Arquivos de processos judiciais revelam que a onda de mortes de presos na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, em 2011, tem por trás a ação de criminosos ligados ao PGC. As sentenças eram decretadas para derrubar o diretor do complexo prisional ou por falta de pagamento do dízimo da facção.
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Cada preso batizado pelo bando é obrigado a pagar R$ 100 mensais. De todo o investimento feito pelo grupo é exigido retorno de 10% a 30%. Assim, se o integrante cometer um assalto com arma fornecida pelo PGC, deve repassar a devida quantia do valor do crime executado na rua.
O dinheiro vai para o caixa geral da quadrilha e então é revertido em drogas, armas, pagamento de advogados, compra de alimentos, ajuda a familiares de presidiários e ao financiamento de atentados. Quem não honrá-lo, pode ser condenado à morte.
Foi o que aconteceu com o detento Edson Vieira Sarmento, 36 anos, executado dentro da penitenciária. Ele morreu com golpes de estoque, uma arma branca caseira, às 9h30min de 12 de fevereiro de 2011, durante o banho de sol. Tinha dívida de R$ 100 referente ao dízimo. Mesmo após saída temporária, não quitou o débito. Os criminosos decidiram então não poupá-lo.
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A motivação consta na ação penal em que, em fevereiro deste ano, terminou com a condenação de Chayman Silveira Cabral, a 12 anos de prisão pelo crime. Na sentença, está escrito que a ordem para o assassinato partiu do PGC.
Em 2011, houve pelo menos 11 mortes na Penitenciária. A suspeita é que, insatisfeita com as novas regras impostas aos detentos pela direção da unidade, a facção tenha ordenado os crimes em represália.
– O bando prometia matar um por dia por causa da rigidez na segurança e nas revistas – disse um agente à Justiça.
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Arrombador de cofres, Sarmento era natural de Capinzal, no Meio-Oeste, e estava na penitenciária desde 2008 condenado a mais de 10 anos de prisão.
Em 2009, deixou a cadeia para o benefício da saída temporária e não retornou. Acabou sendo recapturado em 2010. Um ano depois foi morto na própria prisão. Detentos relataram no processo que ele teve chance de pagar a dívida com uma saída temporária de sete dias e não o fez.
Soldado do crime ou discípulo base, Chayman foi recrutado para matar Sarmento porque havia ingressado há pouco tempo na cadeia e era réu primário. Atacou o alvo com o estoque de ferro em forma de espeto feito na prisão, de 28 centímetros, de forma rápida e inesperada, embaixo de uma escada. Sarmento foi atingido com nove golpes no coração. Chayman disse que agiu para resguardar a sua integridade física na prisão.
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Além de Chayman, outros dois presos foram denunciados pela morte: Sebastião Carvalho Walter, o Polaco, e Jocenir Fagundes de Oliveira, o Bruce, que são do primeiro ministério do PGC.