Por Anna Virginia Balloussier e Artur Rodrigues
— Vote 24! Chapa Eva e Adão, é viadão — diz a drag Mona Alisa, 21, em seus primeiros cinco minutos na Paulista, o trocadilho seguido de uma gargalhada barítona.
Continua depois da publicidade
Ela deu largada em sua "campanha eleitoral" às 10h deste domingo (23), quando a avenida começava a encher para a 23ª edição da Parada Gay paulista.
O evento acontece numa "encruzilhada histórica", segundo Mona. Por um lado, a comunidade LGBT+ "está aterrorizada com esta família", diz em referência ao clã Bolsonaro.
Para ela, a presidência de Jair Bolsonaro fortaleceu um rebote ultraconservador contra o grupo.
Continua depois da publicidade
Mas nem tudo está perdido, continua. Ela lembra que um dos maiores pleitos LGBT foi enfim atendido: a homofobia e a transfobia entraram no rol dos crimes de racismo após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Magali, 60, foi à Parada para acompanhar os dois filhos. Quando eles, primeiro o caçula e depois o mais velho, revelaram que eram gays, ela admite: morreu de medo.
— O mundo ainda não vai ser fácil pra eles. Na nossa cidade o pessoal até sabe que eles são [homossexuais], ficam dizendo que tudo bem, desde que não comecem com 'boiolagem'. Acho triste — diz.
Eles vieram do interior paulista, e os meninos, de 16 e 17 anos, pela primeira vez usavam maquiagem para passear na rua. Até aqui, no máximo, batom só se fosse em festinhas fechadas.
Continua depois da publicidade
Ninguém da família conhecia a revolta de Stonewall, tema desta edição. Há 50 anos, LGBTs de Nova York protestaram contra violentas batidas policiais realizadas num bar da cidade, o Stonewall Inn.
Na época, todos os estados americanos consideravam ilegais relações entre pessoas do mesmo sexo.
— Ah, tipo o Brasil de hoje, pelo menos na prática — disse o filho mais novo de Magali.
— Para algumas pessoas, parece que ser gay é criminoso.
A parada tem trios comandados por shows de artistas como Iza, Mc Pocahontas, Luísa Sonza, Fantine, Lexa e da drag queen Gloria Groove, entre outras.
— A gente resiste, existe, insiste. E arrasa — afirma Mona Alisa, abrindo o leque nas cores do arco-íris.
— Deu até calor.