– Participei da montagem desse texto na Casa da Cultura, em 1994. Tinha vontade de remontá-lo, mas só em 2012 inscrevemos no Mecenato do Simdec – conta Norberto Deschamps, ator e codiretor da peça ao lado de Hélio Muniz, responsável pela adaptação, que precisou sofrer alguns cortes.

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Em A Beata Maria do Egito, Rachel consegue confrontar um comportamento excepcional – de santo – com conflitos ideológicos, poder e paixão. O ponto de partida é a lenda da Santa Maria Egipcíaca, lembrada anteriormente por Manuel Bandeira no poema Balada de Maria Egipcíaca. Tudo adaptado ao contexto nordestino, marca registrada da autora.

“Dei-lhe o nome de Maria do Egito – única analogia direta que permiti com a santa verdadeira; criada pelos penitentes da serra de Mombaça, devota do padre Cícero, a quem pretende socorrer com um grupo de romeiros, quando os soldados rebelistas cercam a cidade santa do Juazeiro. Presa em caminho, ela, tal como a santa, vê-se obrigada a lançar mão do corpo, fazer o sacrifício da sua pureza, a fim de obter passagem livre, na sua cega marcha para a terra santa”, apresenta Rachel no mesmo texto publicado na Cruzeiro.

– Rachel coloca uma beata em meio a uma história real, a Revolta de Juazeiro (Ceará, 1914). Maria é uma personagem forte, que não mede esforços e sacrifícios para conseguir o que quer – diz Norberto.

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Na montagem dos grupos joinvilenses, apresentada pela primeira vez depois da temporada de estreia em outubro de 2014, Maria do Egito é interpretada por Sara do Nascimento, acompanhada em cena por Marco A. Tebaldi, Marlon Zé e Deschamps. Um coro formado por Afonso Vieira, Andréia Russi, Henrique Schlickmann, Marlon Zé e Silvia Regina Vieira dá voz aos romeiros. Alguns nomes se repetem na ficha do espetáculo. Cenografia e figurinos são assinados por Marlon, assim como a iluminação, montada por Flávio Andrade e operada por Hélio, um dos diretores. Outra cooperação vem de Afonso, responsável pela pesquisa e direção musical.

Agende-se

O quê: espetáculo A Beata Maria do Egito

Quando: sexta, às 20h30

Onde: Galpão de Teatro da Ajote, na Cidadela Cultural Antarctica (rua 15 de Novembro, 1.383).

Quanto: ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia). Vendas antecipadas pelo enjoyevents.com.br e no Restaurante Capitão Space (avenida Marquês de Olinda, s/nº, Santo Antônio, Joinville). A bilheteria do teatro abre uma hora antes do espetáculo