Tendência que se intensifica entre brasileiros e, principalmente, gaúchos, o encolhimento das famílias foi alvo de críticas do papa Francisco.

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Em missa matinal celebrada nesta segunda-feira na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, o pontífice lamentou que casais católicos tenham apenas um filho “por conforto”, para “viajar de férias” ou “comprar uma casa”.

– O bem-estar nos anestesia, nos faz mergulhar, nos tira a coragem de ir até Jesus – afirmou o Pontífice.

No maior país católico do mundo, a declaração provocou polêmica nas redes sociais. A professora Aline de Campos, de Porto Alegre, rebateu pelo Twitter: “Porque bonito é ter 12 filhos e não poder sustentar, né?”.

De acordo com o diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Leonardo Chiarello, a posição da Igreja é a de que a paternidade responsável é decisão do casal, mas o par deve ser generoso:

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– É uma ação egoísta de muitos casais. As pessoas não estão sendo generosas, pois poderiam ter mais filhos e não os têm. Isso gera consequências nefastas para a sociedade.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, no Rio Grande do Sul, a média de filhos por mulher caiu de 5,2 em 1950 para 1,75 em 2010. No Brasil, estes números ficaram, respectivamente, em 6,2 e 1,9.

Segundo o antropólogo Moisés Kopper, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), à medida em que o número de herdeiros é reduzido, é possível investir em certos privilégios:

– Se é resultado de um planejamento familiar, vai haver a canalização dos esforços dos pais para aquele filho, que terá melhores condições de educação, por exemplo.

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Apesar do burburinho após a declaração, o diretor da Faculdade de Teologia da PUCRS, Leonardo Chiarello não considera que a fala do Papa tenha frustrado expectativas ou tenha dado motivo para polêmica.

Chiarello admite que, por trás da fala, também está a preocupação com o futuro da Igreja. Segundo ele, a cultura muçulmana – com famílias mais numerosas – tende a se expandir para o Ocidente, fazendo o número de muçulmanos superar o de cristãos.

A tendência de ter menos filhos é constatada até na pequena União da Serra, considerada a capital da fé católica – 99,15% dos 1.487 habitantes seguem a religião. O padre Osmar Burille tem notado que, cada vez mais, é raro encontrar casais mais jovens com três filhos ou mais.

– Um ou dois, no máximo – diz.

Sexto entre 13 irmãos, Burille mesmo teve apenas uma filha, fruto de um casamento que terminou uma década antes de ser ordenado padre. Mesmo entre seus irmãos, a maior prole não passa de três.

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– Não podemos ir contra esse processo evolutivo da sociedade. Claro que a gente gostaria que as pessoas tivessem mais filhos, mas esse tempo passou – declara o padre.