*Por Jane E. Brody

Enquanto a maioria das pessoas acertadamente se concentra em manter o distanciamento social, usar máscara, lavar as mãos e até mesmo se autoisolar para se proteger contra o mortal coronavírus que agora assola o país, poucas estão prestando a devida atenção a outros dois fatores também muito importantes que aumentam o risco de desenvolver uma infecção por Covid-19, com sua potencial gravidade.

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Esses fatores são a imunidade, que deve ser aumentada, e a inflamação, que deve ser suprimida. Mencionei os dois em minhas colunas anteriores, mas, agora que meses de restrições relacionadas à pandemia afetaram a vida de milhões de pessoas, e depois de ver quem tem mais probabilidade de ser infectado e morrer, a imunidade e a inflamação merecem mais discussões e mais atenção pública.

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Um fato é indiscutível: as pessoas mais velhas são especialmente vulneráveis a essa doença e às suas consequências potencialmente fatais. Mas “mais velho” não significa necessariamente “idoso”. Embora as pessoas com mais de 80 anos tenham 184 vezes mais chances de morrer de Covid-19 do que as de 20 anos, o dr. Nir Barzilai, diretor científico da Federação Americana de Pesquisa sobre o Envelhecimento, aponta que a vulnerabilidade aumenta a partir dos 55 anos.

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As defesas imunológicas diminuem com a idade. Esse é um fato fundamental da biologia. Por exemplo, com o avanço da idade, as células assassinas naturais, uma das principais armas imunológicas, tornam-se menos eficazes na destruição de células infectadas por vírus. Isso não significa, no entanto, que nada possa ser feito para retardar ou, por vezes, reverter o declínio imunológico, informou Barzilai, que dirige o Instituto de Pesquisa sobre o Envelhecimento da Faculdade de Medicina Albert Einstein.

Ao mesmo tempo, a inflamação nos tecidos aumenta com a idade e isso ajuda o coronavírus a entrar no corpo, a se prender a moléculas no nariz e nos pulmões e a causar estragos, explicou Janet Lord, diretora do Instituto de Inflamação e Envelhecimento da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, em um webinar.

O tecido adiposo, por exemplo, aumenta a inflamação e torna as pessoas com sobrepeso mais vulneráveis a uma infecção por Covid.

Aqui também há maneiras estabelecidas de diminuir a inflamação e, assim, aumentar a resistência a essa doença mortal. As armas básicas, dieta e exercício, estão atualmente disponíveis para muito mais pessoas do que as que se beneficiam de suas vantagens. O estilo de vida pode ter um grande impacto no sistema imunológico de uma pessoa, para melhor ou para pior, afirmou Lord.

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Falei recentemente com um amigo que “fugiu” da cidade de Nova York no início de março para evitar a Covid-19. Mas, embora tenha reduzido o risco de infecção limitando o contato com outras pessoas, ele ganhou peso, perdeu massa muscular e, ao se tornar quase sedentário, agora tem mais chances de ficar seriamente doente caso contraia o vírus.

“O músculo esquelético ajuda o sistema imunológico”, disse Lord. As contrações dos músculos esqueléticos produzem pequenas proteínas chamadas miocinas, que, ao diminuir a inflamação, trazem grandes benefícios à saúde. As miocinas detectam infecções e evitam que elas saiam de controle. Além disso, o exercício do músculo esquelético ajuda a diminuir a gordura corporal e aumenta a potência das células assassinas naturais, independentemente da idade. Uma mulher de 85 anos que aumenta a massa muscular é mais capaz de se recuperar da Covid, explicou a diretora.

Quanto mais extenso ou vigoroso for o exercício, menor será a inflamação, informou Lord. Ela observou que aqueles que caminham menos de três mil passos por dia apresentam níveis mais altos de inflamação do que aqueles que caminham dez mil passos ou mais por dia. Mas o isolamento social não precisa torná-lo um viciado em televisão.

