Uma pequena cidade espanhola acredita ter encontrado uma maneira de fazer desemprego, débitos e crise econômica desaparecerem em uma baforada de fumaça. E de uma maneira muito polêmica: arrendando suas terras para plantações de maconha.
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A prefeitura de Rasquera, na Catalunha, decidiu assinar um acordo de 1,3 milhão de euros com uma associação de usuários de maconha, sediada nas proximidades de Barcelona, para plantar a erva para seus 5 mil membros.
A entidade poderá cultivar maconha em uma área correspondente a cerca de 10 campos de futebol, perto da prefeitura.
– É uma chance de atrair dinheiro e criar empregos – justifica o prefeito, Bernat Pellisa, do partido Esquerda Republicana da Catalunha, em meio a preocupações de moradores mais antigos, para quem Rasquera pode virar um ponto de drogados.
Pellisa garante que buscou garantias legais para a iniciativa, parte de uma pacote de medidas anticrise aprovadas em uma reunião na prefeitura. Também assegura que as leis espanholas para maconha não serão desrespeitadas.
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– A produção irá apenas para os membros da associação, e não será toda de maconha. Haverá uma rotação com cereal e beterraba sacarina – explicou.
A Associação de Uso Pessoal de Cannabis de Barcelona, parte de um movimento crescente de clubes privados de maconha na Espanha, pagará à cidade 650 mil euros por ano pelo direito de cultivar seu suprimento anual em Rasquera.
– Cultivar para uso pessoal não é ilegal, mas é um assunto delicado – comenta o advogado Oriol Casals.
Pellisa afirma que o negócio criará mais de 40 empregos e permitirá que a prefeitura pague o 1,3 milhão de euros devido em dois anos. E há cinco ou seis projetos paralelos adicionais, acrescenta. Incluem o fornecimento de sementes para as chamadas lojas de cultivo espanhola, que podem vender sementes para quem pretende plantar sua própria maconha.
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Um segundo clube de maconha, com 7 mil membros, está em vias de encontrar Pellisa para discutir a ideia. Uma alternativa envolvendo pessoas com câncer também está sendo estudada. O negócio tornará Rasquera, cuja produção local tradicionalmente incluiu oliva, cabras e amêndoas, um dos maiores fornecedores legais de maconha da Europa. Mas nem todos da cidade localizada 150 quilômetros ao sul de Barcelona gostam da ideia.
– Isso nos torna a piada da Catalunha – afirma o professor de Ensino Médio Joan Farnos.
– Levará nossos netos à perdição – reclama uma idosa.
Pellisa disse que comentou o governo regional da Catalunha, que controla a polícia local, sobre o projeto. O governo o aconselhou a consultar advogados, e o prefeito disse que exige sua própria soberania no assunto.
Os clubes de maconha espanhóis alegam que o cultivo e a posse para consumo próprio é legal, o que não traria problemas para a composição de uma entidade com esse fim.
– O uso da maconha está estabelecido e com uma realidade de crescente aceitação em nossa sociedade – sustenta Martin Barriuso, da Federação Basca de Cannabis – Em vez de virarmos as costas para essa realidade, acreditamos que o razoável a se fazer é encontrar uma maneira de regulação, encorajando o uso responsável e criando dificuldades para o acesso de adolescentes.
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A prefeitura de Rasquera concordou em criar um comitê para rascunhar protocolos de “segurança e controle de risco”, de acordo com a minuta do contrato com a associação de Barcelona.