A prática de turbinar artificialmente as visualizações no YouTube para criar uma imagem de sucesso é global – e a preocupação com o dano que causa ao mercado da música, também.
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A empresa norte-americana Next Big Sound, que mede a popularidade de artistas consolidados e rastreia novos talentos musicais na web aferindo seus números em diferentes plataformas, ameaça divulgar o nome de gente que estaria adulterando os próprios dados.
A razão é óbvia: artistas pouco conhecidos, mas com dinheiro no bolso, estariam melhor colocados nos rankings divulgados pela empresa, comprometendo o trabalho da NBS junto aos seus clientes (gravadoras, agências e empresários do ramo) e parceiros (a revista Billboard, cujas listas de mais tocados/vendidos são referência no mundo todo).
Estudioso do mercado musical e diretor de videoclipes e DVDs, o cineasta Sammy Klein Roos acredita que a busca por mostrar bons números de audiência mudou o foco das bandas, afetando a qualidade das produções.
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– Comprar views é uma forma de aparecer, de ser famoso. E ser famoso parece que virou o motivo principal de se fazer música. Vejo que os novos artistas estão muito mais focados em números e divulgação do que em fazer um bom trabalho. Quando comecei, um clipe era uma maneira de contar uma história, de expressar a canção em forma de imagens, hoje já não sei – opina Roos.
Um bom número de visualizações no YouTube, por exemplo, serviria para impressionar um produtor musical ou uma casa de shows. Mas a farsa pode durar pouco, garante o empresário Leandro “Lelê” Bortholacci, da Olelê Music, que tem, em seu casting, artistas de grande rotação nas redes sociais, como Cachorro Grande e Esteban.
– Vemos muitos artistas que dão certo mais pelo marketing do que pela música. Mas é uma ilusão, porque o sujeito que tem 500 mil visualizações no YouTube e não coloca cem pagantes em um show não vai longe – diz.
Grupo com forte presença nas redes, a Tópaz criou uma sólida base de fãs na internet principalmente por meio de ações virtuais para promover seus discos e hoje contabiliza mais de 500 mil visualizações de seu clipe Se For pra Tudo Dar Errado no YouTube, lançado em julho do ano passado. Mesmo assim, Alexandre Nickel, vocalista da banda, concorda com Lelê:
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– Número de views é só um dos inúmeros índices para se orientar uma carreira, e quem acha que só com isso vai se manter está muito enganado. A banda que faz isso se ilude e ilude seu público, o que vai acabar contando contra.
Para Bia Granja, curadora dos Youpix, plataforma virtual que discute a cultura cibernética, a estratégia de forjar audiência é antiética e não tem justificativa. Mas acredita que a própria natureza autorregulável da web dá conta de separar quem está mentindo de quem está falando a verdade.
– Do ponto de vista do usuário, esse tipo de fraude não tem nenhum impacto, já que a web se autorregula em termos de que tipo de conteúdo é relevante ou não. Um vídeo com muitos views até pode me chamar atenção, mas, se eu assistir e não curtir, não vou compartilhar ou me engajar com ele. O número de views não é uma métrica, necessariamente, de engajamento – pontua.
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Fique de olho
Confira alguns indicativos de a audiência de um vídeo pode ter sido turbinada artificialmente:
1. Na capa do vídeo, clique na aba Estatística. Se o gráfico indicar um crescimento muito grande num período curto de tempo, criando uma linha quase vertical, desconfie. Se o dono do vídeo não disponibilizar a Estatística, desconfie mais ainda.
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2. A relação comentários x visualizações também pode ser usada para aferir se a audiência do vídeo foi turbinada artificialmente ou não. Se o vídeo tiver dois milhões de views e meia dúzia de comentários, algo pode estar errado.
3. O perfil dos comentaristas também vale uma espiada: excesso de comentários feitos por gente com apelido bizarro e foto de celebridade ao invés de nome e foto reais não é comum.