Na tentativa de proteger os filhos do território incerto que é a internet, pais são capazes de tudo. Até mesmo de ultrapassar limites considerados saudáveis, invadindo a privacidade e correndo o risco de trair a confiança, situações que ocorrem quando os pais fazem questão de ter as senhas do correio eletrônico ou de programas de bate-papo do seu filho para ter acesso a registros das conversas com amigos ou desconhecidos.
Continua depois da publicidade
Um estudo encomendado pelas empresas Trust e Lighspeed revelou a preocupação dos pais com o uso das redes sociais pelos filhos. Do total de pessoas entrevistadas, 72% disseram que checam o que a prole acessa em sites como Orkut, Facebook e Twitter. No estudo, os pais afirmaram que entram pelo menos uma vez por mês para verificar o conteúdo acessado. No Facebook, por exemplo, mais de 90% dos pais têm perfis. Mesmo com a vigilância, 84% dos pais acreditam que os filhos são responsáveis na hora de usar as redes sociais.
Nesse contexto, há os que criam perfis falsos em redes sociais para vigiar ações dos jovens, e no caso de alguns pais, até mesmo forçar situações e ver como eles se saem frente aos riscos e tentações. Programas espiões também são usados por alguns pais com maior conhecimento de informática.
Segundo o professor e coordenador da especialização em Jornalismo Digital da Faculdade dos Meios de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e consultor em novas mídias, Marcelo Träsel, a tecnologia dá a falsa ilusão de que se pode controlar o rumo dos outros, sem conflitos.
– A meu ver, esse tipo de vigilância é contraproducente. O objetivo pode ser protegê-los dos riscos do mundo virtual, mas inevitavelmente essas estratégias são descobertas pelos jovens e acabam passando a mensagem de que os fins justificam quaisquer meios. Sob o pretexto de proteger os filhos, cria-se péssimos cidadãos. Os filhos logo se tornam mais espertos do que os pais no campo da informática e passam, eles mesmos, a usar perfis falsos em redes sociais e coisas do tipo – diz Träsel.
Continua depois da publicidade
A solução, nesses casos, é mantê-los na linha por meio do diálogo, acompanhando abertamente as atividades das crianças e jovens na Internet, conversando sobre o uso que eles dão para as ferramentas. Pais atentos terão toda informação de que necessitam para cuidar dos filhos.
– O diálogo toma tempo e muitas vezes gera conflitos, mas ninguém disse que ter filhos é fácil – ressalta Träsel.