O sorriso de Joshua ao montar na égua P.O. representa muito mais do que a felicidade de poder praticar a atividade que mais ama. Para o garoto de 11 anos, diagnosticado ainda bebê com paralisia cerebral, é a oportunidade de ser como as outras crianças. É assim que a mãe, Rolenia Almeida, define, com lágrimas nos olhos, a evolução do filho nas aulas de equitação adaptada.
Continua depois da publicidade
A modalidade é uma das mais recentes que foi implantada no programa Paradesporto Escolar de Blumenau. O projeto criado em 2011, de forma embrionária com 17 participantes, já chega a aproximadamente 500 alunos. Para muitas deles, uma porta aberta para o mundo.
– Nós cremos que nenhuma criança precisa viver no diagnóstico. Pode tranquilamente ter uma vida saudável, feliz. O limite quem vai dar é ele – diz Rolenia, emocionada.
Joshua é uma revelação dos Jogos Estudantis da Primavera de Blumenau de 2018, que após 39 anos, a partir de 2012 passou a incluir modalidades paradesportivas. Ele faturou duas medalhas de ouro e uma de bronze nas modalidades de atletismo e bocha. Naquele dia, conta a mãe, o menino saiu do Complexo Esportivo do Sesi convicto de que praticar esporte era o que queria.
Como ele é aluno de uma escola particular, a família não acreditava que fosse possível matriculá-lo no programa. Quando os pais descobriram que era permitido, não pensaram duas vezes.
Joshua faz questão de mostrar, montado na égua, como evoluiu desde que iniciou as aulas, em fevereiro. A professora Silvia Karina Luciani, responsável pelas aulas de equitação adaptada, explica que os exercícios propostos trabalham correção postural, equilíbrio e flexibilidade.
Continua depois da publicidade
Quando chegou ao Paradesporto Escolar, o menino não conseguia montar sozinho na égua, tarefa que hoje tira de letra. Além disso, está prestes a dar um passo importante: segurar a rédea. A escolha pela equitação adaptada veio depois de uma avaliação técnica. A modalidade atende as necessidades do garoto. Com aspectos como força muscular e equilíbrio desenvolvidos, a próxima fase prevê o ingresso nas aulas de atletismo.
– Ele se sente autoconfiante, porque não é algo que o outro faz por ele. Hoje o Joshua não ouve só os amigos falarem das atividades paralelas, ele pode falar que também faz e se dá bem. Nós o incluímos na sociedade através do esporte. Isso torna a criança sem limite – garante Rolenia.
O menino cheio de determinação e a boa vontade não tem certeza se quer competir. Por enquanto as aulas são momentos de diversão, desenvolvimento físico e pessoal. O que garante de fato é o sonho de salvar o mundo.
– Penso que se respeitarmos os outros, da forma como são, em suas diferenças, aceitando cada indivíduo da forma que somos, o mundo será salvo – diz a professora Silvia, sobre o sonho de Joshua.

Programa se torna referência
Desde que foi idealizado e ganhou apoio da administração municipal, em 2011, o Paradesporto Escolar de Blumenau cresceu. O marco do projeto veio em 2013, quando se tornou de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação e virou referência no Brasil. O programa foi um dos seis selecionados, em 2017, para ser apresentado durante o Seminário Internacional da Associação Nacional de Desporto para Deficiente.
Continua depois da publicidade
A metodologia multidisciplinar, diretamente ligada às unidades de ensino, é apontada como a chave para o sucesso do desenvolvimento e na qualidade de vida das crianças, pois auxilia os professores das unidades de ensino a atender melhor cada deficiência e como trabalhar a partir dela. A secretária de Educação Patrícia Lueders diz que a decisão de viabilizá-lo dentro das escolas surgiu a partir das fragilidades e falta de políticas públicas na área do paradesporto no país. Depois que se tornou realidade, ela conta que os resultados são expressivos.
– Na aula podemos destacar avanços como a ampliação da concentração e da coordenação motora fina. Fora de sala é perceptível a melhoria na integração com os estudantes sem deficiência. Hoje, é natural esta integração. Na saúde, obtemos a melhora do sono, diminuição no uso de medicamentos, melhora na respiração, equilíbrio e força muscular – pontua a secretária.
Atualmente, 500 alunos com algum tipo de deficiência ou síndrome são atendidas pelo programa. Conforme a necessidade, surge uma modalidade diferente. Um levantamento da secretaria aponta que a rede municipal de ensino tem 589 alunos com deficiência.
A idealizadora e diretora do programa, Giselle Margot Chirolli, garante que toda a demanda é capaz de ser absorvida com a estrutura que se consolidou e até de abranger estudantes da rede estadual e particular. A ideia é ampliar o programa, conforme a necessidade. Como ocorre desde o início. O projeto iniciou com seis modalidades, hoje conta com 11 e contempla até os Centros de Educação Infantil.
Continua depois da publicidade

Segundo a prefeitura, são investidos aproximadamente R$ 2 milhões ao ano para manter aulas de tênis de mesa, judô, natação escolar e infantil, atletismo, bocha paralímpica, goalball, ginástica artística, equitação adaptada, para-remo e futebol para paralisados cerebrais. Ainda assim, o valor não é o suficiente, considerando os preços dos equipamentos. Giselle afirma que só é possível viabilizá-lo com base em um tripé:
– O pilar maior é o município, com a política pública. Agora, sem Associação do Paradesporto de Blumenau, universidade e inciativa privada a gente também não daria conta. É essencial que a gente tenha todas essas mãos unidas para avançar com o paradesporto da cidade.
Aulas que se transformaram em troféus
No início do mês, a delegação blumenauense do paradesporto disputou a fase regional do Circuito Loterias Caixa de Atletismo e Natação, em Curitiba. Os 15 atletas trouxeram para casa quatro troféus e 30 medalhas, sendo 14 de ouro, 10 de prata e seis de bronze. Também alcançaram índices para a etapa nacional da competição. O resultado é inédito para o município.
José Alexandre Martins da Costa, 15 anos, tem orgulho de fazer parte dessa história. Começou no Paradesporto Escolar em 2016, e tem como inspiração o atleta paralímpico brasileiro e recordista mundial Petrucio Ferreira, de quem ouvi pessoalmente: “Tem que ter foco, força e fé e tudo vai dar certo”.
Continua depois da publicidade
O conselho é levado a sério e a comprovação são os resultados do adolescente. Além de vereador mirim, atualmente é tricampeão das Paralímpiadas Escolares Brasileiras na modalidade de atletismo nas provas de 200m rasos, 100m rasos e em salto em distância. Este ano foi a primeira vez que ele disputou uma competição de nível adulto, e brilhou na estreia: conquistou um ouro e dois bronzes, com índices para as etapas nacionais do circuito.
– Eu sonhava em ser um jogador de futebol, mas depois que o paradesporto entrou na minha vida, mudou tudo. Comecei a treinar todos os dias, batalho bastante e evolui muito. Agora sonho ser um atleta, representar a Seleção Brasileira em mundiais, nas paralimpíadas – confessa Petrucinho, como é popularmente chamado pelos amigos.
