Luzes, vitrines enfeitadas e Papais Noéis com a barba branca de verdade. De todos os artifícios que a gente usa para chamar a atenção para o Natal, nada consegue tocar mais fundo ao coração do que a expectativa de uma criança.

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A fila era longa. E o menino pensava por que tinha de ficar esperando naquele tapete vermelho. As mãozinhas balançavam a corda que separa a fila dos desejos do resto do shopping. Nada mais importava. Nem as luzes dos pinheiros gigantes, nem o que havia dentro das lojas, afinal, a mãe do menino pouco podia comprar.

Tudo em volta estava bonito, mas o fim daquela fila é que devia reservar algo muito bom mesmo. “Só pode”, pensava o menino, tirando e pondo o tempo todo os chinelos gastos. Que garoto mais inquieto!

Pelo lado de fora das cordas, crianças passavam rindo, com as mãos melecadas de bala. Até que chegou a vez do menino.

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O velho gorducho pegou-o no colo e ele pareceu sentir-se pequeno, inseguro, com os pés meio metro longe do chão. Ainda perplexo, talvez imaginasse como um homem com aquela barba branca de verdade podia tudo. Mas era a hora decisiva e o garotinho disparou os pedidos: um videogame, outro videogame, uma coleção de jogos de videogame, um tablet, um celular novo, bola, uniforme completo de futebol e vários outros brinquedos (que o Papai Noel jamais entenderá o que eram).

O Noel contratado pelo shopping se apressou em dar à criança aquela resposta padrão, de que não dá para ter tudo e blá, blá… Mas foi interrompido pelo menino, que terminou a lista: “mas, se não der nada disso, pode me trazer uma bola e um sanduíche de mortadela bem grande”.

A história aconteceu mais ou menos assim, em um shopping de Florianópolis, nestes dias que antecederam o Natal. O menino queria ter tudo. Mas o que desejava era divertir-se muito e encher a barriga. Coisa simples, coisa de criança.

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Então para que os adultos estendem tapetes vermelhos, acendem luzes nas vitrines e prometem transformar bom comportamento em tablets? Não é mais simples entender o que desejam os meninos?

Uma recarga de esperanças

A gente arranja mil respostas, mas, no Natal, talvez a humanidade esteja se movimentando para receber das crianças uma carga de esperança que dure o ano inteiro.

A Hora entrevistou Papai Noel em cinco shoppings da Grande Florianópolis e descobriu – mais do que as coisas que as crianças querem – suas fantasias, seus alegres, tristes e simples desejos de Natal.

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Um Camelo na Geladeira

O garotinho de quatro anos mal acomodou-se no colo do Papai Noel, em um shopping de São José, e fez seu único pedido: queria um camelo. Não, não era um camelo de brinquedo. Era um animal de verdade, duas corcovas, importado do deserto do Saara, como nos filmes. O bom velhinho até que tentou argumentar, sugeriu outra opção. Diante da fantasia do menino, perguntou se podia deixar o bicho debaixo ou do lado da árvore de Natal. “Não, Papai Noel, tem que ser dentro da geladeira.”

Uma internet só pra mim

O interesse das crianças por novas tecnologias já não é nenhuma novidade. Imagine então os pedidos que Papai Noel escuta, do alto de sua cadeira estofada. As crianças querem tablets, notebooks, celulares de última geração, computadores que alguém insiste em chamar de videogames. No Centro da Capital, uma garotinha de sete anos resolveu desabafar com o velhinho. “Quero uma internet só pra mim no Natal”. O Noel logo tratou de saber se era um computador que ela queria. Emendou questionando se ela não tinha internet em casa. “Ter eu tenho, mas a minha mãe nunca deixa eu usar”, arrematou a menina, na sua simplicidade.

De cortar o coração

A expectativa frustrada de uma criança faz doer até o coração do Bom Velhinho. Não raras vezes, o Papai Noel explica para os pequenos, que pedem dezenas de presentes, que não é possível ter tudo o que se pede. Mas a decepção de um garoto em uma festa para crianças carentes mobilizou até os funcionários da empresa que promovia o evento. Papai Noel mal sentou-se em sua poltrona e o menino já soprava em seu ouvido o que esperava: o tão sonhado carrinho de controle remoto. A lista de presentes beneficiou dezenas de crianças na festa. Na vez do garoto, ele recebeu uma bermuda. Agradeceu o Bom Velhinho, mas imediatamente retirou-se para o fundo da festa e chorou, visivelmente decepcionado. Comovidos, organizadores providenciaram, às pressas, o presente, que foi entregue no final do dia. Não era caro, mas era o sonho de uma criança.

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Quis Nanar com o bom velhinho

O menino estava prestes a completar cinco anos, quando encontrou com o Papai Noel, no Norte da Ilha. Prometeu ser bonzinho e garantiu que iria passar a dormir sozinho, no próprio quarto, conforme o pai e a mãe lhe pediam sempre. Uma semana depois, o Bom Velhinho recebeu a visita do pai do garoto para contar as novidades. O jovenzinho começou a dormir sozinho no próprio quarto, mas quando acordava na madrugada, queria que o pai fosse ao shopping buscar o Noel para nanar com ele.

O básico para ser feliz

Uma família numerosa, cheia de crianças e de origem simples entrou na fila do shopping para ver o Bom Velhinho. Papai Noel fez questão de recebê-los um a um. O menino mais velho pediu como presente uma ceia de Natal: “pra mim não precisa nada não, senhor. Pode ser a janta, porque o meu pai está sem dinheiro para comprar”, pediu o menino, em favor da família. Outros desejos, conta o Papai Noel, costumam dar um nó na garganta, como o pedido para os pais não brigarem mais ou para um deles voltar para casa. Antes de presentes, as crianças precisam do básico para serem felizes.

Confira o vídeo com pedidos curiosos feitos para os Papais Noéis da Grande Florianópolis