Um trabalho desenvolvido em Lages, na Serra catarinense, tem chamado a atenção do meio científico. Brisa, uma vaca clonada de uma raça rara no mundo, é uma façanha conquistada por meio de uma parceria entre o Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri). O animal está com três semanas, é saudável e bebe seis litros de leite por dia, um a cada três horas.

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Junto com São Paulo e Brasília, Lages é considerada um berço de clones bovinos. A cidade, que trabalha com este tipo de experimento desde 2008, já teve quatro experimentos de clonagem.

Dois morreram pouco antes de nascer e dois tiveram êxito – a Catarina, que nasceu em 2008 e vive em Itajaí; e a Brisa, primeiro clone da raça Flamenga, ameaçada de extinção.

Fabiano Zago, veterinário e colaborador do experimento, diz que Brisa representa uma vitória para o grupo envolvido no trabalho. Fabiano, que defendeu tese de mestrado sobre a raça Flamenga, acredita que o clone é uma chance de afastar a raça da extinção.

– A Epagri mantém o único rebanho da raça no Brasil, com cerca de 50 animais. Em outras partes do mundo ainda existem pequenos rebanhos, mas a Brisa é uma tentativa de reativar a produção destes animais por aqui – explica.

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O coordenador do Laboratório de Reprodução Animal do CAV, Alceu Mezzalira, explica que a história de clonagem em Lages é recente, mas teve avanços significativos. Brisa é um exemplo.

Segundo ele, para um acerto foram 32 tentativas, ou seja, 32 barrigas de aluguel para apenas uma nascer e sobreviver. No ano passado, Primavera, que seria irmã de Brisa, nasceu e parecia sadia, mas sobreviveu somente por 10 minutos devido a uma infecção no útero da vaca que a gerou. Na semana passada, outro clone precisou ser retirado da barriga de aluguel, já sem vida.

Por isso, garante Mezzalira, Brisa é um grande acontecimento para o CAV, para a Epagri e, principalmente, para a raça Flamenga. Além disso, a vaca da qual foram retiradas as células para clonagem é estéril, e Brisa provavelmente será fértil, o que fará dela uma reprodutora da raça.

Mezzalira explica que a raça Flamenga adapta-se muito bem ao clima serrano, daí o interesse em aumentar o rebanho. Até a década de 90, a raça era abundante, mas quando começaram a surgir os financiamentos do governo para criadores de vacas leiteiras, os recursos só eram liberados para a compra das raças Holandesa e Jersey. E daí veio o desaparecimento dos rebanhos de Flamenga.

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– Nosso objetivo é resgatar as características da raça Flamenga, que são ótimas, e aumentar o rebanho, tirando a raça do risco de extinção -, conclui Fabiano Zago.

Brisa, por enquanto, permanece no CAV e está sendo monitorada. Em aproximadamente 15 dias, o animal será levado para a Epagri, onde permanecerá separado do rebanho por seis meses para depois se juntar aos outros da sua raça para reproduzir.

Se tudo correr bem e Brisa não tiver nenhuma complicação, não há mais projetos de clonagem bovina programados pelo CAV e nem pela Epagri. O CAV trabalha agora com experimentos de clonagem de suínos, que ainda estão em andamento, e a Epagri segue com a raça Flamenga que, com a ajuda de Brisa, logo poderá reaparecer nas pastagens serranas.

Por que manter a raça Flamenga:

– Porque tem dupla aptidão (leite e carne);

– Produz leite em grande quantidade e com maior teor de gordura e proteína que outras raças;

– É menos exigente em termos de nutrição e clima (adapta-se melhor ao frio serrano);

– Maior destinação do macho (enquanto outras raças quase não aproveitam a carne dos machos, a raça Flamenga é ótima produtora de carne tanto das fêmeas quanto dos machos).

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