“Você não precisa de equipamentos especiais”, frisou Lord, de modo que a impossibilidade de ir a uma academia ou mesmo de sair de casa não deve ser um impedimento para caminhar dez mil passos. Ela sugeriu exercícios como levantamento de calcanhar, levantamento de perna e sentar-se e levantar-se. Você pode até mesmo usar duas daquelas latas de feijão que estocou para fortalecer os músculos do braço. Ou leve em consideração subir e descer escadas, mesmo que seja somente um degrau, o que já traz o benefício adicional de fortalecer a função cardíaca.

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Praticar exercício é especialmente importante para pessoas com condições crônicas de saúde que são mais vulneráveis a uma infecção grave por Covid. “Não importa qual seja sua condição, a prática de exercício vai melhorar sua imunidade”, disse Lord.

Exercitar-se regularmente também pode melhorar seu sono, o que pode suprimir a inflamação e impedir que seu sistema imunológico precise trabalhar horas extras. Procure dormir de sete a oito horas por noite. Se a ansiedade relacionada ao vírus o mantiver acordado, tente praticar tai chi, meditação ou relaxamento muscular progressivo (dos pés à cabeça) para reduzir o estresse e acalmar sua mente e seu corpo. Evite fazer uma grande refeição no fim do dia ou consumir cafeína após o meio-dia. É melhor comer uma banana ou beber um copo de leite morno cerca de uma hora antes de dormir.

Isso me leva ao que, para muitos, é o maior desafio à saúde durante a crise do coronavírus: consumir uma dieta variada e rica em nutrientes e manter a ingestão de calorias sob controle. Assar pães, aparentemente, se tornou um passatempo popular para muitas pessoas que estão se isolando em casa, e as consequências – ganho de peso e consumo excessivo de açúcar e farinha refinada – podem aumentar a suscetibilidade ao vírus. O excesso de peso enfraquece o sistema imunológico, e a gordura abdominal, em particular, aumenta a inflamação danosa.

A boa notícia, segundo o dr. Leonard Calabrese, imunologista clínico da Clínica Cleveland, é que mesmo uma pequena perda de peso pode combater a inflamação, um benefício que se obtém ao evitar alimentos altamente processados e ao comer mais frutas e vegetais frescos, que são alimentos que têm relativamente pouca caloria e possuem alto teor de nutrientes protetores.

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Especialmente úteis são os alimentos ricos em vitamina C – todos os tipos de frutas cítricas (laranja, toranja, mexerica etc.), pimentão vermelho, espinafre, mamão e brócolis – e zinco, incluindo mariscos (a ostra é uma rica fonte de zinco), sementes, laticínios, carne vermelha, feijão, lentilha e noz.

Para quem bebe álcool, esses momentos estressantes podem levar ao consumo excessivo. Uma quantidade maior do que as duas doses recomendadas por dia para os homens e uma para as mulheres pode reduzir os nutrientes que aumentam a imunidade do corpo e prejudicar a capacidade dos glóbulos brancos de combater invasores microbianos, observa Calabrese. Para os que bebem, uma dose de 142 gramas de vinho tinto por dia é amplamente considerada um componente benéfico de uma dieta mediterrânea anti-inflamatória.

Relatórios que estabelecem um vínculo entre a deficiência de vitamina D e um maior risco de desenvolver uma infecção grave por Covid-19 levaram algumas pessoas a tomar medidas que podem ser prejudiciais à saúde, como tomar sol sem protetor solar – o que pode causar câncer de pele – e consumir quantidades excessivas de suplemento de vitamina D – o que pode gerar sintomas gastrointestinais angustiantes.

Níveis saudáveis de vitamina D no sangue podem, no entanto, ajudar a manter fortalecido o sistema imunológico e talvez impedir que ele saia de controle. Caso isso ocorra, a enxurrada de citocinas pode afetar gravemente os pulmões e outros tecidos e resultar em morte, assim como aconteceu com inúmeras vítimas da Covid-19. Mas, para aqueles com níveis saudáveis de vitamina D, não há benefício imune estabelecido em ingerir mais do que duas mil UI de vitamina D-3 por dia.

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