Jogos são uma excelente forma de criticar a sociedade, unindo alguma mensagem com o componente da diversão. Em tempos de segurança e vistos de viagem, Papers, Please consegue transformar um processo burocrático em uma experiência interessante.

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O jogador é levado de volta para 1982, no final da Guerra Fria, no fictício Arstotzka. Localizado no Leste Europeu, o país precisa aumentar a entrada de visitantes, mas sem permitir a chegada de inimigos do estado. Na cabine de controle, passaportes são conferidos, rendendo situações que não criticam apenas o passado. Para completar, o desempenho do jogador influi no quanto é ganho, valor utilizado para custear as despesas da família, adicionando uma constante pressão pessoal.

A proposta parece bem chata em um primeiro momento, mas rende algumas situações interessantes. O sentimento de medo e poder do fiscal é transformado em interrogatórios e conferência minuciosa de dados. Propositalmente, o jogo não fornece muitas informações sobre a situação política, apenas com chances de dedução a partir da leitura de um jornal todo o dia. O visual retrô ajuda a criar o clima.

A base do jogo é uma ação simples: aprovar ou não o visto. A cada dia (31 no total), outras informações surgem, aumentando a quantidade de documentos necessários. O governo avisa com um telegrama cada vez que um “inimigo” entrar ou um “amigo” tiver seu visto negado, intensificando a pressão. A tensão aumenta quando o visitante indesejado joga bombas e provoca confusão na fronteira. São vários finais possíveis, colocando o jogador na posição oposta à observada durante todo o jogo no final.

A crítica não é assimilada por algumas pessoas nas primeiras partidas, mas, sim, quando uma situação parecida é vivenciada. E aqui está o maior triunfo de jogos classificados como “serious games”, produções que carregam uma mensagem específica. Essas criações valorizam o fato de a verdadeira compreensão da mensagem ocorrer na próxima vez em que uma situação semelhante será vivenciada, indo além de métricas de acesso ou do público que jogou para discutir se foram efetivos ou não.

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Papers, Please foi criado por Lucas Pope, já conhecido por outros jogos com um apelo diferente. Em The Republia Times (gratuito em http://dukope.com), a relação entre o jornalismo e o governo é discutida com um exercício simples de diagramação de páginas.

Papers, Please está disponível para Windows e Mac por R$ 16,99 em http://papersplea.se. Mas a versão beta inicial ainda está no ar e permite jogar gratuitamente.