Enquanto prefeitura e servidores públicos não conseguem entrar em um acordo para terminar a greve que já dura 15 dias, quem precisa encontrar uma solução para a falta de serviços públicos é a população. Além das creches, escolas e postos de saúde, ontem de manhã o transporte coletivo também parou por duas horas. Foi o ápice do caos para quem depende de educação, saúde e transporte providos pelo governo.
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Pelo menos 28 mil crianças estão sem atendimento no sistema municipal de ensino. Desse total, segundo a Secretaria de Educação, 17,3 mil são do Ensino Fundamental e outras 10,6 frequentam os Centros de Educação Infantil (CEIs). Precisando trabalhar para garantir o emprego e o sustento da casa, os pais contam muitas vezes com a ajuda alheia para que a rotina prossiga.
Na Itoupavazinha o auxílio chegou aos pais de 14 crianças através de Márcia*. Os vizinhos viram nela a possibilidade de manter os filhos guarnecidos num lugar seguro. Quando a greve começou, um morador próximo perguntou se Márcia poderia cuidar do filho dele. Dona de casa e mãe de três pequenos, não houve como negar ajuda. Depois outros 13 se juntaram.
Desde o início da greve as nove crianças e os cinco bebês se revezam em turnos na casa simples de poucas peças. Ontem ao meio-dia o aroma de aipim cozinhando se espalhava pela casa enquanto os pequenos assistiam desenho na TV e três bebês dormiam. Frango, arroz e salada ainda complementavam o almoço preparado pelo marido de Márcia, que ajuda até as 13h, quando começa o expediente. Eles não cobram nada dos pais. A ajuda com a alimentação veio de um grupo da Igreja Adventista.
_ Por que os pais têm que ser os punidos? Eles precisam trabalhar porque a prefeitura não vai pagar o aluguel de ninguém. Cada um (prefeitura e sindicato) tem que ceder um pouco para a greve acabar _ acredita Márcia.
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A Secretaria de Educação ainda avalia como ficará o calendário escolar. Se a greve continuar até sexta-feira, o órgão prevê o comprometimento das férias de julho. Três feriadões que seriam ponto facultativo também devem ter aula normal.
Apesar das informações da prefeitura de que os Ambulatórios Gerais (AG) estão funcionando normalmente, nem todos os serviços estão sendo prestados. Foi o que constatou Jéssica Mayra da Paixão Reis, 17 anos, quando procurou o AG da Fortaleza ontem à tarde para vacinar a filha Jordana Mariele, de um ano. Desde o dia 26 de maio ela tem ido à unidade para vacinar a criança contra a gripe e fazer o reforço de outras doses, mas ainda não conseguiu:
_ Eles me deram o telefone daqui e pediram pra ligar todo dia pra ver se a greve acabou, porque enquanto tem greve não tem ninguém pra dar a vacina. Não posso ir em outro posto porque eles dizem que esse aqui é a minha referência.
Funcionando, mas nem tanto
De acordo com o diretor-geral da Secretaria de Saúde, Andrigo José Beber, cerca de 420 profissionais da área aderiram à greve. Eles compõem as 66 equipes das Estratégias de Saúde da Família (ESF), das quais 31 paralisaram completamente. Segundo Beber, os atendimentos nos outros 35 postos e nos sete AGs ainda estão ocorrendo, mas não exatamente de modo normal. Com a greve a secretaria teve que fazer mudanças e alguns ESFs onde poucas pessoas ficaram trabalhando foram fechados para reforçar outros locais que são mais procurados. Ele explica que os ESFs atendem entre 30 e 40 consultas agendadas por dia:
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_ Estamos ligando para os pacientes e tentando adiantar as consultas nos ESFs que estão abertos, para que quando as outras unidades voltem, estes espaços estejam vagos e o trabalho não fique tão atrasado. O problema é que o fechamento dos ESFs envolve uma série de questões, como a marcação e entrega de exames, além das consultas. Só vamos conseguir reorganizar tudo quando os postos voltarem a funcionar.
Os hospitais também sentiram o impacto da greve. A assessoria de imprensa do hospital Santo Antônio informou que houve um aumento de 20% na procura por atendimentos ambulatoriais desde que a paralisação começou. A coordenadora do serviço de emergência do Hospital Santa Isabel, Andréa Nuss, também confirma que houve crescimento na busca por serviços de ambulatório e afirma que as mudanças no clima, além da greve, colaboraram para que houvesse mais procura pelos atendimentos no hospital.