Os sinais de boa vontade já foram trocados, e o caminho está sendo pavimentado para o retorno do Paraguai ao Mercosul a partir de 15 de agosto, quando o presidente eleito Horacio Cartes toma posse.

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No Itamaraty, a vitória de Cartes foi vista como uma conquista. O presidente eleito até está convidado para a reunião do Mercosul no Uruguai, em junho. Só não vai por um prurido: prefere participar de tais eventos quando devidamente empossado.

A diplomacia brasileira mantinha tratativas com os dois principais candidatos paraguaios, o liberal Efraín Alegre e o colorado Cartes. Em todas essas conversas de bastidores, Cartes sempre foi o mais receptivo. Chegou a dizer que o ingresso da Venezuela é um fato consumado, cabendo ao Paraguai acatá-lo – em resposta prévia a manifestações que já ocorrem, da parte do Brasil, vinculando a volta paraguaia à aceitação da Venezuela. Cartes deve submeter o caso ao Legislativo, apesar de o ingresso venezuelano ter sido legitimado no bloco.

Alegre, alinhado ao presidente Federico Franco (ambos pertencem ao Partido Liberal), impunha condições para o regresso. Lembrava que o Paraguai, no vácuo do Mercosul, aproximou-se de parceiros como Estados Unidos, México, Canadá e o Bloco do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México). Ou seja, não está tão isolado.

Já na noite de domingo, em seus primeiros pronunciamentos, Cartes se dizia disposto a trabalhar com o Brasil, a quem define como “país irmão”. Em relação ao Mercosul, disse ontem que seria “burrice” não retornar.

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Outra demonstração de reaproximação: os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, do Uruguai, José Mujica, e da Colômbia, Juan Manuel Santos, enviaram, no mesmo domingo da eleição, mensagens de felicitações a Cartes. Dilma telefonou às 15h de ontem. Em nota, o Itamaraty relata que, na conversa de cinco minutos, Dilma “desejou um governo bem-sucedido e ressaltou a disposição para recompor as relações bilaterais e do Paraguai como Mercosul”. Cartes respondeu agradecendo e dizendo que está pronto para trabalhar pela normalização da diplomacia.

A espera brasileira por um passo em conjunto

De qualquer forma, as economias de Brasil e Paraguai ignoram a suspensão política do Mercosul. O Brasil tem com o Paraguai seu quarto maior superávit comercial no primeiro trimestre de 2013 (US$ 508 milhões).No âmbito do Mercosul, o Paraguai é o único país que tem aumentado as importações do Brasil. O Paraguai aumentou em 37% suas exportações para o Brasil no primeiro trimestre, e o Brasil aumentou em 31% suas exportações para o Paraguai.

Em termos formais, o Brasil evitará dar um passo sem a parceria dos outros integrantes. As demonstrações públicas mais enfáticas surgem de forma isolada. São pequenas peças que formam uma clara vontade política comum. Cristina Kirchner disse ainda no domingo, pelo Twitter, que o Paraguai de Cartes é esperado no Mercosul, seu lugar “de sempre”. Cartes, também pelo microblog, respondeu: “Muitas bênçãos, presidenta, e, mais uma vez, obrigado. Espero que venha em breve ao nosso país.”

O porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, ressalvou que não há “automatismo” no retorno paraguaio, mas elogiou o “civismo” do país vizinho na eleição, o que, segundo o diplomata brasileiro, “enaltece a democracia”.

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