Apresentar um espetáculo de qualquer tipo, filmes em especial, acima de tudo os filmados em Nova York e nos quais figuravam as Torres Gêmeas, não era coisa fácil nas semanas e nos meses posteriores aos ataques de 11 de setembro de 2001. Primeiro de tudo, discutia-se o assunto geral se era apropriado buscar um pouco de diversão naquele momento. Os estúdios queriam ser respeitosos com as filmes em que apareciam estas estruturas emblemática. Eles queriam encontrar o tom justo, mas, aparentemente, ninguém sabia qual era.

Continua depois da publicidade

As Torres Gêmeas do World Trade Center eram tão fáceis de reconhecer, tão majestosas e evocadoras. Em Uma Secretária do Futuro, são um farol de esperança; no clássico pôster de Manhattan, de Woody Allen, formam uma letra H. Convinha apagá-las para não perturbar o público? Ou deixá-las lá, pois, de qualquer forma, estavam de pé quando se filmou o filme?

Imagem do pôster do filme de Woody Allen tras as torres gêmeas na tipografia

Continua depois da publicidade

Glitter é conhecido hoje como um filme para promover Mariah Carey. No entanto, sua estreia foi apenas 10 dias depois dos ataques, e as torres aparecem ao fundo em um par de cenas… as únicas aplaudidas pelos presentes na sessão de pré-estreia em Nova York.

Em 28 de setembro, estreou Zoolander, comédia dirigida por Ben Stiller. As torres foram apagadas da versão final, o que resultou em um choque. Uma cena em que o personagem principal, Derek Zoolander, pronuncia uma oração fúnebre por amigos que morreram em uma explosão também foi um choque, sobretudo com os arranha-céus de Nova York como plano de fundo.

A comédia romântica Escrito nas Estrelas, com John Cusack e Kate Beckinsale, estreiou menos de um mês depois do 11 de setembro, mas transcorre em uma Manhattan tão idílica que provavelmente jamais existiu. Na versão para o Festival de Cinema de Toronto, apagaram-se as cenas em que apareciam as torres para maximizar a felicidade no filme.

Continua depois da publicidade

A estreia de Efeito Colateral, com Arnold Schwarzenegger, foi em outubro de 2001 até fevereiro do ano seguinte. Apesar de ser ambientado em Los Angeles, o filme trata de um plano terrorista para destruir vários edifícios. Foi a amostra de sensibilidade mais divulgada em Hollywood, embora, no fundo, fosse mais um filme de Schwarzenegger: espetacular, ruidoso e tonto.

Com o tempo, os cineastas começaram a encontrar maneiras de abordar a tragédia com um pouco mais de facilidade e confiança. O drama policial O Último Suspeito, com Robert De Niro e James Franco, foi filmado em Nova York no início de 2011, e as torres aparecem de maneira destacada em várias cenas. A estreia, que coincidiu com o primeiro aniversário dos ataques, provocou estremecimentos nas salas.

Alguns meses depois, estreiou A Última Noite. Logicamente, por ser um cineasta que personifica Nova York, Spike Lee nem sonhava em abordar os ataques. Os créditos iniciais aparecem sobre o fundo da cidade no primeiro aniversário do atentado, com dois feixes de luz alçando-se até o céu até onde estavam as torres.

Continua depois da publicidade

Os personagens encarnados por Barry Pepper e por Philip Seymour Hoffman mantêm uma longa conversa junto à sacada do apartamento de Pepper, com vista para o lugar das torres. Hoffman pergunta a Pepper se ele não pensa em se mudar, já que o ar está tão contaminado. Pepper responde com uma obscenidade, e adiciona:

– Mesmo que Bin Laden se mude para o apartamento ao lado, não saio daqui.

Cinco anos depois dos ataques, Oliver Stone abordou frontalmente o tema em As Torres Gêmeas, com Nicolas Cage e Michael Peña encarnando dois agentes de polícia presos embaixo dos escombros. Previa-se um enfoque político para a tragédia, mas Stone fez um filme pouco profunda, embora de excepcional qualidade artística, com atuações memoráveis. É visceral e intensa, sumamente realista em seu retrato do medo e do caos, das cinzas e da fumaça que envolveram Nova York naquele dia.

Com o tempo, a aparição das torres voltou a ser recebida com agrado. No documentário O Equilibrista, James Marsh mostra o equilibrista Philippe Petit desafiando a morte em uma corda bamba estendida entre as duas torres em 1974.

Continua depois da publicidade

O filme prende totalmente a audiência, mas remonta a uma época mais sensível, de maior inocência. Seria impossível repetir esse ato nestes tempos medidas rígidas e onipresentes de segurança. Isso se deve precisamente ao que aconteceu em 11 de setembro de 2011, uma data que jamais é mencionada em O Equilibrista, pois Marsh tem a sensatez de compreender que não é necessário. A ausência das torres – e a razão de sua ausência – está implícita no filme, o que lhe confere um nível de emoção tácito e, logo, inevitável.