Recluso em sua fazenda na região da Coxilha Rica, distante 51 quilômetros do Centro de Lages por uma estrada de chão batido que é uma agressão a qualquer veículo, o homem mais poderoso de Santa Catarina está tranquilo.
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Ele não havia lido o jornal do dia, mas já tinha sido informado pelo seu chefe de imprensa sobre a polêmica na Capital envolvendo a exoneração do delegado Cláudio Monteiro, do comando da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), por suspeita ter cometido irregularidades.
Confortável num lugar tão interiorano onde não há nem sinal de telefone, o governador Raimundo Colombo recebeu a reportagem do Diário Catarinense para uma entrevista exclusiva sobre a polêmica.
Durante a conversa, que durou cerca de 30 minutos, Colombo não demonstrou arrependimento com a decisão tomada, explicou os motivos e garantiu: fez o que era certo e faria o mesmo com qualquer outro servidor.
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– Imagine se fosse o inverso, ou seja, eu acobertando um erro? – questionou.
Confira a seguir os principais pontos da entrevista.
Diário Catarinense – A exoneração do delegado Cláudio Monteiro foi uma decisão sua?
Raimundo Colombo – Houve uma denúncia e uma investigação. O Grubba (César Grubba, secretário da Segurança Pública) ouviu o delegado e me mostrou todas as comprovações de irregularidades. Os documentos não deixam dúvidas. O Grubba sugeriu o afastamento, e eu concordei por entender que ele tinha toda a razão. Imagine se fosse o inverso, ou seja, eu acobertando um erro?
DC – O senhor teve acesso às investigações?
Colombo – Tive acesso ao relatório. O Grubba é promotor de Justiça da área criminal. Ele sabe fazer o processo e está acima de qualquer suspeita. Ele me apresentou todos os elementos em todo o processo, e a decisão tinha que ser tomada.
DC – Se o sinal verde para a exoneração ocorreu na segunda-feira à noite, por que só na quinta-feira isso foi divulgado, depois que o delegado participou das operações contra os assaltantes de caixas eletrônicos?
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Colombo – Não sei. Mas a decisão foi tomada antes. Quem investiga não pode estar sob suspeita.
DC – O senhor chegou a conversar com o delegado Monteiro?
Colombo – Não conversei, mas o conheço. Ele prestava um bom serviço, mas cometeu uma falha que não podia ser tolerada.
DC – O que o senhor tem a dizer sobre o trabalho do delegado na Deic?
Colombo – O trabalho da Polícia Civil de Santa Catarina é muito bom, mas é evidente que não é só um policial. O delegado foi escolhido entre os melhores. Foi uma escolha técnica, como também foi a escolha do sucessor.
DC – Mesmo com o reconhecido bom trabalho do delegado e com a alegação dele de que devolveu todas as diárias, a exoneração era a medida a ser tomada?
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Colombo – Tinha que ser a exoneração. Foi um erro grave cometido. E isso pode acontecer com qualquer outro servidor. Qualquer servidor público numa situação como essa precisa ser afastado, ainda mais sendo o chefe de investigação da polícia. Nós fizemos o certo, o que tinha de ser feito. Lamento, mas é uma decisão sem volta.
DC – É na Deic que está um foco de resistência nas negociações salariais da Polícia Civil. O senhor teme algum problema com relação a isso?
Colombo – Não, pois volto a dizer que fizemos o certo.
DC – Este caso está repercutindo muito, inclusive com milhares de manifestações nas redes sociais a favor do delegado Monteiro. Isso pode causar algum problema ao governo?
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Colombo – O governo fez o que era certo para proteger a própria polícia e o próprio delegado. Talvez as pessoas estejam confundindo o motivo da exoneração com as declarações do delegado na imprensa (de que os criminosos que partissem para o confronto seriam presos ou mortos), mas não tem nada a ver. Eu garanto.
DC – E agora? O que vai ser da Deic? Qual a orientação ao novo diretor?
Colombo – Buscamos um dos melhores policiais do Brasil, que havia sido chamado para a Força Nacional. Ele entendeu o momento e aceitou o desafio. A orientação é a mesma, de firmeza e combate duro ao crime. A Polícia Civil de Santa Catarina está de parabéns pelo seu trabalho!