O papa Francisco lançou uma consulta global sobre a evolução da família moderna, por meio de um questionário enviado aos bispos de todo o mundo sobre o casamento homossexual, o divórcio e o aborto, entre outras questões até então tabus na Igreja Católica.

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“A Igreja, nó vital da sociedade e da comunidade eclesiástica”, vive uma época “de evidente crise social e espiritual”, adverte um documento preparatório de sete páginas enviado há poucos dias às conferências episcopais do mundo inteiro e divulgado nesta terça-feira pelo Vaticano.

O documento, que inclui um questionário com 38 perguntas dividas por temas, foi redigido pelo secretariado do sínodo, em preparação para a assembleia extraordinária dos bispos, convocada pelo Papa para o próximo ano.

As questões tratam assuntos sensíveis que vão do divórcio ao casamento homossexual, passando pela adoção por esses casais.

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A iniciativa provavelmente vai provocar fortes reações dentro e fora da instituição.

O relator-geral do sínodo, o cardeal Peter Erdo, arcebispo de Budapeste, alertou durante uma coletiva de imprensa que não haverá “mudanças na doutrina católica, apenas a maneira de encarar essas situações”.

O Sínodo dos Bispos, dirigido por Lorenzo Baldisseri, enviou o questionário para as Conferências Episcopais em meados de outubro e, com base nas respostas vai preparar um documento chamado “Instrumentum laboris”, que servirá de introdução para o debate dos bispos, que falam línguas diferentes e têm diferentes problemas em suas respectivas comunidades.

Diante da evolução dos costumes, o papa Francisco convocou para outubro de 2014 a assembleia dos bispos, que deve abordar abertamente os problemas e desafios enfrentados pelas famílias modernas.

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Sob o lema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”, a Igreja liderada pelo jesuíta Francisco quer abordar questões muito contemporâneas.

O mesmo pontífice, que defende uma “colegialidade” maior na tomada de decisões, participou da elaboração do questionário, que visa a promover uma nova evangelização baseada em uma atenção maior e “misericórdia” para com aqueles que vivem em situações irregulares.

O Papa pede conselhos sobre a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, sobre o aumento dos casais que não são casados formalmente e sobre a atitude da Igreja em relação ao casamento homossexual e às famílias monoparentais.

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Com a compilação das respostas será elaborado o documento preparatório, de acordo com a metodologia tradicional utilizada para essas assembleias de bispos, entre as mais abertas e democráticas da Igreja Católica.

“Propor um evangelho sobre a família neste contexto é uma necessidade urgente”, ressalta o texto.

“Os problemas são muitos. Não é conveniente enterrar a cabeça na areia”, comentou o secretário-geral do Sínodo, o italiano Bruno Forte.

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Entre as questões, o Papa quer saber sobre o “convivência ‘ad experimentum’ (experimental), as uniões livres, sem o reconhecimento religioso ou civil, e sobre os separados e divorciados que se casam novamente.

Um conjunto de questões foram direcionadas exclusivamente ao casamento gay e aos filhos desses casais que correm o risco de não ver seus pais recebendo os sacramentos, apesar de serem católicos.

Baldisseri reconhece a “grande abertura” da Igreja ao permitir que os filhos de casais em situações irregulares – homossexuais, concubinato, divorciados – possam ter acesso à catequese e aos sacramentos.

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Um princípio que o papa Francisco defendia desde quando era arcebispo de Buenos Aires e que quer consultar todos os setores da instituição antiga.

Após o sínodo extraordinário de 2014 será realizado em 2015 um sínodo ordinário, que poderá adotar medidas revolucionárias para a Igreja Católica.

“Não sabemos o que vai acontecer. O debate foi aberto”, confessou Forte.

Veja o questionário sobre as famílias modernas enviado pelo Papa aos bispos

Casamento homossexual, aborto, adoção por casais do mesmo sexo, comunhão de divorciados, natalidade e família monoparental estão entre as questões enviadas pelo Vaticano aos bispos de todo o mundo.

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Dividido em nove partes e apresentado em forma de perguntas, o documento tem como objetivo avaliar a evolução da família católica contemporânea.

Abaixo algumas das 39 perguntas enviadas às conferências episcopais.

Casamentos difíceis

– “A coabitação ad experimentum é uma realidade pastoral relevante em sua igreja? É possível estimar uma percentagem?”

– “Separados e divorciados recasados são uma realidade pastoral relevante em sua igreja? É possível estimar uma percentagem?”

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– “Existem uniões livres, sem reconhecimento religioso ou civil? Existem dados estatísticos confiáveis?”

Uniões do mesmo sexo

– “Existe no país uma lei civil de reconhecimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo equiparadas, de algum modo, ao casamento?”

– “Qual a atitude das Igrejas ante o Estado civil, promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, e também ante as pessoas envolvidas neste tipo de união?”

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– “Qual a atenção pastoral é possível desenvolver em relação às pessoas que escolheram viver segundo este tipo de união?”

– “Em caso de união entre pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, qual o comportamento pastoral em vista da transmissão da fé?”

Sobre a educação das crianças em situação de casamento irregulares

– “Qual é, nestes casos, a proporção estimada de crianças e adolescentes, em relação aos filhos nascidos e criados em famílias regularmente constituídas?”

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– “Com que atitude os pais procuram a Igreja? O que pedem? Apenas sacramentos ou também a catequese?”

– “Como as igrejas locais tentam atender as necessidades dos pais dessas crianças?”

Sobre a abertura dos casais à vida

– “Qual é a consciência do valor moral sobre os diferentes métodos de controle de natalidade? Quais discussões poderiam ser sugeridas sobre este assunto do ponto de vista pastoral?”

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– “É aceita a mencionada doutrina moral? Quais são os aspectos mais problemáticos que dificultam a aceitação na grande maioria dos casamentos?”

– “Quais métodos naturais são promovidos por parte da Igreja local para ajudar os cônjuges a aplicar a doutrina da Humanae Vitae?”

– “Qual é a experiência a respeito desta questão na prática do sacramento da Penitência e da participação na Eucaristia?”

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– “Que contrastes podem ser encontrados entre a doutrina da Igreja e a educação cívica em relação a esta questão?”

Outros desafios e propostas

– “Existem outros desafios e propostas em relação aos temas tratados neste questionário que mereçam ser considerados como urgentes ou úteis?”