Silvio Vieira, 51 anos, é garçom, mas é bom mesmo em fazer e soltar pipa. Em uma hora, ele diz que faz mais de 30 peças.
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– É o meu videogame – diz ele.
A paixão é tanta que contagiou as gerações seguintes. Quatro filhos e os quatro netos dominam a arte de empinar pandorga. “Nas antiga” ele já soltou pipa com cerol, mas a experiência ao longo dos anos apresentou um novo prazer.
– Além do risco que você oferece a quem está ao redor, tem mais uma coisa. Tu prepara a pipa, solta a linha, vê ela subir lá no alto, pra vir outro mané e cortar tua linha em cinco minutos. Então, ao invés de brincar ali por quatro horas, tu perde a sua pandorguinha querida em pouco tempo e acabou a brincadeira – explica.
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A conscientização sobre o perigo da linha afiada que provoca acidentes sérios e a vantagem de se manter no alto com o objeto voador, foi repassada aos filhos e netos ao longo dos anos.
Pedro, de 8 anos, é um dos filhos de Sílvio.
– Este aí soltou a primeira pipa com o cordão umbilical da mãe – brincou o pai.
O garoto é fogo. Durante evento da prefeitura de Florianópolis, no gramado do Parque de Coqueiros, neste sábado, a pandorga com o escudo do Figueirense era a que ia mais longe e mais alto.
– Sempre gostei de pipa, é uma das brincadeiras que eu mais gosto – diz o menino, sem tirar o olho do objeto voador.
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Com as duas mãos ele puxa a linha para embalar a pipa suavemente na corrente de ar. Mais uma içada e ela corre em horizontal, fugindo da linha de uma pipa vizinha.
– Este cara está me atrapalhando – fala com o olhar fixo no céu, sem saber quem administra a outra pandorga.
Fugir das linhas com cerol é uma das habilidades ensinadas pelo pai. Silvio conta que no bairro onde solta, é difícil achar alguém que não tenha a chamada linha chilena. Cordão que já vem afiado de fábrica e tem uso proibido no Brasil, segundo o bombeiro voluntário e professor Charles Schnorr.
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– Esta linha tem uma violência muito maior. Não temos um número preciso, mas são muitas ocorrências na Grande Florianópolis. Nas margens da Via Expressa, principalmente, não são raros os casos de motoqueiros atingidos pelo fio – conta o instrutor, que coordenou a campanha da Secretaria de Educação nesta última semana, intitulada “Pipa sem cerol também é legal!”.
Charles conta que, além dos acidentes de trânsito, são comuns as quedas de lages de meninos em busca da “pipa tombada” ou cortes no corpo durante a elaboração da substância que leva o nome de cerol.
A campanha “Pipa sem cerol também é legal” reuniu pais e crianças no Parque de Coqueiros. Além da apresentação da Banda do 63º Batalhão de Infantaria do Exército, o evento contou com brinquedos, pintura de rosto e revoada de pipas. Quem não tinha pandorga, passava na tenda da Equipe Busquee, multicampeã nos Festivais de Pipa da Grande Florianópolis.
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