Cientes de que a deposição de Dilma Rousseff ganhou força, lideranças do PT incentivam a convocação de novas eleições presidenciais em 2016. Além de impedir que o vice-presidente Michel Temer governe por dois anos, o pleito teria condições de pavimentar um eventual retorno ao Palácio do Planalto de Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera pesquisas eleitorais.

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Questionada, nesta segunda-feira, sobre a sugestão de apresentar proposta de emenda à Constituição (PEC) para antecipar o final do mandato sob ameaça de cassação, Dilma afirmou que não avalia, “agora”, o assunto. Sem a negativa firme da presidente, a fala foi considerada uma senha para petistas batalharem pela possibilidade.

— O PT está discutindo internamente, vamos observar. Se esse golpe se consumar, estou convencido de que o Temer não segura três meses a Presidência — diz Lindberg Farias (PT-RJ).

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Nesta segunda-feira, um grupo de senadores de vários partidos, que inclui o petista Paulo Paim (RS), lançou campanha por novas eleições. Monitorada e incentivada pelo ministro Jaques Wagner (Gabinete Pessoal), a articulação tenta colocar a PEC em discussão nas próximas semanas.

Os congressistas esperam ter nesta quarta-feira as 27 assinaturas necessárias para apresentar a proposta, e negam que a ação tenha respaldo do Planalto.

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— O recado que vem das ruas claramente é a rejeição da chapa que venceu as eleições presidenciais em 2014. A melhor solução para esta crise excepcional é devolver à soberania popular a escolha dos novos mandatários da nação — afirmou Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A estratégia é buscar a simpatia de movimentos sociais, intelectuais, artistas e, inclusive dos grupos que protestam contra o governo, em uma espécie de reedição das Diretas Já. Outra possibilidade é a própria Dilma enviar a PEC, com terreno preparado para Lula concorrer.

— Ninguém quer Temer ou Cunha no comando do país. Se a maioria do povo, em eleição, entender que Lula ou qualquer outro brasileiro tenha de ser o presidente, será legítimo — diz Paim.

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Estratégia do Planalto foca em congressistas do Norte e Nordeste

A tramitação da emenda ocorreria em paralelo ao impeachment no Senado. As previsões moderadas indicam que a Casa chancelará o afastamento temporário de Dilma em três ou quatro semanas. Como a emenda teria de ser aprovada em dois turnos na Câmara e no Senado, isso ocorreria com Temer como presidente interino.

Enquanto avalia o tema, Dilma vai em busca de votos. O governo admite ter minoria para barrar o processo, mas sustenta que a oposição não dispõe de 54 dos 81 senadores para efetivar a cassação.

Como o Senado é menor do que a Câmara, o governo aposta em conversas individualizadas, focadas no Norte e Nordeste, regiões que respondem por mais da metade dos senadores.

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As bancadas serão divididas entre os aliados e ministros. Acredita-se que, desta vez, Lula poderá fazer a diferença. Também é estudado o retorno dos ministros do PMDB com mandato de senador, a exemplo do que ocorreu com deputados. Da sigla, se licenciariam Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Nomeações de cargos seguem como cartadas. Em retaliação às traições na Câmara, indicados de partidos infiéis podem ser exonerados no segundo e terceiro escalão.