Torta, suflê, sucos, mousse, manjar, licores, comidas quentes ou frias, doce ou salgada e até mesmo chá de morango. Gertraut Schneider, 78 anos, sabe fazer de tudo com a fruta símbolo de Rancho Queimado. Dona Traudi, como é conhecida, e o marido Silvino Schneider foram os primeiros a plantar a fruta no distrito de Taquaras ainda na década de 1970, quando o êxodo rural empacava o potencial agrícola da região. Para frear o esvaziamento do campo, os dois estimularam a subsistência dos moradores.
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:: Coluna do Beto Barreiros: Morangos em festa
Quando Traudi e Silvino se mudaram para Rancho Queimado em 1975, a cidade estava longe de se tornar a capital catarinense do morango. Falecido em 2004, o pastor luterano acabara de ser transferido para a recém-criada paróquia de Taquaras, vindo de Feliz (RS). Como o distrito de Taquaras ainda não tinha posto de saúde nem sede da Epagri (na época, Emater), a chegada dos dois foi vista como uma resposta ao êxodo rural.
– Quando chegamos, nos anos 1970, a região passava por um problema muito sério. Várias famílias estavam indo embora porque se frustravam com o campo, e nossa vinda foi vista como uma possibilidade de reverter a situação. Nós dois éramos professores, eu fui a primeira pedagoga de Taquaras, e o Silvino foi o primeiro pastor luterano em toda a região, além de dar aulas de Ciências numa escola pública – relembra dona Traudi.

Silvino Schneider plantou as primeiras mudas atrás da igreja
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Foto: Daniel Conzi/Agência RBS
Inspirado pela ideia da incorporação da fé na vida prática, o pastor começou a ultrapassar o papel de pregador e agir com as próprias mãos, montando hortas comunitárias. Embora a produção dessas hortas não fosse o suficiente para alimentar a comunidade inteira, o cultivo feito ali era pensado como um exemplo de agricultura sustentável. As mudas e sementes eram repassadas a outros agricultores, amplificando assim o potencial da iniciativa do pastor.
Dona Traudi aproveitava a crescente produção para mostrar o que era possível se fazer com o que tinham à mão. O clima favorável à plantação de pêssego, maçã, laranja e ameixa facilitou o cultivo de árvores frutíferas. As frutas deixaram de ser consumidas apenas na região e aumentaram a renda dos agricultores.
Viés ativista fez Silvino perder a posição de pastor
A proatividade de Schneider chegou ao auge quando a comunidade criou o Lar da Cultura e Harmonia, de Assistência e Reintegração Social: uma entidade sem fins lucrativos, religiosos ou políticos. Por causa da iniciativa, Silvino perdeu a posição de pastor em 1981. Inicialmente mantido às custas do casal, o Lachares estimulava modos alternativos de produção agrícola e chamou a atenção de entidades internacionais, como a alemã e luterana Brot Für die Welt (Pão para o Mundo) em 1982 e os governos estadual e federal, que arcaram com o terreno e as instalações.
Embora a ideia de Schneider estivessedando resultados positivos, a troca do pastor de Taquaras gerou um clima de desconfiança que dificultou as iniciativas da associação, fazendo o Lachares perder força entre os agricultores. Pedro Henrique Eger, técnico agropecuarista e amigo próximo do casal Schneider, se lembra da pressão que o pastor enfrentou na época:
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– Ele teve que escolher entre ser pregador ou ajudar o povo de outro modo, com a mão na massa. Não era suficiente pra ele conversar com os fiéis sobre os problemas e não tomar nenhuma atitude a respeito – diz Eger.
A desconfiança que se criou naquela época começou a minguar o Lachares, chegando ao ponto de a própria Igreja Luterana brasileira pedir para que a Federação Luterana Mundial (FLM) cancelasse um financiamento aprovado para o centro em 1990. A falta de fundos causou a interrupção de diversas atividades, com exceção daquelas mantidas pelo próprio casal. Com o falecimento do pastor Silvino em 2004, Pedro Eger se tornou presidente do Lachares, mas apenas por tempo o suficiente para devolver o terreno à igreja, que vendeu o espaço para um proprietário particular.
– Dois terços da minha henança foram parar no Lachares. A casa onde eu morei até 2004 está lá, fechada, se acabando. A gente passou muita coisa boa em Rancho Queimado, mas sofremos muito, principalmente nesta época. Acredito que a morte de Silvino tenha sido causada pela tristeza de ver o Lachares se acabando – lamenta Gertraut.
Minoria é orgânica
Embora o distrito de Taquaras tenha conhecido a produção de morangos há quase 40 anos com os primeiros pés plantados por Silvino Schneider atrás da igreja, demorou mais duas décadas para que a população começasse a ver no cultivo da fruta um negócio altamente lucrativo.
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As duas primeiras festas do morango foram feitas à base da importação, já que a produção local ainda não era suficiente. Por isso, em 1994, sete agricultores se juntaram e buscaram 45 mil mudas de vários lugares, aproveitando o clima montanhoso da cidade e a fama que estava surgindo.
– O morango é uma fruta rentável porque o cultivo ocupa uma área relativamente pequena. A nossa região passava por momentos muito complicados nos anos 1990, então o morango favoreceu muito a permanência das pessoas em Rancho Queimado – explica o técnico agropecuarista Pedro Henrique Eger.
Cerca de 130 famílias tiram sua renda do cultivo da fruta, embora apenas uma minoria, entre eles o próprio Eger, plante morangos orgânicos. A maioria dos agricultores da cidade tem pequenas propriedades, e o trabalho é praticamente todo feito sem máquinas ou latifúndios.
– Acho que o maior produtor da cidade tem uns 20 mil pés. No total, Rancho Queimado deve produzir uns 2,5 milhões de morangos por ano, sendo que apenas uns 80 mil destes são orgânicos. Uma plantação sem agrotóxicos é trabalhosa e arriscada, e hoje em dia a gente vive em função do tempo e do dinheiro – explica Eger, que possui aproximadamente 7 mil pés da fruta.
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O técnico agropecuartista Pedro Henrique Eger possui 7 mil pés de morango
Foto: Daniel Conzi/Agência RBS
22ª Festa do Morango
Quando: de 29 de novembro a 1o de dezembro
Onde: No Parque do Morango, no distrito de Taquaras, em Rancho Queimado
? ATRAÇÕES
Feira direto do produtor – morango, morango orgânico, geleias, doces, licores e flores
Feira de gastronomia do morango – tortas, bombons, sorvetes e sobremesas
Feira de artesanato e produtos coloniais
Sítio do Papai Noel – fazendinha com animais
Espaço fotográfico
? SEXTA-FEIRA, DIA 29
21h – Abertura oficial da Casa do Papai Noel, com apresentação do coral de Rancho Queimado e oficinas para crianças
22h30min – Baile com apresentação das madrinhas. Apresentação da dupla João Victor e Branco. Entrada gratuita
? SÁBADO, DIA 30
10h – Abertura do Parque do Morango. Entrada gratuita
10h30min – Encontro de Grupos da Terceira Idade
11h – Almoço colonial e churrasco
14h – Competições germânicas e sortei o de brindes
17h – Concurso do Morango e tarde dançante com a banda Rothenburg
23h – Baile no pavilhão do Morango com Grupo Candieiro. Ingresso: R$ 20
? DOMINGO, DIA 10
10h – Abertura do Parque do Morango. Entrada gratuita
10h30min – Desfile histórico-cultural
12h – Almoço colonial e churrasco
13h30min – Apresentação de grupos folclóricos, corais e bandas
15h – Tarde dançante com a Banda Curinga