Causou espanto entre os próprios pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o fato de que 65% dos entrevistados disseram concordar com a frase “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”, algo que deixa claro para autores do trabalho a forte tendência de culpar a mulher nos casos de violência sexual.
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A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira, 27, é batizada de Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS). O trabalho se baseou na entrevista de 3.810 pessoas, residentes em 212 municípios brasileiros no período entre maio e junho de 2013.
Para autores, um número significativo de entrevistados parece considerar a violência contra a mulher como uma forma de correção. A vítima teria responsabilidade, seja por usar roupas provocantes, seja por não se comportarem “adequadamente”.
A avaliação tem como ponto de partida o grande número de pessoas que diz concordar com a frase: se mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros. O trabalho indica que 58,5% concordam com esse pensamento. A resposta a essa pergunta apresenta variações significativas de acordo com algumas características.
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Residentes das regiões Sul e Sudeste e os jovens têm menores chances de concordar com a culpabilização do comportamento feminino pela violência sexual. A pesquisa não identifica características populacionais que determinem uma postura mais tolerante à violência, de forma geral.
Os primeiros resultados, no entanto, indicam que morar em metrópoles, nas regiões mais ricas do País, ter escolaridade mais alta e ser mais jovem aumentam a probabilidade de valores mais igualitários e de intolerância à violência contra mulheres. Autores avaliam, porém, que tais características têm peso menos importante do que a adesão a certos valores como acreditar que o homem deve ser cabeça do lar, por exemplo.
A pesquisa do Ipea também revela que a maior parte dos brasileiros se incomoda em ver dois homens ou mulheres se beijando. Dos entrevistados, 59% relataram desconforto diante da cena. A relação afetiva entre pessoas do mesmo sexo também não tem uma aceitação expressiva. Das pessoas ouvidas, 41% disseram concordar com a frase “um casal de dois homens vive um amor tão bonito quando entre um homem e uma mulher” e 52% concordam com a proibição de casamento gay.
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O levantamento identificou, no entanto, um avanço na aceitação do princípio da igualdade dos direitos de casais homossexuais e heterossexuais. Metade dos entrevistados concorda com a afirmação de que casais de pessoa do mesmo sexo devem ter mesmos direitos de outros casais.
Brasileiro acredita que marido que bate na esposa deve ir para a cadeia
A pesquisa ainda mostra que 91% dos entrevistados concordam total ou parcialmente com a prisão dos maridos que batem em suas esposas. O estudo alerta, no entanto, que é prematuro concluir, com bases nesses dados, que a sociedade brasileira tem pouca tolerância à violência contra a mulher. “Há uma ambiguidade do discurso”, afirmam os autores. Dos entrevistados, 63% disseram concordar com a ideia de que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre membros da família”.
Características da população entrevistada
Total: 3810 pessoas entrevistadas
A) Residentes no Sul ou Sudeste: 56,7%
B) Residentes em áreas metropolitanas: 29,1%
C) Pessoas jovens, 16 a 29 anos: 28,5%
D) Pessoas adultas, 30 a 59 anos: 52,4%
E) Pessoas idosas, 60 ou mais anos: 19,1%
F) Mulheres: 66,5%
G) Brancos: 38,7%
H) Católicos: 65,7%
I) Evangélicos: 24,7%
J) Demais religiões, ateus e sem religião: 9,6%
K) Menos que o ensino fundamental: 41,5%
L) Ensino fundamental: 22,3%
M) Ensino médio: 30,8%
N) Ensino superior: 5,4%
O) Renda domiciliar per capita média: R$ 531,26