Vinte e um anos depois de o Mercosul ter sido criado, em Assunção, o país que serviu de anfitrião para a cúpula de nascimento do bloco é o primeiro integrante a ser afastado dele.

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O Paraguai foi barrado da reunião que se iniciou ontem, com os chanceleres, e se encerra hoje, com a presença dos presidentes.

O país também deve ficar de fora das reuniões e das decisões do Mercosul até abril do ano que vem, quando ocorrem novas eleições presidenciais. Com as incertezas provocadas pela situação paraguaia – o impeachment do presidente Fernando Lugo e a posse de seu sucessor, Federico Franco -, o Mercosul deu início ontem a uma cúpula agitada como há muito não se via – e com sinais diversos. No momento em que o vice-presidente do Parlamento do Mercosul, o deputado paraguaio Ignacio Mendoza Unzain, reclamava de ter sido barrado de reuniões preparatórias, o bloco regional liberou

US$ 66,04 milhões em recursos para obras de linhas de transmissão de energia elétrica para seu país. A tendência é de que hoje o novo governo paraguaio não sofra sanções econômicas. Apenas seja afastado.

Em meio a tudo isso, o alto representante do Brasil no Mercosul, Samuel Pinheiro Guimarães, renunciou ao mandato, atitude que ocorre ao mesmo tempo em que o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, rejeitou a adoção de sanções econômicas ao Paraguai. As razões não foram explicitadas pelo Itamaraty. Em um discurso de despedida, Guimarães citou como motivo para sua renúncia a falta de apoio a projetos apresentados por ele para o bloco. O diplomata é um homem de posições fortes, com atuação alinhada à esquerda.

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Ajuda econômica indica que punição será só política

Apesar das restrições ao seu país e do desconforto em relação a isso, o chanceler paraguaio, José Félix Fernández Estigarribia, festejou, em Assunção, a ajuda financeira, vendo-a como demonstração de que não haverá as temidas sanções econômicas:

– O envio dos recursos representa um gesto político. É um fato muito positivo por parte dos nossos sócios do Mercosul (os recursos se originam de um fundo criado em 2006 para diminuir as assimetrias econômicas do Paraguai e do Uruguai em relação ao Brasil e à Argentina).

Outro aspecto importante da cúpula: o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, participou de reunião com Patriota e os chanceleres do Uruguai, Luis Almagro, e da Argentina, Hector Timerman. A Venezuela manifesta desde 2006 o desejo de ser membro pleno do Mercosul. Brasil, Argentina e Uruguai já haviam aprovado o ingresso. O Paraguai ainda não – e a sua suspensão pode representar a abertura das portas para os venezuelanos.