Imagens produzidas por pessoas comuns se tornaram um elemento da investigação do atentado de Boston. A doutoranda em Comunicação e Informação na UFRGS e professora do curso de Design Digital da Universidade Federal de Pelotas Gabriela Zago fala sobre as consequências dessa proliferação das imagens:
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Zero Hora – A superconectividade ajuda ou atrapalha as investigações?
Gabriela Zago – A superconectividade pode ser útil ou ruim. Apenas ter vários vídeos à disposição não é garantia. Mas o fato de várias pessoas estarem a todo momento – especialmente em eventos como uma maratona – com seus celulares e tablets a postos para filmar e fotografar momentos, é e tende a ser cada vez mais útil. Mas, também, há muito ruído na rede, e informações falsas que podem atrapalhar as investigações.
ZH – O FBI chegou a analisar imagens de um homem no telhado, que nem parece acrescentar nos trabalhos. Isso pode dar margem para um debate sobre a divulgação de imagens associadas a crimes nas redes sociais?
Gabriela – Pelas leis brasileiras, ninguém é considerado culpado sem o devido processo legal. A divulgação da imagem de meros suspeitos, identificando-os como criminosos, fere esse princípio. Por outro lado, é complicado evitar que a produção amadora não se espalhe na rede. Caso se comprove posteriormente que o homem do telhado nada teve a ver com os atentados, isso pode ter consequências jurídicas, ou, no mínimo, gerar um gigantesco debate global sobre ética na captação e divulgação na rede de imagens sobre atentados e crimes. Um risco que se corre em uma sociedade em rede com conexão generalizada é assistir a uma maratona no telhado de casa e ser confundido com um terrorista. É o fim da privacidade em espaços públicos. É o que a pesquisadora da UFRJ Fernanda Bruno chama de vigilância distribuída. A vigilância vem de toda parte e é também exercida pelos cidadãos comuns.
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ZH – Algum dia será possível desvendar crimes exclusivamente por meio de redes sociais?
Gabriela – Provavelmente. Temos casos de crimes desvendados por câmeras de segurança. Acrescentando a isso os vídeos, fotos e relatos postados nas redes sociais produzidos por testemunhas acidentais, as possibilidades são infinitas. Mas também crescem as possibilidades de falsas acusações, o que vai implicar cuidado maior da imprensa, da polícia, e de outros usuários ao lidar com esse conteúdo. Imagens falsas/manipuladas também são passíveis de receber circulação, pelas mesmas vias em que circulam informações verdadeiras.