João Paulo II era o papa carismático. Depois dele, Bento XVI causou surpresa ao aparecer com uma aparência séria, sisuda. Francisco, agora, será o papa missionário e bem-humorado.

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Mas não é só a personalidade que difere os três últimos líderes supremos da Igreja Católica na humanidade. Dezenas de outros quesitos também colaboram para destoar o tipo de trabalho e os desafios que cada um deles precisou enfrentar.

O padre catarinense Marcial Maçaneiro, doutor em teologia, professor universitário, editor e estudioso dos papas, confirma que, embora o trio tenha mais diferenças do que semelhanças, o propósito doutrinário sempre foi um só: ajudar na evolução e na consolidação da Igreja Católica no mundo.

JOÃO PAULO II

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Perfil

Era o papa preocupado em unificar os povos, que viajou pelo mundo. Era carismático e expressivo, mas também era um homem de convicção e de personalidade forte: não abria mão de suas opiniões pessoais e nomeou bispos de perfis muito parecidos com o dele. Teve um estilo de papa-mártir, cercado de momentos místicos, que são típicos da Polônia. Deu sua vida ao papado e, mesmo sem condições físicas, foi até o fim.

Desafios

Para que pudesse trabalhar valores cristãos, sentiu a necessidade de apoiar o retorno da democracia aos países da América Latina e Leste Europeu – incluindo seu país de origem, a Polônia. De certa forma, foi personagem central das decisões políticas dos anos 1980 e teve papel fundamental para o fim do comunismo.

Cenários

Encontrou o mundo se recuperando de duas guerras mundiais e ainda vivendo a Guerra Fria. A Igreja na Europa beirava a clandestinidade, era perseguida e tinha os direitos de posse controlados pelo governo. Foi quando começou a sofrer de abandono generalizado do cristianismo.

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Missões e legados

Deu muita atenção à Igreja missionária e aos países do Hemisfério Sul – basicamente América Latina e África. Também supervisionou uma reforma na Cúria Romana, dando mais enfoque ao cenário europeu, mas não acompanhou a reforma de perto.

BENTO XVI

Perfil

Era o papa tímido e preocupado com os problemas do mundo. Na maioria dos casos, o confundiam como um homem sisudo e pouco simpático. Sua renúncia não passou de uma estratégia bem-sucedida de encaminhar a Igreja ao processo de evolução que se vê agora, com mais autonomia e com a chegada de um papa latino-americano pela primeira vez na história.

Desafios

Foi em seu pontificado que inúmeros casos de pedofilia dentro da Igreja vieram à tona. Dimensionou e disciplinou esse problema, colaborando com as justiças locais e com a abertura de processos. Lançou diretrizes para a formação de padres e reviu competências, obrigando os bispos a ficarem mais atentos.

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Cenário

Enfrentou todo o impacto do início de uma mudança de época, de comportamentos tecnológicos e de abordagens de mundo. Também viveu a crise da economia mundial.

Missões e legado

Concentrou-se em arrumar a casa. Por causa da idade avançada, não apostou em projetos novos ou grandiosos. Aproveitou para remodelar competências na Cúria Romana, deu mais autonomia aos bispos, reduziu as burocracias, melhorou as estruturas internas, escolhendo pessoas com perfis mais eficientes e promissores.

FRANCISCO

Perfil

De todos, é o papa mais paternal e com plataforma mais missionária. É bem-humorado e sorridente, mas perspicaz; sereno, mas vigoroso. Pensa nas missões de fé de forma a preservar os elementos essenciais, como a moral, a dignidade e o apelo de justiça social. É tão afetuoso quanto Bento XVI, mas não é tímido: ele interfere, diz o que pensa. É um papa atento ao mundo, que vai focar no global, não apenas na Europa.

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Desafios

Dar fim ao crescente processo de descristianização – a perda de fiéis e da crença no cristianismo, que afeta principalmente os países da Europa desde o fim dos anos 1970. Precisa mostrar ao mundo que a Igreja não é só uma administração, nem uma máquina centrada no Vaticano.

Cenários

Vai encontrar um cenário tecnológico não habitual à Igreja: midiatização das relações humanas, evaporação de grandes valores, multipolarização cultural e crise das instituições de referência, como a Organização das Nações Unidas.

Missões e legados

Precisa promover uma nova evangelização no mundo e reforçar o papel das igrejas locais, como já ocorre na América Latina. Deverá trabalhar para aproximar o catolicismo das comunidades. Deve levar para o cenário global europeu a escola dos países latinos, o continente com maior número de católicos no mundo.

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