Se tem uma coisa que não combina com amor é sentimento de posse. Como é difícil para algumas pessoas perceberem que o outro, por mais que estejamos apaixonados por ele e ele por nós, continua sendo o outro. Ou seja, são duas pessoas, duas identidades, e que continuarão sendo assim para o resto da vida. Sempre que leio ou ouço a frase “nós dois nos amamos tanto que nos tornamos um só” chega a me dar arrepios. Como assim, um só?
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Para um relacionamento amoroso dar certo – independente do tempo que ele durar – é preciso que a individualidade de cada parte do casal seja preservada. Se não for assim, fatalmente a sensação de “sufocamento” virá, mais cedo ou mais tarde. Martha sofreu um golpe muito grande quando Alceu saiu de casa, depois de quatro anos morando juntos.
Ela ficou arrasada e teve que procurar ajuda médica para sair de um estado de tristeza tão grande que já beirava a depressão. Mas o coitado teve seus motivos e acho até que ele aguentou demais. Martha não o deixava respirar sozinho. Ela passava todos os dias no escritório para buscá-lo para almoçar.
Dizia que não queria dar chance para alguma “secretária solteira” se engraçar pro lado dele. No fim da tarde, ela o esperava na portaria do prédio. Isso de segunda a sexta. Nos finais de semana, ela queria ficar em casa vendo “um filmezinho no DVD” para não expor o marido à cobiça alheia. Happy hour com os amigos? Jamais! Futebol nas quartas?
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Nem pensar. Preferia-o gordinho e fora de forma, assim os olhares provocativos da mulherada seriam menos constantes. Sair para caminhar na praia sozinho no verão? Nem em pensamento, com tanta menina sarada metida em biquinizinho só pra se exibir para os homens das outras… Ou caminhavam juntos ou ficavam sentados, os dois, embaixo do guarda-sol, onde ela poderia vigiá-lo. Não adiantava aconselhar, dizer que assim ele iria acabar se cansando e saindo de casa.
Mais de uma vez Martha pediu para as amigas não darem palpite em seu casamento, pois ela sabia muito bem o que estava fazendo. Ah é? Então tá. Agora, não adianta chorar. Alceu está triste também, porque ele amava a mulher. Mas não aguentou a pressão de se sentir vigiado e controlado o dia inteiro, a vida toda. Está certo ele. Ninguém aguenta.
Rogério também é assim, vive cercando a namorada, cuidando todos os contatos dela no Facebook e no celular, querendo saber o tempo todo o que ela está fazendo e com quem. A mãe da menina já está preocupada com o futuro da filha.
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– Ele é ciumento demais. Se ela coloca uma saia um pouco mais curta, ele reclama. Sempre que saem juntos eles voltam para casa brigando, porque Rogério disse que ela fica olhando para os outros meninos. Tenho pena dela, pois Aline é apaixonada por ele e sofre muito com esta situação. A mãe tem motivos para ficar preocupada, pois o desfecho destes casos patológicos de ciúmes e posse está todos os dias na mídia.
Quantas vezes assistimos na televisão histórias de homens que mataram as ex-mulheres porque simplesmente não suportaram serem abandonados, ou trocados por outro? Alguns relacionamentos doentios chegam a durar anos – quando não a vida inteira – por medo das ameaças e da violência.
O melhor mesmo, quando uma boa conversa não adiantar, é cair fora de uma relação que sufoca e não te deixa respirar enquanto é tempo. Nunca se sabe o dia de amanhã.
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