Mesmo com a Seleção Brasileira como atual campeã mundial e com jogadoras entre as melhores do mundo, o handebol sofre com a falta de visibilidade, que reflete na carência de recursos das equipes e na formação de novas jogadoras. Assim, Blumenau vê a prática do handebol diminuindo nas categorias de base e reduz as chances de revelar uma nova Duda Amorim.
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– Ficar de fora da Liga Nacional reflete no próprio futuro do esporte aqui. Setenta por cento da nossa equipe é feita de jogadoras de Blumenau e região, e não jogar em nível nacional faz com que elas acabem saindo daqui. Além disso, vivemos um momento em que o handebol não é praticado como iniciação esportiva nas escolas – reflete Sérgio Graciano, técnico da equipe adulta feminina.
Para Ana Amorim, ex-jogadora da Seleção e irmã mais velha de Duda, a situação é um reflexo da falta de visibilidade:
– Se a criança ou o adolescente não vê handebol na TV, não escuta as pessoas comentando, não tem um professor na escola que incentiva, como que ela vai começar a jogar? Isso acontece com qualquer esporte que não é o futebol no Brasil. Quem quer jogar tem que correr atrás, e em geral quem começa na escola não consegue ter uma continuidade pela falta de estrutura.
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Ana e Duda começaram a jogar na escola, mas ambas na rede particular de ensino, onde o esporte como iniciação ainda é forte. Na rede pública, a cidade conta com em torno de 180 professores de educação física segundo a Secretaria Municipal de Educação, e desses, somente nas escolas participantes dos projetos da FMD o handebol é tratado como iniciação.
– É na escola pública que precisamos trabalhar o esporte como um meio, e não como o fim. O esporte de rendimento pode significar para um jovem a chance de ganhar uma bolsa de estudo, de uma vida melhor. A FMD tenta fomentar isso em nível estadual, fazendo com que as escolas tenham suporte para participar de jogos estaduais, mas falta uma iniciativa maior do governo para uma política nacional – avalia o presidente da fundação, Sérgio Galdino.
Fabiana Gripa, que defendeu a Seleção na Olimpíada de Atenas, em 2004, é um exemplo.
– Na época da escola fazia natação, jogava futebol, punhobol, handebol… Hoje até o hábito das crianças mudou. Elas saem da escola e vão para o computador, televisão, etc. Falta incentivo nas escolas, que dê aos jovens a chance de crescer no esporte.
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Incentivo dos professores na escola é fundamental
O enfraquecimento do esporte é visto no número de equipes que participam dos Jogos Estudantis da Primavera de Blumenau, que diminui a cada ano. Na edição passada, eram cerca de 20 equipes na competição, somando todas as categorias. Na Mirim, por exemplo, apenas três times disputavam os Jogos, todos de escolas particulares. Nas escolas municipais, projetos da FMD querem animar os professores da rede pública para a iniciação esportiva novamente. Uma das atividades é o mini handebol, com equipes menores para estimular as crianças e tentar retomar a cultura esportiva nas escolas. Para Ana Amorim, o incentivo do professor na escola é fundamental:
– Fui conhecer o handebol porque meu professor era o Fausto (Steinwandter), que jogava na Seleção Brasileira. Se não fosse o incentivo dele, talvez nunca tivesse começado a jogar. É um trabalho que precisa começar na base, e ver a equipe principal nessa situação é desanimador para quem começa.
Fabiana Gripa crê que é importante para quem está começando no esporte ter um espelho, poder se identificar com atletas da cidade:
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– Temos grande jogadoras em nível internacional, mas será que o jovem que está começando aqui conhece quem se destacou no esporte e saiu da mesma quadra que ele em Blumenau? É preciso instigar o esporte no Brasil e dar visibilidade aos talentos.
O presidente da Fundação Municipal de Desportos, Sérgio Galdino, explica que a situação entrou em alerta pelo handebol, mas afeta a maioria das modalidades. Ele vê a situação como delicada, mas garante que o handebol não será abandonado. O técnico da equipe, Sérgio Graciano, assegura:
– Não vou dizer que vai acabar o handebol em Blumenau. Não vai acabar porque é uma modalidade que está enraizada na cidade. Bem ou mal tem uma história. Mas com a capacidade que a gente tem de produzir bons valores, com a capacidade que a fundação nos dá pra fazer um bom treinamento, é uma pena ficar fora dos eventos importantes.
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