Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 55.344/09 que pretende proibir as transmissões de MMA na televisão. O deputado José Mentor (PT-SP) é o criador desta ideia e há três anos busca apoio para que ela entre em vigor. O relator, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), deve levar o projeto para apreciação nos próximos dias.

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A ideia da lei é que a violência do esporte pare de ser propagandeada – esporte não: para Mentor, o MMA (sigla de mixed martial arts, artes marciais mistas), cujo carro-chefe é o UFC, não pode ter essa nomenclatura.

– O MMA permite pontapé no rosto e na cabeça, joelhada, cotoveladas, socos seguidos. Às vezes o camarada está caindo e segue levando socos. São golpes violentíssimos. Embora tenha ali mistura de artes marciais, não mistura arte nenhuma – defende o político paulista. – Artes marciais é para autocontrole, autodefesa. MMA é só agressão.

O argumento de que o esporte ajuda a propagar a violência é rechaçado por Eduardo Ferreira, especialista em MMA do site Tatame. Ferreira sustenta que o deputado está querendo atrair mídia para si em cima de um esporte em crescimento. Além disso, entende que há tantos outros conteúdos violentos na televisão que deveriam ser banidos.

– Tem muita cosia pior na TV, no meio da tarde, violência gratuita. O MMA passa basicamente na TV fechada, pouca coisa na aberta, sempre em um horário noturno. E normalmente é editado cuidadosamente para não mostrar o sangue. Quem não gosta, troca de canal, ninguém é obrigado a ver – afirma Ferreira.

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A psicóloga Mariana Barcinski pondera sobre a sugestão de violência que o MMA possa transmitir. Apesar de concordar que o esporte tem um teor agressivo, ela diz que deve haver uma mediação sobre o que pode ou não ser assistido. Mariana é contra a proibição do televisionamento.

– Tem que ter limitação de quem pode ver. Principalmente para as crianças. Elas precisam ter supervisionamento dos adultos. O comportamento violento na televisão banaliza a violência, principalmente quando associada a ídolos – aponta a psicóloga.

José Mentor sabe que sua proposta de lei enfrentará empecilhos, como a dimensão do esporte hoje, os interesses comerciais e também a sua glamourização (artistas se mostram simpáticos ao MMA).

– Desperta interesse econômico e há uma pressão grande de órgãos da mídia. Mas é uma situação curiosa. No Brasil se proíbe rinha de galo, canários e cães. E o MMA, que é uma rinha humana, pode?

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Eduardo Ferreira enxerga o MMA como um agente social dentro das comunidades carentes.

– Hoje tem crianças sonhando em ser lutador do UFC. O José Aldo é campeão (dos pesos pena) e vem de uma família pobre em Manaus. Venceu através da luta, morou em favela no Rio de Janeiro e hoje pode dar uma vida melhor para família. Mentor rebate:

– O MMA tira a pessoa do vício para levá-la a bater nos outros, ferir e sangrar? Igrejas e instituições sem fins lucrativos fazem esse serviço sem recorrer à agressão.

Em vídeo: Será o fim do MMA na TV?