Levantamento divulgado em setembro pela Fundação Instituto de Planejamento Urbano de Joinville (Ippuj) mostra que o bairro Paranaguamirim, na zona Sul de Joinville, tem 29.434 habitantes. Está entre os mais populosos da cidade, mas vem sendo tratado como um bairro nanico pela administração pública.
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:: PDF: os pedidos e os compromissos para o Paranaguamirim ::
A falta de investimentos na infraestrutura fica evidente em outros números e nas queixas de líderes comunitários. Segundo o Ippuj, só10,95% dos 105.530,05 metros de ruas são asfaltados. O secretário da subprefeitura Sudeste, Vilderson Laureano, tem em mãos índice um pouco mais otimista: 18,78%. O que não ameniza muito o tamanho das demandas nas áreas de trânsito e mobilidade, educação e lazer, saúde, segurança e, claro, pavimentação.
A líder comunitária Antonia Maria Leandro, ligada à Associação de Moradores do Estevão de Matos, afirma que a comunidade está principalmente revoltada com as promessas não cumpridas de asfaltamento. Em 2011, houve grande otimismo quando verbas do PAC 2 foram anunciadas para a pavimentação de dezenas de ruas do bairro. Mas a expectativa novamente virou frustração.
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Há quatro meses na Paróquia Santa Luzia, vindo de quatro anos de trabalho intenso na paróquia do Aventureiro, padre Nivaldo Oliveira Souza afirma que ficou particularmente assustado com a falta de segurança e de opções de lazer na região. Segundo ele, só uma receita pode mudar essa história: a união das forças vivas do bairro – igrejas, escolas, associações de moradores, comércio, indústrias, conselhos de segurança e saúde e outras entidades que existirem.
As lideranças do bairro ficam ainda mais preocupadas quando constatam que num futuro próximo os moradores e as necessidades vão aumentar consideravelmente, com a construção de apartamentos do Programa Minhas Casa, Minha Vida no loteamento Canaã, além de um grande número de geminados, em fase de finalização, espalhados por todo o bairro. Isso vai se traduzir em pelos menos mais cinco mil habitantes. Há ainda a instalação prevista de um complexo industrial. Mais veículos, mais crianças, mais jovens, adultos, idosos… E cadê a estrutura?
Mesmo com tantos desafios, padre Nivaldo e o presidente da Associação de Moradores do Loteamento Estevão de Matos, Odirlei Grabner, são otimistas, porque veem a força que a comunidade faz para melhorar as condições de vida.
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– Apesar das dificuldades, o povo ainda sonha, tem esperanças de melhorias. Agora, por exemplo, estamos discutindo as possibilidades de turismo rural na Estrada Rio do Morro. Moradores de lá fizeram curso na Fundação 25 de Julho e veem boas perspectivas neste sentido. Eu também acredito – diz padre Nivaldo.
O prefeito Udo Döhler admite que a Prefeitura avançou muito pouco até agora no atendimento das demandas do Paranaguamirim e prometeu priorizar as questões dessa comunidade.
– O bairro está numa situação quase emergencial e precisa de atenção.
Projeto compartilha histórias
Para quem entra no bairro Paranaguamirim pela principal via de acesso, a Monsenhor Gercino, uma das primeiras construções a chamar a atenção é a grande estrutura da Paróquia Santa Luzia, com seus estacionamentos lotados e um grande fluxo de pessoas conversando e interagindo por todos os lados.
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Também chamado carinhosamente de Panágua, o bairro tem mais de 29, 4 mil habitantes espalhados pelas comunidades do Estevão de Matos, Jardim Edilene, Morro do Amaral, Tropical, Ana Júlia, Village 1 e 2, Princesa, Humberto Zanata, Cecília Lopes e São Domingos. Gerações mais antigas, que testemunharam a formação do Paranaguamirim, lamentam o esquecimento das necessidades da região.
Com 62 anos, a aposentada Valmira Lima caminha quase dois quilômetros todos os dias para levar a netinha Juliana ao CEI Alegria de Viver. O problema é que as duas são obrigadas a fazer esta jornada no barro.
– Não tem asfalto, calçamento ou qualquer coisa que o valha. É só lama e barro para todos os lados – reclama dona Valmira.
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Em meio a tantas demandas na saúde, na educação, na mobilidade, na segurança, enfim, na infraestrutura em geral, surgem iniciativas que, aos poucos, vão dando outras cores à vida no Paranaguamirim. Uma delas, que junta a experiência de vida dos moradores mais antigos da região com a vontade deles de contar e compartilhar histórias e memórias, já começou a render os primeiros resultados.
Imigrantes e fundadores do Paranaguamirim participaram de um primeiro encontro na Igreja Miguel Arcanjo, no loteamento Estevão de Mattos, no início de novembro deste ano. Foi uma espécie de mesa-redonda para discutir e compartilhar detalhes da construção e da evolução do bairro, desde a chegada dos imigrantes até as ramificações das famílias colonizadoras. A ideia foi da estudante Josiani Maria Carvalho, do curso de psicologia de Associação Catarinense de Ensino (ACE).
O projeto surgiu quando, em contato com o Consulado da Mulher de Joinville, Josiani garimpou dados sobre a cronologia de Joinville e se deparou com uma lacuna no Panágua. Segundo ela, a pesquisa apontou dados muito recentes, que não condizem com a história centenária da região.
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– O Paranaguamirim teve um forte crescimento populacional nos últimos 15 anos, mas é importante saber quem são essas pessoas e de onde elas vieram – afirmou Josiani Carvalho.
Para encontrar estes personagens, Josiani tem a ajuda da professora Rosane Matos, que mantém contato com mais de quatro gerações de moradores e filhos de imigrantes. Ela está trabalhando firme para ver o sucesso do projeto porque, garante, há muita história boa para ser contada no Paranaguamirim.
* Colaborou Átila Froehlich