O papa Francisco homenageou neste domingo o bispo da Igreja Católica Siríaca Flavien Michel Melki, beatificado no sábado no Líbano, um século após sua decapitação nas mãos do Império Otomano, por fornecer “conforto, coragem e esperança” aos cristãos perseguidos no Oriente Médio.
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“Em um contexto de uma terrível perseguição aos cristãos, ele foi um defensor incansável dos direitos de seu povo, exortando todos a permanecer firmes em sua fé. Hoje, no Oriente Médio e em outras regiões do mundo, os cristãos também são perseguidos”, declarou o Papa durante o tradicional Angelus dominical na Praça de São Pedro, em Roma.
O pontífice também recordou os 71 imigrantes encontrados na última semana mortos em um caminhão na Áustria, e que eram, em sua maioria, refugiados que tentavam fugir da guerra na Síria. Ele chamou o ocorrido de uma “ofensa contra toda a humanidade”.
Milhares de sírios, mas também afegãos e iraquianos, fogem das guerras em seus países de origem e tentam chegar à Europa em um fluxo migratório sem precedentes. Milhares deles morreram nos últimos meses na perigosa travessia do Mediterrâneo ou pela rota dos Bálcãs.
Muitos cristãos, especialmente na Síria e no Iraque, também sofrem perseguição religiosa do grupo islamita sunita radical Estado Islâmico (EI).
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Neste contexto, Francisco pediu aos “legisladores e governantes” do Oriente Médio a garantir a liberdade religiosa, e “à comunidade internacional a fazer algo” para acabar com a violência dirigida contra os cristãos.
Em 8 de agosto, o Papa reconheceu oficialmente como um “mártir” da Igreja Católica o bispo Melki, nascido no século XIX no território que hoje é a Turquia e que foi assassinado por se recusar a renunciar à sua fé em 1915.
A beatificação ocorreu quatro meses após o Papa evocar pela primeira vez o termo “genocídio” para descrever o massacre dos armênios há 100 anos pelo Império Otomano, provocando a indignação da Turquia que sempre rejeitou essa descrição.
De acordo com o site especializado em informações religiosas ACI, monsenhor Melki foi nomeado sacerdote da Igreja Católica Siríaca no final de 1890. Durante os massacres de 1895, em que sua mãe foi assassinada, também sofreu com saques e um grande incêndio em sua igreja.
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Foi então nomeado sacerdote de Mardin e Gazarta, a atual Cizre, no sudeste da Turquia.
Durante os massacres contra as minorias armênias, assírias e gregas iniciadas a pedido das autoridades otomanas, o arcebispo se recusou a fugir, segundo o site.
Em 28 de agosto de 1915 ele foi preso juntamente com o sacerdote caldeu Jacques Abraham, e ambos os religiosos foram incentivados a se converter ao islamismo.
Diante de sua negativa, monsenhor Abraham morreu fuzilado, enquanto o monsenhor Melki foi espancado até perder a consciência e, posteriormente, decapitado.
De acordo com o ACI, ele é o segundo sacerdote mártir reconhecido “in odium fidei” (ou seja, pelo ódio de terceiros pela fé que ele tinha em Deus).
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A Turquia nega categoricamente que o Império Otomano tenha organizado o massacre sistemático da população armênia em seu território e rejeita o termo “genocídio” empregado pela Armênia, muitos historiadores e vinte países.
* AFP